“Agrotóxico banido na UE dizima milhões de abelhas por mês no Brasil”. Esse é o título da matéria assinada pela repórter Alexa Salomão, publicada no dia 2 de outubro pela Folha de S. Paulo, apresentando um detalhado levantamento dos danos causados por esse inseticida, que tem uso proibido em mais de 30 países, incluindo os integrantes da União Europeia, África do Sul, Vietnã e, nas Américas, Costa Rica, Uruguai e, mais recentemente, Colômbia. O estudo revela que seu uso está associado a todas as mortes em massa de abelhas registradas nos últimos anos no País.
Segundo o levantamento feito pela Folha de S. Paulo, o fipronil dizimou ao menos 180 milhões de abelhas no Brasil somente em 2023.As mortes foram registradas nos estados de Mato Grosso, Bahia e Minas Gerais, em diferentes períodos do ano. Já no Mato Grosso do Sul, a crescente morte em massa de abelhas também foi associada ao pesticida. De 2017 a 2021, nas amostras de insetos mortos, a presença do fipronil cresceu de 30,5% para 66,6%. Em 2022, esse percentual subiu para 85,7%. Outros ingredientes ativos utilizados em inseticidas são letais para as abelhas, como os neonicotinoides (acetamiprido, imidaclopride e tiametoxam) e os pertencentes ao grupo químico pirazol. Igualmente prejudiciais são herbicidas como glifosato e 2,4-D.
O fipronil, conforme esclarece o professor Ricardo Orsi, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP/Botucatu, atua no sistema nervoso central dos insetos, provocando uma superexcitação nos músculos e nervos. “É implacável como agente da morte aguda”, enfatiza, acrescentando: “Inseticida sistêmico de ação prolongada e agressiva, é usado em diferentes culturas, o que explica a ocorrência de contaminações de abelhas em vários pontos do País”.
A foto acima, extraída do site “Sem Abelhas, Sem Alimento”, foi tirada no Rio Grande do Sul em 2018. Nesse ano, cerca de 200 colmeias, com uma população estimada de 12 milhões de abelhas, foram dizimadas nos últimos dias de dezembro, na Linha Progresso, localizada no município de São José das Missões. Seis famílias de apicultores tiveram perda total em suas colmeias, ficando sem uma de suas principais fontes de renda.
O papel lesivo do fipronil nas abelhas não é novidade. Em 2021, de acordo com o portal do governo do Rio Grande do Sul, esse ingrediente ativo estava presente na maioria dos casos de mortandade de abelhas no estado. No período de janeiro a abril daquele ano, técnicos da Divisão de Insumos e Serviços Agropecuários da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), coletaram 18 amostras de colmeias que registraram mortes em massa, algumas com perdas de 100% das abelhas. O material recolhido foi enviado ao Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que verificou a presença de fipronil em 77% das amostras.
Em setembro de 2021, Santa Catarina foi o primeiro estado brasileiro a restringir o uso de produtos à base de fipronil. A proibição foi determinada em portaria da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC), sustentada por análises laboratoriais custeadas pelo Fundo de Reconstituição de Bens Lesados (FRBL), presidido pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). O Paraná caminha no mesmo sentido, pois desde 2022 está em tramitação na Assembleia Legislativa do estado projeto de lei com igual finalidade.
Com mais de 20 mil espécies pelo mundo, as abelhas são polinizadoras essenciais para a biodiversidade e para a produção de alimentos. Saiba mais sobre esses insetos, quais riscos eles correm e como preservá-los, lendo a matéria “Abelhas: por que são importantes e como podemos evitar seu desaparecimento”, publicada em maio de 2022 pela National Geographic Brasil, com acesso pelo link https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2022/05/abelhas-por-que-sao-importantes-e-como-podemos-evitar-seu-desaparecimento