País é um celeiro de variedades que enfrentam problemas com clima e incentivo à exportação.
Dizem que nesta terra tudo o que se planta dá. Na fruticultura pelo menos a máxima vem se consolidando. O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas. Só perde para China e Índia. A maior procura por um estilo de vida saudável, dieta balanceada aliada a qualidade das frutas brasileiras vem impulsionando o setor. E a boa notícia é que projeções da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que o consumo per capita de frutas, no Brasil e no mundo, deve continuar crescendo.
A fruticultura abrange em torno de 3 milhões de hectares, gerando pelo menos 6 milhões de empregos diretos. O país foca a sua produção no mercado interno, exportando apenas cerca de 3% da produção. A produção anual fica em torno de 37 milhões de toneladas.
Há uma grande diversidade na produção de frutas do Brasil, já que as lavouras estão espalhadas por todas as regiões do país. As mais produzidas são: banana, laranja, uva, abacaxi, maçã e melancia. São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais são destaques além do Vale do São Francisco, importante polo que conta com tecnologia de irrigação e se destaca em produção de manga (85% para exportação) e 95% da produção nacional de uva de mesa.
Os desafios na safra
Pêssego, maça, uva, ameixa, pêra, figo são frutas que precisam de bastante frio mas frio fora de época pode afetar a produção. Já a banana precisa de clima quente e bastante sol. Laranja e goiaba não gostam de geada. Todas as variedades dependem de clima específico e água.
Outro importante desafio está na tecnificação, com tecnologias que ajudem a aumentar o cultivo e resultar em frutas de qualidade tanto para o mercado interno quanto para o externo. Aspecto que passa também pela profissionalização da atividade.
O terceiro obstáculo pelo qual o produtores de frutas passam é o controle de pragas e doenças como o greening no citros, sigatoka negra na banana, larva no melão e a mais recente mosca na carambola, entre tantas outras. O difícil controle impacta na produção e nos ganhos finais da safra.
Panorama geral
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores, Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, faz uma análise do cenário atual, das entraves para a expansão da atividade e comenta sobre a chegada do derramamento de óleo à foz do Rio São Francisco, região de grande produção nacional. Confira a entrevista:
Portal Agrolink: como podemos desenhar o cenário da fruticultura hoje no Brasil?
Luiz Roberto: o cenário da safra de frutas é muito positivo no Brasil. A gente já esta vendo abertura de mercados para várias frutas nesses últimos anos e perspectiva de abrir muito mais. Os registros de defensivos que avançaram muito , exportações crescendo., nosso convênio com a Apex tem sido renovado então são elementos que criam um cenário muito bom. Devemos alcançar a marca de US$ 1 bilhão em exportações . Hoje a fruticultura passa por um momento de amadurecimento e profissionalização e o resultado disso está vindo em qualidade de produto tanto para mercado exterior como para o interno.
Portal Agrolink: hoje apenas 3% da produção vai para a exportação. Quais as dificuldades?
Luiz Roberto: nós temos três grandes desafios. O primeiro é criar uma cultura exportadora para os produtores de frutas de um modo geral, mostrar que existe um mercado gigante lá fora a ser explorado. Os órgãos federais também têm papel fundamental nisso, com incentivos aos produtores para que possam acessar mercados maiores e melhores com aberturas da economia. No mercado interno temos consumo per capita muito baixo e podemos ampliar também com publicidade, mostrando a qualidade, mostrando que o produto é saudável, bom para saúde, combate doenças. Explorar isso para que fique bom para o produtor e para o consumidor.
O segundo aspecto esbarra nas questões climáticas. Temos problemas hídricos , temperaturas oscilando para cima e para baixo e atrapalhando a produção de clima temperado, geadas fora de época que atrapalham o metabolismo da planta. Cabe aos produtores cada vez interferir menos no meio ambiente, produzir com menos impacto, agricultura de baixo carbono, menos desmatamento. Desenvolver variedades com espécies genéticas que se adaptem mais à essas novas condições de tempo, com investimento em pesquisa para ter frutos mais resistentes. Na medida do possível irrigação, cobertura para geada e granizo. Colocar tecnologia na produção. Quanto mais tecnificada for menos suscetível ao clima. Claro que isso interfere no preço. Com menos oferta o preço sobe mas o ideal é que se equilibre esse fator também para manter o consumo.
A cultura irrigada vem crescendo bastante tanto na manga quanto na uva no Vale do São Francisco (entre Juazeiro – BA e Petrolina – PE), quanto melão e melancia em Mossoró (RN), com tecnologias que aumentam a qualidade da fruta. Isso faz com que esses produtores fiquem mais preparados para o negócio e isso tende a crescer mais ainda.
Portal Agrolink: tem algum aspecto que preocupe?
Luiz Roberto: estamos em alerta com a mosca da carambola. Trata-se de uma praga exótica que veio da Ásia e entrou no Brasil pela Guiana Francesa e Suriname. Já está presente no Norte do país em Amapá, Roraima e Pará. É um risco de ela se espalhar porque pode fechar exportações. É uma preocupação. Precisamos de ação do governo para fazer a defesa vegetal e evitar a proliferação.
Portal Agrolink: como está a questão do controle biológico na fruticultura?
Luiz Roberto: várias empresas têm utilizado de insetos predadores que combatem pragas, bactérias que melhoram as condições de solo e absorção de nutrientes e ajudam no combate a insetos e pragas , fungos benéficos. O controle biológico já é uma realidade na fruticultura. Acho que é uma forma muito interessante de controle com o manejo integrado. Não é só químico. Não é só biológico. É uma combinação adequada para eficácia com custo competitivo.
Portal Agrolink: o derramamento de óleo que ocorreu no Nordeste brasileiro chegou à foz do Rio São Francisco. Há algum risco para a fruticultura da região?
Luiz Roberto: não há risco de afetar o Vale do São Francisco pois o circuito vem do continente para o mar. Houveram algumas manchas na foz do rio, onde ele sai para o mar. Óbvio que os movimentos da maré as vezes empurram mais para dentro do rio mas quando a maré recua essas manchas acabam ou saindo ou se grudando no estuário. Não há o que se preocupar porque este foco está há mais de 600km da região produtora. As manchas teriam que subir as barragens do Xingó e Paulo Afonso, algo impossível. Não há risco.
Fonte: AGROLINK –Eliza Maliszewski
Publicado em 25/10/201