Uma equipe de pesquisadores, liderada por cientistas da Rutgers University-New Brunswick, analisou a produção agrícola de mais de 1.500 campos em seis continentes. Eles identificaram que a falta de polinizadores está limitando a produção de alimentos nutritivos como frutas, vegetais, nozes e leguminosas. O estudo aponta que entre um terço e dois terços das fazendas não estão produzindo o volume esperado devido à ausência de polinizadores.
Os pesquisadores destacam que essa limitação na produção agrícola, causada pela insuficiência de visitas de insetos polinizadores, é um fenômeno conhecido como “limitação por polinizadores”. A queda na abundância de insetos, especialmente abelhas, tem gerado preocupações globais. O estudo ressalta que os déficits de rendimento agrícola devido à falta de polinização são amplamente disseminados.
Katie Turo, coautora do estudo e pesquisadora pós-doutoral no Departamento de Ecologia, Evolução e Recursos Naturais da Rutgers, afirmou que os resultados são motivo tanto de preocupação quanto de esperança. Segundo ela, embora os déficits de rendimento sejam evidentes, investimentos contínuos em manejo e pesquisa de polinizadores podem melhorar a eficiência dos campos agrícolas existentes, atendendo às necessidades nutricionais da população global.
Para chegar a essas conclusões, os cientistas realizaram uma análise estatística de mais de 200.000 “visitas de abelhas” a flores de culturas agrícolas. O estudo utilizou um dos mais abrangentes bancos de dados sobre polinização de culturas, compilado ao longo de três décadas por pesquisadores de diversas regiões, incluindo Europa e América do Sul.
A polinização por abelhas e outros animais é crucial para a produção de alimentos densos em nutrientes, como frutas, vegetais, nozes e leguminosas. Esses alimentos são importantes tanto para a saúde quanto para a cultura alimentar em diversas partes do mundo.
A polinização é o processo de transferência de pólen da parte masculina para a parte feminina da flor, permitindo que a planta seja fertilizada e produza sementes, frutos e novas plantas. Esse processo pode ser facilitado pelo vento, água ou por polinizadores como abelhas e outros insetos. Segundo estudos anteriores, polinizadores sustentam a reprodução de cerca de 88% das plantas com flores no mundo e 76% das principais culturas alimentares globais. As abelhas são consideradas os polinizadores mais eficazes, pois visitam mais flores e carregam mais pólen do que outros insetos.
Os cientistas de Rutgers identificaram que as culturas de mirtilo, café e maçã são as mais afetadas pela limitação por polinizadores. Déficits de rendimento foram observados em 25 culturas diferentes e em 85% dos países avaliados.
Apesar do cenário preocupante, Turo afirmou que os déficits de rendimento atuais podem ser mitigados com um aumento realista nas visitas de polinizadores. O estudo revelou que, em alguns casos, o número de abelhas que visitavam os campos já era suficiente. A chave estaria em melhorar a consistência das visitas entre os campos de alto e baixo rendimento.
Rachael Winfree, professora do Departamento de Ecologia, Evolução e Recursos Naturais da Rutgers e autora sênior do estudo, destacou a importância dos resultados para a segurança alimentar global. Segundo ela, ao prestar mais atenção aos polinizadores, os agricultores poderiam tornar seus campos mais produtivos.
O artigo científico está disponível em Nature Ecology & Evolution https://www.nature.com/articles/s41559-024-02460-2.
Fonte: Revista Cultivar
Diferentes espécies possuem padrões específicos de movimento e preferências por variedades
Pesquisadores apontam que identificar polinizadores, origem do pólen e escolha das cultivares são determinantes para a produtividade das culturas dependentes e para a qualidade dos produtos. Práticas de manejo que considerem esses fatores podem contribuir para o sucesso comercial das culturas e para a melhoria da saúde dos consumidores.
Além disso, é importante entender melhor o comportamento específico de cada espécie de polinizador e como a composição e distribuição das cultivares podem influenciar a polinização. Isso pode levar a um aumento no valor nutricional e comercial dos produtos, beneficiando tanto produtores quanto consumidores.
O desenho inteligente das lavouras e do entorno, promovendo movimentos eficazes dos polinizadores, também se mostra essencial para atingir esses objetivos.
Estudos recentes mostram que o movimento dos polinizadores entre plantas e a escolha das cultivares são fatores determinantes não apenas para aumentar a produtividade, mas também para assegurar a qualidade dos frutos. Entender esses processos é fundamental para garantir o sucesso comercial das lavouras e promover benefícios à saúde dos consumidores.
Estudos mostram que a distribuição espacial das cultivares e a identidade dos polinizadores podem influenciar a qualidade da colheita. Isso ocorre porque diferentes espécies de polinizadores possuem padrões específicos de movimento e preferências por determinadas cultivares.
Em uma espécie como a macieira, por exemplo, há grande variação na composição das comunidades de polinizadores que visitam diferentes cultivares. Assim, a distribuição adequada das plantas e a manutenção da diversidade de polinizadores são fundamentais para otimizar a qualidade dos frutos produzidos.
A polinização é um processo dinâmico, com alterações espaço-temporais na composição das comunidades de polinizadores. Isso significa que cada cultura pode ser visitada por diferentes tipos de polinizadores ao longo do tempo. Para o sucesso da polinização, é necessário que a quantidade certa de pólen seja depositada nos órgãos femininos da flor.
A origem do pólen também tem impacto significativo na qualidade dos frutos. O fenômeno chamado de xênia refere-se ao fato de que a identidade do pólen influencia a qualidade do fruto, algo que depende do tipo de polinizador envolvido.
Pesquisadores destacam que pouco se sabe sobre o valor econômico das diferenças nutricionais mediadas pela polinização. As respostas hormonais das plantas ao pólen e as vias bioquímicas que afetam a qualidade dos frutos também são pouco estudadas. Uma das alternativas para garantir a polinização adequada é a polinização manual, eficaz em certos casos, mas extremamente trabalhosa e onerosa.
Para promover uma maior qualidade das culturas, os pesquisadores sugerem que futuras pesquisas se concentrem em aspectos como o valor nutricional dos produtos oriundos da polinização animal, o papel das espécies de polinizadores e a composição das comunidades de polinizadores, além da distribuição espacial das cultivares.
O aprimoramento da atratividade das flores para polinizadores, através do melhoramento genético, também pode aumentar a frequência de visitas e, assim, melhorar a qualidade dos frutos.
Mais informações podem ser obtidas em doi.org/10.1016/j.tplants.2024.10.004
Fonte: Revista Cultivar