Considerando a região de Pelotas (RS), onde ocorreram as principais avaliações a campo, a maturação e consequente colheita é precoce e tem início no final de outubro ou no início de novembro no caso da BRS Cathy. Na sequência, a BRS Dani pode ser colhida a partir da segunda quinzena de novembro e a BRS Janita a partir da segunda semana de dezembro. O foco das frutas é para o mercado in natura.
Lançamento e disponibilidade de mudasAs variedades foram lançadas em janeiro, durante o 4º Encontro Estadual de Frutas de Caroço, em Pinto Bandeira (RS) – maior município produtor de pêssego de mesa do Rio Grande do Sul, com produção de cerca de 18,5 mil toneladas em 2022, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, cinco produtores já foram licenciados para multiplicar os materiais. As mudas devem estar disponíveis ao setor produtivo a partir do ano que vem. A lista dos fornecedores pode ser encontrada na página de cada uma das cultivares no portal Embrapa ou neste documento. A expectativa é que nos próximos dois a três anos, a pesquisa ainda disponibilize mais três variedades de nectarineiras. Em 2018, a variedade de polpa branca BRS SCS Nina foi lançada, em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), para suprir parte da necessidade de cultivares adaptadas ao cultivo no Brasil. Com os futuros lançamentos, a Embrapa deve disponibilizar sete variedades ao setor produtivo até 2026. |
A BRS Cathy (foto à direita) e a BRS Dani produzem frutas de polpa branca, com película de cor creme e cobertura majoritariamente vermelha; já a BRS Janita produz frutas de polpa amarela, com película amarelo-esverdeada e cobertura também predominantemente vermelha. As duas primeiras variedades apresentam frutos com peso médio entre 80 g e 100 g. A BRS Janita eleva essa média para entre 90 g e 110 g.
Em termos de produtividade, a BRS Cathy parte de 15 toneladas por hectare (t/ha), podendo superar 20 t/ha, dependendo da região de cultivo e do manejo do pomar. As variedades BRS Dani e BRS Janita, por sua vez, têm produtividade média em torno de 20 t/ha e também podem superar essa marca em função do contexto produtivo.
As avaliações foram realizadas por mais de quinze anos em áreas experimentais da Embrapa, em Pelotas (RS); por seis a oito anos em Bento Gonçalves (RS), pela Embrapa Uva e Vinho (RS); e em produtores parceiros dos estados do Sul e Sudeste do Brasil. A recomendação de cultivo é para as Regiões Sul e Sudeste do País. As três variedades apresentam baixa necessidade de frio, especialmente a BRS Cathy (200-250 horas de frio), o que significa que são melhores adaptadas a regiões mais quentes, onde há menor incidência de períodos frios (abaixo de 7,2º C).
Batismo das cultivares e apoio dos produtoresOs nomes fantasia das cultivares tendem a ser escolhidos em função de características importantes dos materiais, mas desta vez a equipe decidiu reconhecer pessoas relevantes ao trabalho de melhoramento. A BRS Cathy homenageia a pesquisadora norte-americana Catherine Bailey, uma das primeiras melhoristas de frutíferas, que prestou relevantes contribuições à fruticultura mundial; e a BRS Janita (foto à esquerda) é uma homenagem a Janita Moore, esposa e incentivadora do melhorista James Moore, por quem Maria do Carmo foi orientada. Já a BRS Dani presta uma homenagem nacional e reconhece o jovem Daniel Staloch, atualmente com 15 anos, que desde criança ajuda o pai, Marcos Staloch, no cultivo de pêssegos e nas avaliações das seleções de nectarineiras. “Na época, era um menino que nos acompanhava nas visitas às Unidades de Observação (UO) na propriedade do pai dele. Com a homenagem ao Daniel, homenageamos também todos os produtores e parceiros que têm colaborado conosco ao longo dos anos”, completa a pesquisadora. O pai de Daniel, Marcos, cultiva hoje cerca de 11 hectares de pêssego e mantém uma UO de nectarinas, mas estava aguardando os resultados das avaliações e os lançamentos para investir na cultura da nectarineira. A ideia é cultivar em torno um hectare nos próximos dois anos. Para a presidente da Associação dos Produtores de Frutas de Pinto Bandeira (Asprofruta), Rubiane Rubbo, a fruta tem potencial para crescer. “Como a nectarina não tem pelos, não precisa descascar, usar faca, vejo muito potencial. Cultivamos e acreditamos nela como uma fruta do futuro, para as crianças, nos lanches… E essas variedades que estão sendo lançadas são doces, trazem praticidade e só tendem a expandir o cultivo aqui no nosso município”, declara. |
A pesquisadora esclarece que a nectarina é uma mutação do pêssego e, portanto, pertence à mesma espécie, Prunus persica L. “Muitos pensam que ela é o cruzamento de pêssego com ameixa, mas não é”, comenta. A principal diferença entre as frutas está na pele, já que a nectarina não tem pelos. A polpa da nectarina também tende a concentrar maior nível de sólidos solúveis, ou seja, costuma ter mais açúcar.
De modo geral, o cultivo de nectarina tem crescido no mundo, enquanto que o do pêssego está estabilizado, embora no Brasil a nectarina ainda não seja muito popular. Os dados do IBGE mais recentes, de 2017, apontam área colhida de 355 hectares, com produção estimada em 4,2 mil toneladas, em cerca de 280 estabelecimentos. O estado de Santa Catarina era o maior produtor, com 2,1 mil toneladas colhidas, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 605 toneladas à época.
Segundo dados mais recentes da Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2023, elaborada pelo Departamento de Governança dos Sistemas Produtivos da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul, o estado abriga hoje cerca de 60 hectares da fruta, em 74 produtores. Em 2022, o volume de produção estimado foi de 950 toneladas.
O potencial para crescimento do cultivo de nectarinas tem relação com o volume de importações, para os pesquisadores, já que isso indicaria aumento da demanda pela fruta. Segundo informações da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Secex/MDIC), o Brasil importou, em média, 5,2 mil toneladas e US$ 6,5 milhões em nectarinas anualmente, considerando-se os últimos seis anos.
De acordo com o pesquisador da área de socioeconomia rural da Embrapa Clima Temperado Luiz Clóvis Belarmino, a tendência nos principais países produtores de pêssegos do Ocidente, principalmente Espanha, tem sido uma mudança no tipo de produção e comercialização. Segundo o site Fructidor, que reúne informações internacionais sobre frutas e vegetais, o crescimento naquele país foi de 63% na produção de nectarinas em 2023 em relação ao ano anterior (que não atingiu safra plena).
Somando os principais países produtores na Europa em 2023 (Itália, Grécia, Espanha e França), foram colhidas 3,3 milhões de toneladas de frutas da espécie Prunus persica, classificadas em nectarinas (39%), pêssegos tradicionais (30%), pávias (20%) e pêssegos achatados (10%). Com relação à nectarina, foram produzidas 1,3 milhão de toneladas, o que representou crescimento de 16% com relação ao ano anterior.
Segundo o IBGE, o Brasil colheu 208.823 toneladas de pêssegos em 2022. “A diversificação já está acontecendo lá fora e a tendência é que essa mudança ocorra por aqui. O nosso futuro será repetir os hábitos de consumo norte-americanos e dos países europeus exportadores, como a Espanha”, completa o pesquisador.
Fonte: Embrapa Clima Temperado – Francisco Lima (MTb 13.696/RS)