(matéria veiculada no site defesavegetal.net em 14/03/2016 – foto: BioSciences BA)
A espécie é quarentenária para o Brasil e ataca melão, melancia, abóbora e outras cucurbitáceas
A globalização trouxe, sem dúvidas, muitos benefícios como o maior acesso a produtos e serviços oriundos de outras partes do mundo, mesmo dos locais mais remotos. Nunca houve tanto trânsito de pessoas e mercadorias de um lado para outro. Nos supermercados das grandes cidades, é relativamente fácil encontrar ameixas chilenas, pitaias colombianas, melões espanhóis, uvas americanas, etc. Da mesma forma, melões brasileiros cruzam os oceanos, maçãs são enviadas para os cinco continentes e papaias são exportados mesmo para os mercados mais exigentes.
Esse trânsito ocorre mediante a observância a algumas medidas de mitigação de risco, ou seja, tratamentos, certificações ou quarentenas que evitam que eventuais pragas presentes no país de origem sejam transportadas para o país de destino. Assim, antes de importar um material vegetal, o Brasil, por intermédio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), realiza a análise de risco de pragas e, após negociação com o país de origem, regulamenta os requisitos específicos.
Naturalmente, por ser um país que tem na agricultura um dos pilares de sua economia, o Brasil deve permanecer alerta para situações que alterem o status fitossanitário de seus fornecedores internacionais para, se for o caso, revisar e atualizar suas normativas.
Na semana passada, por exemplo, a revista Plant Disease veiculou um artigo escrito por pesquisadores espanhóis, no qual é relatada a descoberta de uma nova linhagem do Melon necrotic spot virus, espécie regulamentada como praga quarentenária ausente para o Brasil [1]. Seu círculo de hospedeiros é relativamente restrito a melões, melancias, abóboras e outras plantas da família Cucurbitaceae. As perdas, no entanto, podem ser expressivas: na Espanha, praticamente todas as plantas onde foi feito o estudo manifestaram sintomas severos e mais de 80% delas morreram em virtude da virose. A identificação do vírus foi confirmada por meio da inoculação de plantas sadias e reprodução dos sintomas e por meio de testes moleculares.
O comércio internacional de sementes é, provavelmente, o meio mais eficaz para dispersão desse vírus a longas distâncias e, por esse motivo, o MAPA regulamentou os requisitos fitossanitários para a importação de sementes de melão oriundas de Israel em 2004, os quais incluem medidas para evitar a entrada desse vírus no país [2]. Entretanto, outros países onde o vírus ocorre estão autorizados a exportar sementes de melão ao Brasil sem nenhuma medida de prevenção, tais como o Uruguai [3], EUA [4], China [4], Holanda [4], Japão [4], México [4], França [4], Itália [4], Turquia [4], além da Espanha [4].
A descoberta de uma nova linhagem de vírus quarentenário em um país que exporta sementes de plantas hospedeiras sem nenhum requisito fitossanitário é um alerta para as autoridades brasileiras quanto à pertinência de revisar os requisitos já estabelecidos. Além disso, o setor privado, que deve permanecer atento a uma possível entrada da praga. Os sintomas incluem manchas necróticas nas folhas, caules e frutos.
Notas:
[1] Instrução Normativa Nº 41/2008
[2] Instrução Normativa Nº 33/2004
[3] Instrução Normativa Nº 21/2002
[4] Instrução Normativa Nº 16/2015
Para saber mais:
CABI. Distribuição geográfica de Melon necrotic spot virus
Ruiz et al. (2016). First Report of a Novel Melon necrotic spot virus Watermelon Strain in Spain