07/04/2016 – Globo Rural On-line
Produção de 25 toneladas ao ano é cultivada por apenas seis agricultores e atrai a atenção de novos parceiros
POR BRUNA DE ALENCAR, COM VINICIUS GALERA
Trazidas de países de clima temperado, as frutas vermelhas têm ganhado destaque no mercado brasileiro. Simples de produzir e de alto valor agregado, a atividade tem chamado a atenção de agricultores de Bocaina de Minas (MG), onde a produção anual corresponde a 25 toneladas. Embora recente, o cultivo é desenvolvido por apenas seis agricultores no município, mas já contribui para consolidar a atividade na região. Entre as principais espécies cultivadas estão a amora preta, framboesa e mirtilo.
Em busca de uma vida mais calma e próxima da natureza, o casal carioca Maria Luiza e Romero trocou, em 2014, a vida agitada de quase duas décadas dedicadas ao setor privado no Rio de Janeiro pela calmaria da pequena propriedade no sul do Estado mineiro, onde características geográficas como altitude e clima frio são favoráveis para o plantio. Atualmente, eles são os principais produtores do município. Com um detalhe: tudo é orgânico e certificado.
“Compramos a propriedade em 2010, mas só mudamos de atividade depois de buscar muitas informações sobre fruticultura. Para todas as possibilidades fizemos campos experimentais: oliveira, physalis, framboesa, amora, morango, mirtilo. Depois das primeiras safras optamos pela amora preta e o mirtilo”, explica Maria Luiza.
A amora preta é a campeã de vendas. Com apenas dois hectares dedicados ao cultivo, os cariocas produzem aproximadamente 20 toneladas por ano e comercializam as frutas principalmente para restaurantes e indústrias dos Estados do Rio e São Paulo.
De olho no aumento da demanda, Maria Luiza e Romero financiaram cerca de R$ 100 mil do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para investir nas instalações para o cultivo abrigado de framboesas, na construção de uma unidade de processamento de geleias e em novos equipamentos. “Ainda não obtivemos o retorno do investimento mas temos a expectativa de conseguir a partir da safra de 2016/2017. Quando a casa de processamento estiver finalizada, poderemos agregar valor às frutas, lançar novos produtos e consolidar os clientes alvo”, explica.
No sítio Nova Vida, de Maria Luiza e Romero, a ordem é muito cuidado desde o plantio até a entrega para o consumidor. A colheita é feita manualmente por dez funcionários. Em seguida, as frutas são selecionadas, higienizadas e congeladas separadamente. Após a venda, é necessário o transporte refrigerado até o comprador. Tudo isso para garantir que as berries não sejam danificadas. Entre os principais custos de produção estão os gastos com transporte e energia elétrica, justificado pelo resfriamento e trânsito dos congelados.
Xô, agroquímicos!
Vira e mexe surge alguma polêmica envolvendo a utilização de pesticidas em larga escala. As razões para o uso desses produtos são variadas e vão desde a necessidade de produzir em grandes quantidades até o clima tropical, que favorece o aparecimento de pragas. Por isso, o agricultor que não opta pelo uso de produtos químicos acaba tendo muito mais trabalho com o manejo, o que encarece o valor final das frutas.
Para Romero, os alto custo dos alimentos orgânicos não inibe a clientela, pelo contrário. Muitos dos consumidores preferem incentivar o comércio local comprando alimentos frescos e pouco industrializados. “Você tem que pensar como certos produtos são tão baratos apesar de ultraprocessados. Como pode um peixe congelado asiático, que passa por toda uma cadeia de processamento e transporte até chegar aqui, ser mais barato que um peixe local? Se isso acontece, temos que desconfiar.”
Romero sabe que hoje o consumidor está cada vez mais consciente. “Ele é nosso maior aliado, se importa com o que sua família está ingerindo e também com o impacto que a produção dos alimentos está gerando ao meio ambiente”, explica o carioca.
Todos os frutos são certificados pela Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (Abio), sendo realizadas reuniões mensais e vistorias periódicas com a presença dos produtores e pessoal da certificadora.
Unir para crescer juntos
Com o aumento da demanda, Romero sonha com a criação de uma cooperativa ou associação de agricultores. “Nós incentivamos que os vizinhos produtores entrem para o ramo, buscamos parceria fornecendo as mudas que podem ser entregues gratuitamente com a formalização de um acordo”, conta o produtor.
Os projetos de expansão não param. Com o crescimento do números dos produtores na região, Romero e os demais agricultores aguardam o apoio para organizar uma festa anual das frutas vermelhas, evento típico que promete impulsionar o comércio, o turismo e empregabilidade no município. “Trabalho não falta. Além de expandir o cultivo, o que implica em mais gente dedicada no campo, precisamos de quem que faça o serviço de vendas nos grandes centros e de pessoas que trabalhem na parte de logística de armazenamento e entrega dos pedidos.”
Foto: Romero Martins