17/10/2011 – TodaFruta – Prof. Dr. William Natale*
A fertilidade do solo pode ser definida como a capacidade que o solo apresenta de fornecer às plantas nele cultivadas, os elementos químicos e as substâncias capazes de proporcionar desenvolvimento vegetal e produzir colheitas compensadoras, quando os fatores do ambiente são favoráveis.
A fertilidade do solo está relacionada à nutrição mineral das plantas no que diz respeito ao poder de fornecimento de elementos essenciais às mesmas, em quantidades suficientes. É importante, porém, reconhecer a diferença entre o fornecimento de nutrientes e a absorção dos mesmos pelo vegetal. O primeiro é um fator ligado ao solo, que pode ser definido na ausência da planta, enquanto a absorção é o resultado da ação da planta sobre o poder que o solo tem de fornecer-lhe nutrientes. É óbvio, também, que a absorção é influenciada por muitos fatores biológicos, climáticos, físicos e químicos. Assim, ao se definir a fertilidade do solo surgem muitas dificuldades e, avaliá-la, é ainda mais complexo.
O objetivo básico da análise química é determinar a capacidade que o solo possui de fornecer nutrientes às plantas, utilizando-se “medidas” químicas que permitam conhecer o nível de nutrientes disponíveis, o que, através de adequada interpretação, diagnostica deficiências/toxidez, permitindo formular práticas de manejo para corrigi-las ou manter o mesmo nível de fertilidade.
O diagnóstico químico da fertilidade do solo, para ser adequado e confiável, deve apoiar-se em dois aspectos essenciais:
a) O uso de soluções extratoras da fração disponível dos nutrientes, ou seja, o método químico de extração de um elemento deve obter, a fração que está verdadeiramente disponível à planta, no curso do seu ciclo de vida;
b) A utilização de níveis críticos confiáveis: a possibilidade de interpretar de forma adequada os valores obtidos em uma análise química supõe classificar o nível de disponibilidade do elemento como alto, médio ou baixo, por exemplo, o que implica no uso de valores críticos para cada nutriente e para cada solução extratora.
Estas duas premissas do diagnóstico são obtidas através de extensos programas de pesquisa, em diferentes tipos de solos e cultivos, os quais constituem o que é conhecido como calibração da análise.
Algumas vantagens da análise química de solo são:
Com relação à amostragem de solo para a realização da análise, é preciso seguir alguns passos simples, mas, imprescindíveis, para que os resultados sejam representativos da área a ser avaliada. Desse modo, a amostragem bem feita é fundamental para ter sucesso. Na implantação dos pomares de goiabeira o procedimento é o mesmo usado para as culturas anuais, ou seja, amostrar toda área de forma representativa. Nos pomares em produção é importante amostrar a região da projeção da copa das plantas, que é a área que normalmente recebe os fertilizantes. Devem-se coletar vinte pontos em cada talhão homogêneo (mesma cultivar, idade, produtividade, tipo de solo, manejo e adubação). A amostra deve ser encaminhada ao laboratório, onde será submetida ao processo analítico (extração) que permite a determinação das concentrações de nutrientes e também da acidez.
Com o resultado da análise de solo nas mãos, o passo seguinte é saber quanto de calcário e de fertilizantes aplicar no pomar. A adubação, na verdade, procura corrigir a diferença que existe entre o que a goiabeira exige e o que o solo pode fornecer, estando incluídas nesse cálculo as perdas normais que ocorrem durante a lavoura devido à água da chuva, erosão e, etc. Assim, devem-se comparar os resultados com as tabelas de adubação (baseadas em pesquisa), que indicarão as quantidades de nutrientes que deverão ser aplicadas em cada caso.
