21/06/2011 – TodaFruta
No Brasil, a figueira (Ficus carica L.) é cultivada basicamente com o emprego de uma única variedade, a Roxo de Valinhos, caracterizada por ser uma variedade do tipo comum, com grande valor econômico, rústica, de elevado vigor e produtividade, além de apresentar boa adaptação a podas drásticas (PENTEADO, 1999).
O figo é uma fruta muito apreciada na forma ?in natura? e principalmente, na forma de compota, utilizando-se o figo verde para a composição da mesma, em escala industrial ou na agroindústria familiar (CAETANO et al., 2005).
A colheita brasileira do figo concentra-se de novembro a março, período de entressafra da produção da fruta fresca no Hemisfério Norte e nos países do Mercosul. Assim, são amplas as possibilidades de exportação, pois o produto brasileiro entra no mercado internacional a partir de dezembro, logo após a safra dos países mediterrâneos(SILVA, 2000).
As razões para os bons resultados produtivos e comerciais obtidos no País com a figueira, que se constituiu na atualidade como uma das mais importantes frutíferas de clima temperado cultivada, está estreitamente ligada a sua larga adaptação climática e rusticidade. Outra razão são os fins de aproveitamento agronômicos dos subprodutos, bem como no aproveitamento das folhas na fabricação de bebidas fermentadas, ramos como propágulos e a extração da ficcina, enzima proteolítica com propriedade hidrolisante da proteína (PIO et al., 2007).
De acordo com Bezerra et al. (2002), a figueira pode ser propagada por enxertia, estaquia e cultura de tecidos. A enxertia é uma das formas de propagação das frutíferas, e em relação à cultura da figueira, pode ser um processo eficiente para a formação rápida de figueiras, resultando na produção de grande quantidade de mudas com significativa redução de tempo, proporcionando produções satisfatórias.
Com o objetivo de avaliar o desenvolvimento de porta-enxertos na produçãoe qualidade dos frutos da figueira variedade Roxo de Valinhos, realizou-se um estudo no município de Selvíria (MS), no período de maio de 2008 a junho de 2009. As plantas de figo Roxo de Valinhos estavam sobre os seguintes porta-enxertos: 1- Porta-Enxerto Roxo de Valinhos ISA; 2- Porta-Enxerto Palestino;3- Porta-Enxerto Turco; 4- Porta-Enxerto Pingo de Mel ; 5- Porta-Enxerto Roxo de Valinhos. Foi utilizada a enxertia tipo garfagem fenda cheia.
Com relação aos tratos culturais, foram realizados os normalmente utilizados na cultura no estado de São Paulo, tais como uso de cobertura morta; controle de pragas e doenças, destacando-se a broca e a ferrugem através de produtos registrados para cultura, irrigação localizada, tipo gotejamento utilizando mangueira perfurada a cada 30 cm; e adubação através da análise química de solo e da recomendação de Raij et al. (1996).
As mudas enxertadas foram plantadas no campo em 21/05/08 e conduzidas em haste única até a altura de 50 cm. A partir desta altura, aproximadamente três meses depois do plantio, efetuou-se a poda de ramificação para forçar as brotações laterais e, quando essas ramificações laterais atingiram 10 cm, foram selecionados três ramos mais vigorosos (pernadas) e bem distribuídos, de forma a manterem entre si um ângulo de 120 graus, sendo os demais eliminados. Esses brotos formaram a base da copa da planta, a uma altura de 30 a 50 cm do solo.
A colheita dos frutos foi realizada quando eles estavam com coloração verde, inchados e com polpa bem firme.
Após a colheita, os frutos foram contados, pesados e foram feitas as medições de comprimento e diâmetro. Foram analisadas as seguintes características: número médio de frutos por planta, produção de frutos por planta (kg), massa do fruto (g), produção por área (kg/ha), diâmetro e comprimento dos frutos (cm).
Tabela 1.Valores Médios para figos verdes nas variáveis número de frutos por planta (NFP), produção de frutos por planta (PFP), massa do fruto (MF), produção por área (kg/ha), diâmetro médio dos frutos (DMF) e comprimento médio dos frutos (CMF), para a variedade Roxo de Valinhos cultivado sobre cinco porta-enxertos. Selvíria-MS, 2009.
Variedades de Porta-Enxertos | NFP
|
PFP
(kg) |
MF
(g) |
Produção
(kg/ha) |
DMF
(cm) |
CMF
(cm) |
Roxo de Valinhos ISA | 22 b | 0,440 b | 20 a | 1,173 b | 3,3 a | 3,9 a |
Palestino | 32 a | 0,611 a | 19,1 a | 1,629,0 a | 3,3 a | 4,1 a |
Pingo de Mel | 20 b | 0,382 b | 19,1 a | 1,018 b | 3,5 a | 4,3 a |
Turco | 37 a | 0,695 a | 18,8 a | 1,854 a | 3,8 a | 4,2 a |
Roxo de Valinhos | 30 b | 0,600 a | 20 a | 1,599 a | 3,4 a | 4,2 a |
Porta-enxertos | 4,15* | 5,77** | 0,20 ns | 5,79** | 1,96 ns | 1,05ns |
CV (%) | 25,06 | 19,61 | 13,97 | 21,1 | 13,11 | 6,33 |
Médias seguidas por mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo Teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade.
