(Entrevista realizada em 17/12/2015)
O abacaxizeiro é plantado na maioria dos casos em linhas duplas, em espaçamentos de 90 x 30 x 30, até 150 x 50 x 30 cm. O número de linhas duplas tem variado de 6 a10 no Brasil, contra 28 no Havaí e na Costa Rica. A primeira distância mencionada (90 e 150) marca a separação entre as linhas duplas; a segunda (30 e 50), a separação entre linhas; e a terceira (30 e 30), a distância entre plantas na linha. Essas linhas são dispostas entre os carreadores e, em muitos casos, são cobertas com plástico. É justamente sobre essa técnica que realizamos esta entrevista com o Eng.º Agrº Edson L. Damaglio, gerente Técnico Comercial da empresa Electro Plastic.
TodaFruta – O plástico utilizado no cobrimento das linhas duplas tem uma especificação própria?
Electro Plastic – O material de melhor resultado é o Agroplás Mulching MPP (mulching preto e prata), dupla face, de polietileno virgem (sem adição de materiais reciclados na sua produção) e protegido com aditivos anti U.V., para assegurar sua durabilidade no campo.
TodaFruta – Em muitos casos, a distância entre plantas vem marcada no plástico, o que possibilita uma homogeneidade de plantas por área. Isso tem acontecido no Brasil?
Electro Plastic – Sim. Em algumas regiões já estamos inovando e fornecendo o MPP perfurado, o que auxilia na padronização do plantio e também no rendimento dessa operação, gerando redução de mão de obra e dos custos de plantio.
TodaFruta – Sabe-se que a cobertura do solo possibilita que a diferença entre as temperaturas noturna e diurna oscile menos do que em áreas desprotegidas. Nos campos de demonstração utilizados pela empresa, quais essas variações?
Electro Plastic – Buscando evitar esse estresse térmico, tanto na área radicular quanto na superfície, é que recomendamos o Mulching dupla face MPP. Em nossas pesquisas de campo, observamos variações de aproximadamente 20°C entre os diferentes materiais. Essa variação de temperatura influencia diretamente no metabolismo e consequentemente na capacidade produtiva da planta. A temperatura noturna também é influenciada, uma vez que o mulching evita a perda de temperatura no final do dia, diminuindo a amplitude térmica.
TodaFruta – Um problema na utilização desta tecnologia, relatada por alguns produtores, é a colocação do plástico na linha. A Electro Plastic tem utilizado máquinas para esse plantio? Como é feita essa operação?
Electro Plastic – A colocação do mulching é uma prática muito simples, que pode ser realizada manualmente ou com máquinas, já disponíveis no mercado. A colocação se resume em fixar o mulching na parte inicial das linhas, com abertura de uma pequena valeta e prendendo com terra. Após isso, a máquina desenrola a bobina, ao mesmo tempo em que já vai colocando terra nas laterais. No final da linha, prende-se novamente a ponta da bobina com terra. O único cuidado que se deve ter é de nunca exceder a 1% o estiramento do mulching, para evitar diminuir sua vida útil.
TodaFruta – Hoje o Brasil enfrenta problemas com a disponibilidade de água. Quais os resultados obtidos em plantios com plástico e sem plástico, em lavouras não irrigadas?
Electro Plastic – A economia de água é um dos fatores que mais chamam a atenção na técnica do mulching. Em média, consegue-se uma redução de 50% no uso de água e consequentemente nos custos da irrigação. Mas já chegamos a obter 70% de economia, quando adicionado o sistema de irrigação por gotejamento.
TodaFruta – No Brasil, é mais comum lavoura com apenas uma colheita. Como fica o aproveitamento do plástico para um segundo plantio?
Electro Plastic – O material é utilizado para um ciclo de cultivo, que chega a dezoito meses e ainda se estende por mais alguns meses, para obtenção das mudas.
TodaFruta – É desejável que as lavouras sejam o mais homogêneas possível, o que se consegue, dentre outros fatores, pela uniformidade das mudas para o plantio. Nos campos de demonstração da Electro Plastic, o que se tem observado com relação à homogeneidade das lavouras?
Electro Plastic – Muito se tem ganhado nesse sentido. No primeiro momento, pela redução drástica de plantas mortas, em média dez vezes menor, reduzindo assim os custos com replantio. Além disso, dada a manutenção da umidade do solo e menor variação de temperatura, as mudas enraízam mais rapidamente, o arranque inicial e o desenvolvimento vegetativo são muito superiores ao cultivo convencional, mesmo comparado com áreas com irrigação, proporcionando uma lavoura mais uniforme, vigorosa e resistente ao estresse hídrico. Isso tudo colabora para a precocidade do ciclo de produção, que chama muito a atenção. Chegamos à marca de cinco meses de antecipação da colheita, em algumas áreas.
TodaFruta – Uma das alegações dos produtores, para não utilizarem o plástico, se deve ao custo dessa operação. Qual a posição da Electro a respeito?
Electro Plastic – Desde 2011, quando iniciamos nossos trabalhos com mulching em abacaxi, comprovamos que o investimento nessa técnica se paga com as vantagens que proporciona, como:
Além disso, obtivemos incremento de produtividade acima da casa dos 20% em média e expressivo aumento no tamanho e no peso dos frutos, o que possibilita obter melhores preços de venda.
TodaFruta – Os problemas ambientais nos remetem à seguinte questão: como fica o manuseio desse material após o uso?
Electro Plastic – Por se tratar de um material de qualidade diferenciada, é possível que no final do ciclo seja retirado do campo e vendido a empresas de reciclagem de polietileno, direcionadas para fabricação de tubos, caixas e outros produtos que aceitem essa matéria-prima.
TodaFruta – Que outros comentários gostaria de fazer, salientando-se que, na cultura do abacaxizeiro, o plástico pode ser utilizado para a proteção dos frutos contra queimadura pelo sol, o que será objeto de mais uma entrevista.
Electro Plastic – É importante lembrar que a prática atual para proteção dos frutos contra queima pelo sol, com o uso de jornal, é questionável, pois não é indicada para tal. A saída é se utilizar um material atóxico, também de polietileno.