Uma pesquisa com butiá, que vem sendo realizada pela Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) há mais de dez anos, já mostra resultados e agrega novos parceiros. O empreendedor da área de alimentos Cláudio Dutra Ávila, de Santa Maria, passou a produzir mudas de plantas selecionadas, propagadas na Fepagro, além de se dedicar ao processamento de licores e polpa para suco e sorvete.
Para tanto, tem buscado, na região, butiazeiros com maior produção e qualidade de frutos. E tudo começou com algumas avaliações preliminares envolvendo a propagação do butiazeiro (Butia odorata), que iniciaram em 2005 na Fundação e que posteriormente foram ampliadas para pesquisas envolvendo a caracterização produtiva dos frutos em áreas de ocorrência natural da espécie.
Em 2007, o projeto “Potencialidade e valorização de um recurso genético nativo: investigação e perspectivas do uso comercial dos frutos do butiazeiro”, coordenado pelos pesquisadores da Fepagro Adilson Tonietto e Gilson Schlindwein, foi aprovado e financiado pelo CNPq. O objetivo era avaliar a variabilidade na produção de seus frutos e sua relação com fatores adafoclimáticos, além de desenvolver técnicas de processamento da fruta e germinação de suas sementes, bem como a implantação de pomares experimentais.
Segundo Schlindwein, as ações do projeto englobaram butiazais encontrados nos municípios de Arambaré, Tapes, Barra do Ribeiro e Santa Vitória do Palmar e tiveram parceria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Embrapa Clima Temperado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa).
“A partir desse estudo, a pesquisa com butiá foi sendo ampliada para outras regiões do Estado e também passou a contar com recursos aprovados em editais da Fepagro. E, em 2010, ganhou fôlego com o projeto “Potencial de frutíferas nativas do Sul do Brasil: Estudos de bioprospecção para fins fitotécnicos, nutracêuticos e ecológicos em ambientes ripários”, em colaboração com a UFRGS e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e do CNPq”, explica.
Em setembro de 2008, foi instalado, na Fepagro Viamão, um ensaio de progênies com o plantio de 143 mudas de 12 acessos (matrizes) provenientes de diferentes regiões do Estado. “Essas mudas foram obtidas através da germinação das sementes, realizada no Laboratório de Tecnologia de Sementes da Fepagro Sede, após a coleta e a caracterização dos frutos em 2007, bem como do registro no campo da árvore matriz”, esclarece o pesquisador.
Conforme Schlindwein, até então não havia estudos desse tipo com a espécie, que avaliasse o desenvolvimento do butiazeiro através de mudas originadas de sementes coletadas de matrizes conhecidas. Essas avaliações só foram possíveis com o desenvolvimento de um método para superação da dormência das sementes, obtido no Laboratório de Sementes, e que resultou na publicação, em 2013, de um artigo na revista Seed Science and Technology. Até então, a dormência das suas sementes era um dos gargalos para obtenção de mudas.
“Essa pesquisa inédita feita na Fepagro com o butiazeiro tem apontado para os potenciais na instalação de pomares com recursos selecionados desta palmeira. Uma das plantas (matrizes) selecionada produz frutos com mais de quatro centímetros de diâmetro e alcança SST de 20° Brix, enquanto levantamentos realizados a campo mostram que amostras de frutos coletados em populações naturais da espécie possuem em média metade deste tamanho e 12° Brix, aproximadamente.
Ou seja, esses frutos são maiores e mais doces que outros”, esclarece Schlindwein. “Outro destaque é a sua precocidade produtiva, já que suas progênies iniciaram seu ciclo reprodutivo cinco anos depois da germinação das sementes e quatro do plantio das mudas no campo. Até então, informações preliminares estimavam que o butiazeiro demorasse entre oito e 12 anos para começar a produzir os primeiros frutos. A identificação desse exemplar precoce foi possível com base em avaliações comparativas realizadas entre as progênies”.
Hoje, de acordo com Schlindwein, a pesquisa se concentra na avaliação das características produtivas e de qualidade dos frutos entre progênies, relacionando-as com suas respectivas matrizes de origem e com o tempo de produção. Com essas informações, está sendo possível determinar quando esses exemplares atingem seu ápice produtivo e o quanto das características da planta matriz é mantido.
“Nos últimos anos, foi acrescentado o plantio de mais 72 mudas de sete matrizes ao pomar, totalizando 215 indivíduos (progênies) de 19 acessos. Nesse período, a seleção de novas matrizes recebeu o apoio de colaboradores interessados na multiplicação de mudas provenientes de butiazeiros com características produtivas superiores.
Resultados da pesquisa – Em suas buscas pela região de Santa Maria, o empreendedor Cláudio Dutra Ávila identificou, recentemente, um butiazeiro capaz de produzir até 10 cachos por safra, com mais de 30 quilos cada, e com frutos de excelente qualidade. Segundo o pesquisador Schlindwein, a caracterização e multiplicação desse exemplar está sendo feita na Fepagro, e sua progênie acrescentada ao pomar de Viamão para avaliação.
Assim, a pesquisa com butiá vem sendo consolidada através de novas parcerias e da aceitação da fruta, bem como dos seus subprodutos no mercado. “No entanto, para que os produtos oriundos do butiazeiro possam ampliar seu mercado, é necessário ainda que seja regulamentado o manejo extrativista em áreas naturais da espécie e que pomares comerciais sejam instalados. Neste sentido, a pesquisa visa continuar trabalhando no aprimoramento e na divulgação de técnicas de propagação, manejo, seleção e melhoramento de progênies de butiazeiro”, conclui Schlindwein.