A videira pode ser afetada por diversas doenças e pragas durante o seu desenvolvimento vegetativo e reprodutivo. O produtor deve lançar mão de uma série de medidas de manejo, garantido, assim, a sanidade e evitando os danos econômicos na produção e os reflexos na safra seguinte.
Segundo a pesquisadora Maria Emilia Borges Alves, da Embrapa Uva e Vinho, com base nas previsões contidas na edição de outubro de 2014 do Boletim Climático para o Rio Grande do Sul, elaborado pelo 8º Disme/Inmet e pelo Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) -(http://www.inmet.gov.br/html/clima/cond_clima/bol_out2014.pdf), o prognóstico climático para a primavera e início de verão é de precipitações pouco acima da média para novembro e dezembro. Já para janeiro a previsão é que as chuvas fiquem dentro do normal. Espera-se que deva chover cerca de 25 milímetros a mais, e a probabilidade disto ocorrer é de 35%. As temperaturas mínimas deverão ficar acima das normais e as máximas um pouco abaixo até o final do ano, provocando uma pequena redução das amplitudes térmicas, o que pode afetar a coloração das bagas no início do período de maturação das videiras e, por sua vez, influenciar a qualidade das variedades viníferas. Estes pequenos desvios previstos na temperatura e na precipitação se devem ao fenômeno El Niño, que vem atuando com fraca intensidade no decorrer do ano.
Dentre as doenças da videira, o míldio, também conhecido por mufa, costuma ser a mais destrutiva, quando as condições climáticas tornam-se favoráveis ao patógeno, principalmente em vinhedos com cultivares suscetíveis. A incidência e a severidade do míldio variam de ano para ano e também durante a safra. Nos anos de El Niño mais intenso, caracterizados por um maior volume de chuvas na região sul e sudeste do Brasil, o controle da doença torna-se mais problemático, caso não seja realizado corretamente. A simples aplicação de um fungicida não garantirá o completo sucesso nessa batalha, muitas outras variáveis interferem nessa relação. O domínio da situação é fator-chave para a eficiência no controle, afirma o pesquisador da área de fitopatologia Lucas da R. Garrido, da Embrapa Uva e Vinho.
Os maiores prejuízos causados pelo míldio estão relacionados à destruição total ou parcial das inflorescências e/ou frutos e à queda prematura das folhas. O desfolhamento precoce, além dos danos na produção do ano, afetará também a produção dos anos seguintes. Portanto, a doença causa danos à qualidade e à quantidade da produção do ano e enfraquecimento da planta para as safras futuras.
O míldio é caracterizado pela presença de manchas de coloração verde-clara de aspecto oleoso na face superior das folhas, conhecidas como ‘manchas de óleo’. Em condições de alta umidade, na face inferior da região correspondente a essas manchas surgirá uma eflorescência branca (mofo branco). As manchas tornam-se necrosadas na inflorescência até a subsequente queda. Quando o ataque ocorre na fase de floração, as inflorescências podem ficar deformadas, com aspecto de gancho, além de poderem secar e cair. Vale observar que nem todo abortamento de flores é devido ao míldio, pois chuvas na floração inviabilizam a polinização e as flores também abortam. Já nas bagas novas, o patógeno pode penetrar diretamente pelos estômatos ou pelo pedicelo (estruturas da baga). Com o desenvolvimento da doença, em condições de alta umidade, haverá, na superfície das bagas afetadas, a formação de um mofo branco (esporos do fungo) .
Fatores que contribuem para aumentar o teor de água no solo, no ar e na planta favorecem o desenvolvimento do míldio da videira. Portanto, a chuva é considerada o principal fator por propiciar tais condições. Locais sujeitos à cerração e o orvalho também contribuem para a infecção dos tecidos da planta pelo patógeno causador da doença. A temperatura exerce papel moderador, freando ou acelerando o desenvolvimento do míldio. Dificilmente ocorre infecção se a umidade do ar for inferior a 75%. De um modo geral, são necessárias cerca de duas a três horas de molhamento foliar para que se instale o processo infeccioso. O período de incubação pode variar de 4 a 18 dias, diminuindo com o aumento da umidade do ar e da temperatura até 25°C. Em condições ótimas de temperatura (22-25°C) o período de incubação dura de quatro a seis dias.