** Significativo a 1% de probabilidade, * Significativo a 5% de probabilidade, ns Não Significativo
Na Tabela 1, estão apresentados os valores de número de frutos/planta, produção de frutos por planta, massa do fruto, produção por área, diâmetro e comprimento médio dos frutos. Constatou-se diferença estatística significativa para número de frutos/planta, produção de frutos por planta e produção por área.
Com relação a variável número de frutos/planta, pode-se observar que as variedades de porta-enxerto Palestino e Turco apresentaram 32 e 37 frutos/planta respectivamente, sendo superior ao Roxo de Valinhos. Gonzaga Neto et al. (1993), trabalhando com avaliação de variedades de figueira, obteve resultados semelhantes (40 frutos/planta) para as mesmas variedades e 3 ramos produtivos.
Para produção de frutos por planta, observa-se que na variedade de porta-enxerto Turco obteve-se a maior produção (0,695 Kg/planta) e não diferiu do Palestino e Roxo de Valinhos. Valor este superior ao obtido por Vieira et al. (2008), trabalhando na produção de figo verde com a variedade Roxo de Valinhos em 3 ramos produtivos (0,603 Kg/planta).
Quanto a massa de frutos verificou-se que, a variedade Roxo de Valinhos Pomar apresentou a maior massa (20 g), porém não diferiu dos demais tratamentos. As médias variaram de 18,8 a 20 g (Tabela 1).
Para variável produção por área, notou-se que as variedades Palestino e Turco apresentaram as maiores produções com 1.629 e 1.854 Kg/ha, respectivamente, um resultado satisfatório, evidenciando que as condições edafoclimáticas contribuíram para o bom desenvolvimento das plantas.
As médias de diâmetro de frutos variaram de 3,3 a 3,8 cm e comprimento de 3,9 a 4,3 cm, valores superiores aos relatados por Campagnolo et al. (2009), onde descreve frutos com comprimento de 3,7 cm e diâmetro de 2,6 cm.
Com base nos estudos realizados concluiu-se que,os porta-enxertos Turco e Palestino foram os melhores, pois aumentaram número de frutos por planta, produção de frutos por planta (Kg) e produção por área (kg/ha) em relação ao Roxo de Valinhos e não afetaram o tamanho dos frutos (comprimento e diâmetro). A utilização de plantas enxertadas é viável para a figueira variedade Roxo de Valinhos, pois proporciona frutos de qualidade.
LITERATURA CONSULTADA
BEZERRA, J. E. F. et al. Propagação de genótipos de pitangueira (Eugenia uniflora L.) pelo método de enxertia de garfagem no topo em fenda cheia.Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.24, n.1, p.160-162, 2002.
CAETANO, L. C. S. et al. Efeito do número de ramos produtivos sobre o desenvolvimento da área foliar e produtividade da figueira. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.27, n.3, p.426-429, 2005.
CAMPAGNOLO, M. A. et al. Sistema desponte na produção de figos verdes ?Roxo de Valinhos?. Revista Ciência Rural, Santa Maria, v.40, n.1, p.22-25, 2009.
GONZAGA NETO, L. et al. Avaliação de variedades de figueira (Fícus carica L.). Revista de Ciências Agronômicas, Campinas, v.33, n.4, p.439-445, 1993.
PENTEADO, S. R. O cultivo da figueira no Brasil e no mundo. In: CORRÊA, L. S.; BOLIANI, A. C. (Ed.). Cultura da figueira: do plantio à comercialização. Ilha Solteira: FAPESP, 1999. p.1-16.
PIO, R. et al. O cultivo da figueira.Jaboticabal, 2007. Disponível em: . Acesso em: 27 mar. 2007.
RAIJ, B. van. et al. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1996. 285p. (Boletim técnico, 100).
SILVA, C.R. Produção de figueira. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.8, n.102, p.30, 2000.
VIEIRA, A. et al. Efeito de diferentes épocas de poda na produção de figo verde, na região das Baixadas Litorâneas do estado do Rio de Janeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 20., 2008, Vitória. Frutas para todos: estratégias, tecnologias e visão sustentável. Vitória: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 2008.
O TodaFruta agradece a colaboração dos autores.
* UNESP-Ilha Solteira -SP. edicleia.aparecida@hotmail.com