“Tivemos um inverno com horas de frio dentro da média, mas mal distribuídas, o que gerou preocupação sobre a reação das plantas”, explicou Ênio Ângelo Todeschini, engenheiro-agrônomo do Escritório Regional da Emater/RS de Caxias do Sul.
No entanto, a brotação e a fertilidade das videiras surpreenderam positivamente, com cachos de uva apresentando tamanho e peso acima do esperado, além de alto teor de brix (quantidade de açúcar). “Houve uma ótima brotação com o número de cachos por broto dentro da média e tamanho e peso dos cachos acima da média”, afirma o agrônomo.
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Clima favorável na floração
O clima favorável a partir de agosto, com chuvas regulares e temperaturas abaixo da média, beneficiou a fisiologia das plantas na época da floração resultando em uma sanidade excepcional das uvas. De acordo com levantamento da Emater/RS realizado em 55 municípios, a produção estimada de 860 mil toneladas é 5% superior a uma produção “normal” da região, que em 2024 colheu uma das menores safras das últimas décadas também devido às intempéries climáticas.
Deste total, 745 mil toneladas serão destinadas à indústria e 100 mil toneladas serão comercializados in natura, principalmente da variedade Niágara Rosada. Outras 15 mil toneladas são para o consumo doméstico dos agricultores. Com o bom desempenho, a colheita foi antecipada, a da uva Bordô, por exemplo, uma das cultivadas na região, deveria ser iniciada este mês, mas começou em janeiro.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2025/r/7/wZSDnlTFA0bWgvOI3e8g/whatsapp-image-2025-02-18-at-13.36.51-2-.jpeg)
Foi o que ocorreu na propriedade de Waldenor Menin, que cultiva a variedade Niágara Rosada com a esposa Marines Menin em Caxias do Sul. “Antecipamos a colheita em 15 dias este ano”, conta.
Embora ele não tenha sido diretamente afetado pelas intempéries climáticas, pois realiza o cultivo protegido, percebeu diferença na qualidade da safra deste ano. “Os cachos estão bem pesados e a uva está muito doce”, diz o viticultor, que deve colher uma safra superior a 20 mil quilos de uva este ano, ligeiramente superior ao volume de 2024. “No meu caso não houve quebra no ano passado porque meu cultivo é protegido”, diz.
Na propriedade de Menin a produção é uvas oscila pouco de um ano para outro em função do tipo de poda que o agricultor faz para não sobrecarregar muito as videiras.
Vinhos de alta qualidade
Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira da Vitivinultura (Uvibra), destacou a qualidade excepcional da safra, com uma maturação homogênea das uvas, prometendo vinhos de alta qualidade. “Se tivermos uma boa condição dentro das vinícolas, teremos uma das safras mais representativas qualitativamente da história, com a produção de grandes vinhos em 2025”, diz Panizzi.
Segundo ele, a produção de suco de uva também deve aumentar. Com a safra pequena em 2024, a produção deste item caiu, o que elevou consideravelmente os preços nas gôndolas dos supermercados. “Agora vamos conseguir regularizar os estoques dentro das vinícolas. Com isso, haverá uma equalização de preços no mercado, e esperamos que o consumo volte crescer como vinha ocorrendo até o ano passado”, estima o presidente da Uvibra.
A abundância da safra também trouxe desafios. Muitos viticultores estão entregando a produção para as indústrias sem saber o preço final, que pode ser inferior ao praticado no ano passado devido à maior oferta. “A velha lei da oferta e procura se impõe”, destaca Todeschini, mencionando que o preço mínimo estabelecido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de R$ 1,69 por quilo para a variedade Isabel. No ano passado, a cotação era de R$ 2,10 por quilo.
As uvas viníferas, no entanto, registram valorização. “Este ano houve aumento de 15% a 20% no preço dessas variedades, que são destinadas à produção de vinhos finos”, diz Panizzi.