02/12/2014 – Globo Rural On-line
Pesquisador alerta sobre normas para aplicação de fungicidas e diz que apesar dos avanços no setor de tratores, aviões também são alternativa importante para pulverização
POR MARINA SALLES | EDIÇÃO: VINICIUS ARRUDA
A banana é uma das frutas com maior demanda no mercado internacional. Somente atrás da laranja, ela já é a segunda fruta mais consumida no planeta, de acordo com dados de 2013 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Hoje, a média de consumo é de 11,4 kg por habitante por ano. Mas para dar conta da produção crescente, que já somou 7.176.066 toneladas em 2014 no Brasil, é preciso fazer bom uso dos equipamentos destinados ao combate de pragas que atacam a cultura.
Para Robert Hinz, fitopatologista e pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) de Santa Catarina – terceiro Estado com maior produção no país – a fiscalização das propriedades, o monitoramento das pragas e o domínio de tecnologias de aplicação de fungicidas são fundamentais nesse segmento. “São muitas as críticas à pulverização com aviões, mas o que as pessoas precisam entender é que existe uma maneira correta de realizar o procedimento. Uma leva de 200 produtores que usam aplicador costal pode fazer um estrago maior do que um avião, se não tiverem seu equipamento calibrado e em boas condições de uso.” Segundo ele, os tratores também são indicados e podem ser uma alternativa para produtores com menor área de cobertura e relevo que permita a circulação de máquinas.
Regras para aplicação – De acordo com o pesquisador, a regra geral é aplicar os fungicidas para combate da sigatoka-negra e amarela, pragas comuns no cultivo da banana, quando a temperatura ambiente estiver abaixo de 27°C, com ventos a menos de 10 km/h e umidade do ar superior a 60%. O alcance do avião também deve respeitar um limite de 30 metros e o do trator, de 20 metros.
Quanto à pulverização em si, a aplicação de produtos para combater essas pragas específicas deve ser de 40 gotas/ cm² com diâmetro de 250 a 300 micra. No caso de produtos sistêmicos a margem é um pouco maior, de 60 a 70 gotas/ cm² com diâmetro de 250 a 300 micra. “Todos esses cuidados ajudam a evitar a deriva”, afirma. A deriva é o deslocamento horizontal das gotas desde o seu ponto de lançamento até o solo ou as plantas, fenômeno que pode interferir no entorno da propriedade. Por isso, é importante se certificar de que nas proximidades não haja mananciais e vilarejos, para garantir a segurança do ecossistema e inibir a contaminação.
Monitoramento de pragas – Assim como a sigatoka-amarela, a sigatoka-negra causa manchas nas folhas mais novas da planta. No caso da primeira, manchas amarelas e, da segunda, marrons. De acordo com informações da Embrapa Mandioca e Fruticultura, os prejuízos causadas pela sigatoka–amarela são da ordem de 50% da produção, sendo que em microclimas muito favoráveis, podem atingir os 100%, uma vez que os frutos quando produzidos sem nenhum controle da doença não apresentam valor comercial.
Os sintomas da sigatoka-amarela são: diminuição do número de pencas por cacho, redução do tamanho dos frutos, maturação precoce dos mesmos no campo ou durante o transporte e enfraquecimento do rizoma. Em relação à sigatoka-negra o problema é ainda mais grave e implica no aumento significativo de perdas, que podem chegar a 100% da produção, onde o controle não é realizado. Devido à sua agressividade, nas regiões onde há ocorrência de sigatoka-negra, a amarela desaparece em cerca de três anos, alerta a Embrapa. A doença é mais severa nas variedades tipo prata e cavendish.
Robert Hinz explica que, como essas pragas têm um período de incubação muito curto, acompanhar a infestação e fazer a aplicação de produtos químicos no tempo certo é indispensável. “Em Santa Catarina, em cada cidade onde há associações de produtores de banana, instalamos um equipamento que se assemelha a um sinal de trânsito para controlar as mudanças climáticas. Assim, quando as condições estão favoráveis para o desenvolvimento da praga, ele fica verde e sinaliza a necessidade de aplicar fungicidas.”
Costal, trator e avião – Respeitando as normas, cabe ao produtor decidir qual equipamento usar com base nas características do relevo da propriedade, disponibilidade de espaço de manobra e área de plantio.
Adalberto Saretto, produtor de Jacinto Machado (SC), planta banana em uma fazenda de 150 hectares e há dois meses adquiriu um trator elétrico. O produtor explica que na região onde mora não há pistas de pouso próximas, o que inviabiliza o uso de aviões.
“A cultura da banana exige muito trabalho braçal, então para nós é muito bom contar com uma máquina dessas pelo menos para a pulverização. Além disso, com o costal fazíamos a aplicação de baixo para cima, sendo que com o trator o ganho é maior porque o produto é pulverizado sobre as folhas, de cima para baixo”, diz o produtor. Segundo Saretto quando há infestação de sigatoka as folhas secam e a planta não se desenvolve direito. “Ela reduz a capacidade de fotossíntese, porque a folha fica manchada e aí os nutrientes não chegam no caule.”