A mosca-das-frutas causa grandes prejuízos em pomares brasileiros, afetando o consumo e exportação de frutas.
Carolina Barros (carolina@sfarming.com.br)
A mosca-das-frutas é uma praga presente em todo o território brasileiro. Mas, ela causa problemas especialmente no Sul do Brasil, onde há uma concentração de pomares e vinícolas. Os frutos contaminados não podem ser recuperados. Após o depósito dos ovos da mosca na planta atacada, há contaminação por patógenos que causam o apodrecimento dos frutos, de acordo com Janaína dos Santos, Engenheira Agrônoma, Doutora em Entomologia e pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). “Esses danos, além de prejudicarem a comercialização de frutos frescos, também representam um importante fator de restrição à exportação de frutas”, afirma.
Segundo a pesquisadora, pesquisas indicam que, sem controle e monitoramento, o ataque da mosca-das-frutas pode gerar perdas de até 100% do pomar. “Trata-se de uma praga de difícil manejo, especialmente se não forem adotadas diferentes estratégias de controle. Atualmente, são poucas as alternativas eficientes para a redução populacional desse inseto, principalmente em pomares cultivados no sistema orgânico”, diz Janaína. Ela conta que, mesmo em pomares de macieira com monitoramento periódico e com técnicas de controle variadas, as perdas podem chegar a 3% do pomar.
1 – Como identificar a mosca-das-frutas?
Existem várias espécies de mosca-das-frutas, porém a principal espécie no País, especialmente no Sul, é a Anastrepha fraterculus. “A espécie A. fraterculus apresenta em torno de seis a sete milímetros de comprimento, corpo de coloração amarela e asas com faixas sombreadas escuras na forma de “S” e “V” invertido”, explica Janaína. Nas fêmeas, o abdômen termina numa porção afilada que forma um ovipositor. Dentro dele, fica uma estrutura chamada “acúleo”, utilizada pelas moscas para depositar os ovos no interior dos frutos.
2 – Sintomas da infestação no pomar
Os frutos são prejudicados pela postura dos ovos e por servirem de alimento para as larvas que nascem em seu interior. Ao se alimentarem, as larvas criam galerias nos frutos. Isso altera o sabor, causa amadurecimento precoce, apodrecimento e, em algumas espécies, pode provocar queda e deformação dos frutos. “Além disso, o ferimento realizado durante a oviposição pode propiciar a infecção por fungos e bactérias, tornando-os impróprios para a comercialização e consumo”, afirma Janaína. A pesquisadora explica que maçãs e ameixas atacadas quando ainda estão verdes crescem deformadas. Algumas cultivares de citrus e kiwi podem sofrer queda dos frutos e com processo acelerado de decomposição. Já uvas, se atacadas no estádio de grão ervilha, no início da compactação dos cachos ou início da maturação, sofrem queda ou deformação das bagas.
3 – Onde a mosca se aloja?
Os frutos são os mais atacados por essa praga. “As fêmeas colocam os ovos no interior dos frutos, onde eclodem as larvas que se alimentam da polpa”, diz Janaína. Ela conta que, após o desenvolvimento das larvas, elas saem do fruto e caem no solo. Lá, formam as pupas, que são outra fase de desenvolvimento das moscas, como um casulo. Depois, emergem os insetos adultos, iniciando uma nova geração da praga.
4 – Quando ocorre?
A infestação por mosca-das-frutas pode ocorrer o ano todo, já que as lavouras de frutas se desenvolvem bem em todos os meses. A temperatura também influencia nas populações de moscas. O ideal para o desenvolvimento delas é uma faixa entre 15,3 e 26,8 ºC. Porém, Janaína explica que a ação da temperatura sobre a população das moscas não é independente de outros fatores ecológicos. “Na época da colheita, quando os frutos encontram-se fisiologicamente maduros, observa-se aumento da população da praga e do número de frutos danificados”, conta.
5 – Disseminação: A praga se dissemina através da migração de moscas vindas de outros pomares ou de árvores frutíferas silvestres. Além disso, frutos descartados durante a produção, temporões ou caídos no solo do pomar são um atrativo que ajudam na multiplicação da mosca. “O manejo integrado é a melhor opção para reduzir a população do inseto”, afirma a pesquisadora. Para isso, é necessário técnicas de monitoramento e controle. Mas uma medida simples e que também contribui no combate à praga é o recolhimento dos frutos caídos.
6 – Monitoramento: O monitoramento é uma etapa importante para que o produtor tome decisões sobre como combater a praga. Dependendo do nível populacional das moscas, é preciso realizar alguma forma de controle, como a pulverização. Janaína explica que o monitoramento é realizado com armadilhas que tenham um atrativo alimentar, que pode ser feito de proteínas hidrolisadas ou suco de frutas. O parâmetro em que o monitoramento deve se basear é chamado de índice MAD, que analisa a quantidade de moscas por armadilha. O nível de infestação aceitável é de 0,5 moscas por armadilha por dia ou 3,5 moscas por armadilha por semana. “Na região Sul do Brasil, recomenda-se instalar as armadilhas logo após a floração ou formação dos primeiros frutos (2 a 3 cm de diâmetro)”, afirma Janaína. O número de armadilhas usadas vai depender do tamanho do pomar.
7 – Como é feito o controle?
As formas de controle mais comuns da mosca-das-frutas são o uso de isca tóxica ou a pulverização de inseticidas em cobertura total. Essas iscas são aplicadas nas bordas do pomar ou nas áreas de matas adjacentes, para impedir a entrada dos insetos. Porém, Janaína explica que por causa da exigência dos países importadores de frutos frescos em relação a ausência de pragas e resíduos químicos, outras formas de manejo menos agressivas têm sido procuradas. Esse movimento é motivado também por uma conscientização ambiental de consumidores e produtores brasileiros. Janaína conta que uma alternativa é a captura massal de moscas, que consiste na captura do maior número de adultos usando muitas armadilhas na área. Isso contribui para reduzir a população de moscas-da-fruta no pomar e, dessa forma, minimizar os danos. A pesquisadora conta também que outra alternativa é o ensacamento de frutos. “É uma técnica muito utilizada em áreas cultivadas no sistema de produção orgânica e vem apresentando resultados promissores em várias espécies frutíferas”, afirma. O cultivo também pode ser feito protegido com um tipo de telado, usando telas nas laterais e em cobertura, maneira popularmente conhecida como “envelopamento”. Janaína afirma que esta é uma técnica relativamente nova e que pode ser uma opção viável para pomares de produção orgânica, se os outros sistemas forem ineficientes.
8 – Controle biológico: É importante que o produtor realize a coleta de frutos caídos e os armazene em valas cobertas por telas, para que retenha as moscas adultas e, ao mesmo tempo, permita a passagem de inimigos naturais. “Inimigos naturais, em especial os parasitoides, são importantes agentes de controle de moscas. Estudos a campo indicam baixo parasitismo natural, portanto, a manutenção de refúgios que propiciem a multiplicação desses insetos é fundamental”, afirma Janaína.
Artigo original do site SF Agro | Farming Brasil: http://sfagro.uol.com.br/mosca-das-frutas-8-dicas-para-combater-praga-dos-pomares/
Data: 17/01/2017