Todas as práticas culturais que aumentam o teor de umidade no dossel favorecem o desenvolvimento da doença, como plantios adensados, utilização de porta-enxertos vigorosos, altas doses de adubos nitrogenados, irrigação e podas incorretas. A instalação do vinhedo em baixadas propicia uma maior ocorrência de nevoeiros e solos mal drenados favorecem o aparecimento de focos primários.
A aplicação de fungicidas ainda é uma prática necessária para o controle da doença. Com o monitoramento, as aplicações podem ser iniciadas com a aparecimento dos primeiros sintomas (mancha de óleo) e repetidas sempre que houver condições favoráveis ou em intervalos de 7 a 10 dias. Até o estádio de grão (‘ervilha’) recomenda-se a aplicação de produtos sintéticos. Após esse estádio, podem ser empregados os fungicidas cúpricos. Durante a floração, momento de maior atenção pelo produtores, os fungicidas aplicados devem apresentar a mistura de princípios ativos de contato e sistêmicos, lembrando que muitas marcas comerciais de fungicidas já apresentam essa mistura de fábrica.
Além disso, a utilização de produtos indutores de resistência tem aumentado em diversas culturas. Na videira, os fosfitos de potássio têm desempenhado este papel, tornando a planta mais resistente ao ataque do agente causador do míldio e exercendo um excelente controle da doença, podendo serem utilizados em mistura com produtos de contato.
Além de seguir as informações contidas na bula dos produtos, é importante que os viticultores tenham o pulverizador calibrado e em boas condições de manutenção. Escutar o barulho da bomba do equipamento e a névoa formada durante a pulverização não assegura que o princípio ativo tenha chegado ao alvo. Gotas muito pequenas evaporam antes de chegar aos tecidos da planta e gotas grandes ocasionam maior escorrimento do produto. Logo, a regulagem deve situar-se entre estes dois extremos. O manômetro, os bicos e as mangueiras devem estar em boas condições de uso e sem vazamentos. Os tratamentos não devem ser realizados quando há presença de orvalho nos tecidos da planta e nem durante as horas mais quentes do dia, a fim de evitar a evaporação. “O controle não será eficiente só com a dose correta do produto, a tecnologia de aplicação é parte vital desse processo”, alerta Garrido.
Para um melhor resultado, o pesquisador orienta que os fungicidas sistêmicos devem ser aplicados pelo menos quatro horas antes de chuvas, para evitar que os mesmos sejam lavados antes da sua absorção. Já os produtos de contato são lavados após chuvas maiores que 25 mm. Por outro lado, a ocorrência de chuvas de menor intensidade (5 a 10 mm) contribuem para a distribuição do princípio ativo dos fungicidas de contato nos órgãos da planta.
Outro ponto importante é a dose do fungicida utilizada para a prevenção e o controle das doenças da videira. “Sempre existe a dúvida se o produtor deve utilizar a dose por hectare ou a dose para 100 litros. Embora este assunto seja bastante polêmico, a dose registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e recomendada é de kg ou L / ha, levando-se em conta o volume de calda de 800 a 1000L / ha”, reforça Garrido. Nos pulverizadores convencionais, utilizando baixos volumes de calda, por exemplo 200 a 300 L / ha e a dose do produto para 100 L, menos princípio ativo está sendo depositado sobre as plantas, ou seja, é uma subdosagem, o que contribui para o surgimento de novos focos de infecção pelo míldio, alerta o pesquisador.
Confira a lista dos produtos autorizados para a cultura da videira em: http://www.uvibra.com.br/pdf/agroquimicos.pdf.