A correção da acidez, através da prática da calagem, é fundamental, pois, a maioria dos solos brasileiros tem reação ácida, o que prejudica o desenvolvimento das plantas. Baseado na análise de solo, pode-se calcular a quantidade de corretivo a aplicar. A saturação por bases indicada para a goiabeira é 60%, considerando uma concnetração de magnésio mímima de 9 mmolc dm-3. Antes da implantação do pomar, a dose de calcário deve ser aplicada em área total e incorporada na camada 0-30 cm. Com relação à adubação, apenas para exemplificar, faremos o cálculo para um pomar de goiabeiras adulto, cuja análise de solo revelou concentrações de fósforo e potássio no solo de 5 mg dm-3 e 1,6 mmolc dm-3, respectivamente. Supondo que a produtividade da área está próxima de 50 t ha-1 e, que o teor foliar de nitrogênio é de 24 g kg-1, arecomendação seria aplicar 4 kg por planta da fórmula 20-5-10. Como cada pomar tem uma exigência diferente em termos de nutrientes, recomenda-se consultar o III Simpósio Brasileiro da Cultura da Goiaba, realizado em Jaboticabal em 2009, para maires esclarecimentos.
Diagnose foliar – Conforme foram sendo conhecidas as funções dos órgãos das plantas, bem como a importância dos diferentes nutrientes no metabolismo vegetal, criou-se uma base científica para a análise de tecidos. A folha, por apresentar normalmente a atividade fisiológica mais intensa da planta, é utilizada para análise. Ademais, a elaboração de substâncias para o crescimento e frutificação dos cultivos reside essencialmente nas folhas e, por isso, seu conteúdo deverá refletir, melhor que os outros órgãos, o estado nutricional da planta.
Avaliar o estado nutricional consiste simplesmente em fazer uma comparação entre um padrão e uma amostra. O padrão é uma planta ou conjunto de plantas “normais” do ponto de vista da nutrição. Considera-se normal uma planta que, tendo em seus tecidos todos os elementos em quantidades e proporções adequadas, tem alta produtividade.
A diagnose foliar é um método de avaliação do estado nutricional das culturas em que se analisam determinadas folhas, em períodos definidos da vida da planta. De outro ponto de vista, a diagnose foliar pode ser considerada como uma avaliação da fertilidade do solo, usando-se a planta como solução extratora.
O método baseia-se na existência de uma relação entre os teores de nutrientes disponíveis no solo, em certas folhas bem definidas, e a grandeza da produção.
A diagnose foliar presta-se, principalmente, para:
Ao empregar-se o método, é importante lembrar que a composição das folhas varia com a cultura, a idade, as práticas agrícolas, a posição no ramo, a sanidade quanto a pragas e moléstias, além de efeitos ambientais. Daí, a necessidade de folhas “bem definidas”. Conforme mencionado anteriormente, para pomares de frutas, a análise foliar é uma ferramenta importante. No exemplo acima, da goiabeira, fizemos a suposição de que o teor de nitrogênio nas folhas era de 24 g kg-1, sendo, pois, fundamental para a recomendação de adubação. Entretanto, para diagnosticar esse teor de nutriente (e dos outros também) é necessário realizar a análise foliar e, a amostragem das folhas é a etapa mais importante. Para cada cultura existe uma forma correta de amostragem para realizar a análise. No caso da goiabeira, deve-se coletar o terceiro par de folhas, a partir da extremidade do ramo, em número de 25 pares por talhão homogêneo, à época de pleno florescimento da cultura. Essas folhas devem ser encaminhadas imediatamente ao laboratório, onde serão lavadas, secas, moídas e submetidas à digestão, que consiste em liberar os nutrientes das folhas para sua determinação em equipamento específico. Os resultados, a exemplo da análise de solo, são utilizados conjuntamente para realizar a recomendação de fertilizantes.
Em resumo, pode-se dizer que, quando utilizadas de modo correto, a análise de solo e de folhas permite recomendações de calagem e adubação que melhoram a produtividade, a qualidade dos produtos colhidos e garantem excelente retorno econômico ao agricultor.
* Departamento de Solos e Adubos. FCAV/Unesp – campus Jaboticabal. E-mail: natale@fcav.unesp.br
O TodaFruta agradece a valiosa colaboração do autor.