Solução que combina formulação química com técnicas específicas de aplicação ajuda a reduzir perdas na produção de banana no Norte do País. Trata-se de um método de controle individual com aplicação de uma pequena quantidade de fungicida na folha da bananeira, que age como uma espécie de “vacina”, protegendo a planta do fungo causador da sigatoka-negra (Mycosphaerella fijiiensis). O método simples e de baixo custo ajuda a controlar a doença em banana comprida, uma das variedades mais consumidas no País, garantindo plantios sadios e mais produtivos. Agricultores do Amazonas, Rondônia e Pará utilizam a técnica desenvolvida pela Embrapa Amazônia Ocidental (AM) desde 2008 e, segundo o pesquisador Luadir Gasparotto, essa forma de controle reduziu drasticamente a incidência da doença e o uso de produtos químicos como alternativa de controle. “Em cultivos do Amazonas baixamos de 52 para 3 aplicações de produtos químicos nos bananais, por ciclo produtivo, além de ampliar o tempo de intervalo dos tratamentos de 15 para 60 dias”, explica. A banana-comprida ou banana-D´Angola é uma variedade do grupo Terra (aquelas consumidas fritas, cozidas ou em forma de mingau) amplamente cultivada nas regiões Norte e Nordeste e tem grande aceitação no mercado. Bastante utilizada em pratos da culinária regional é extremamente susceptível à sigatoka-negra, doença que provoca perdas de até 100% na produção. Agricultores familiares do Acre também adotaram a tecnologia e comemoram aumento de 35% na produção. A experiência começou há três anos, por meio do projeto “Transferência de alternativas tecnológicas para convivência com a sigatoka-negra em bananeiras”, executado pela Embrapa em propriedades rurais de Acrelândia e Plácido de Castro. Nesses municípios, a banana-comprida é o carro-chefe da produção, mas sucessivas perdas dos cultivos, devido a ataques recorrentes da doença, trouxeram descrédito para a cultura e insegurança para os agricultores. De acordo com a pesquisadora Sônia Nogueira, líder do projeto, foi preciso um longo processo de convencimento dos agricultores. Em bananas do tipo prata, os ataques da sigatoka-negra foram contornados com o uso de variedades melhoradas em substituição às bananas comuns, mas não havia ainda uma solução para a banana-comprida. “Instalamos Unidades Demonstrativas em diversas propriedades rurais e os resultados chamaram atenção tanto em relação ao nível de sanidade dos cultivos quanto à produtividade. A incidência da doença caiu para menos de 10% das plantas e os frutos se desenvolveram melhor, resultando em cachos com até 40 quilos, três vezes a média de peso obtida em plantios da região. Esse resultado foi decisivo para a adoção da tecnologia”, destaca. O Brasil produziu sete milhões de toneladas de banana, em 2014, e ocupa o terceiro lugar no ranking da produção mundial, de acordo com relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Cultivada em todos os estados brasileiros, a banana gera trabalho e renda para aproximadamente 1,3 milhões de agricultores familiares, que plantam mais de vinte variedades comerciais da fruta.
Produção e lucro – O agricultor Raul Gonçalves, morador do Assentamento Orion, em Acrelândia, é pioneiro no uso da técnica. Ele cedeu parte do seu bananal para a realização dos primeiros testes com a tecnologia e se surpreendeu com os resultados. As plantas tratadas se desenvolveram melhor e os frutos ficaram maiores e mais limpos. “Esse método de controle veio como uma luz no fim do túnel. Agora plantamos e temos certeza de que vamos colher”, enfatiza. Hoje, os 30 hectares de banana comprida de sua propriedade são tratados com o método individual de controle químico e o retorno econômico renovou o ânimo para permanecer na cultura. Entre os meses de fevereiro e junho deste ano, Gonçalves colheu 25 mil cachos da fruta e contabilizou uma renda bruta de 300 mil reais. Livres da doença, os bananais aumentaram a produção, que é vendida para comerciantes de Manaus (AM) e estabelecimentos comerciais locais. Esse desempenho, aliado ao aumento na demanda pela banana-comprida, triplicou a renda da família em relação aos ganhos obtidos antes da adoção do método. Outro agricultor que conhece bem o poder de destruição da sigatoka-negra e adotou o método é Sebastião Câmara, um dos moradores antigos do Ramal Samaúma, em Plácido de Castro. Junto com os dois filhos, cultiva 20 hectares de banana comprida e, na última colheita, a produção de 6.700 cachos da fruta rendeu 55% de lucro para a família, em relação ao investimento de 20 mil reais realizado na implantação e condução do bananal. “A doença era tão intensa que a gente tinha sempre que recomeçar, plantando novos bananais”, lembra. Na propriedade de Câmara, o experimento começou com 20 plantas e em pouco tempo esse número foi ampliado para 150. Os resultados agradaram tanto que ele resolveu tratar todo o bananal antes da produção. “Não imaginava que ainda pudesse lucrar com a banana. Valeu a pena acreditar no método porque essa fruta é a nossa maior fonte de renda. A meta agora é ampliar os cultivos”, diz o agricultor. A partir da experiência dos produtores que participam do projeto, o método se disseminou entre agricultores do estado. Atualmente, mais de 80% dos plantadores de banana de Acrelândia utilizam a tecnologia, além de produtores de Porto Acre, Senador Guiomard, Rio Branco e outros municípios.
Vantagens – O controle químico por aplicação na axila da segunda folha da bananeira é um método diferenciado porque utiliza produtos considerados mais inócuos. A partir dessa perspectiva, a tecnologia agrega aspectos econômicos e ambientais primordiais para a viabilidade da cultura. Além de permitir um controle efetivo da sigatoka-negra, garantindo a produção, é uma alternativa de baixo custo e reduzido impacto ambiental. “As aplicações individuais e dirigidas evitam que o produto se espalhe com o vento e contamine o solo, mananciais e animais domésticos e, por ser pouco manipulado, reduz riscos à saúde humana”, afirma Gasparotto. Outra vantagem do método é a longevidade dos bananais, fator que proporciona redução nos custos com mão de obra. Segundo Sônia Nogueira, o uso da tecnologia mais que dobrou o tempo de vida dos plantios da região, passando de duas para cinco colheitas. “Isto resultou em ganhos na produção, maior oferta desse alimento para o consumidor e mais renda para os produtores”, ressalta.
Manejo é forte aliado – O controle da sigatoka-negra implica também a adoção de práticas de manejo adequadas e o monitoramento constante do bananal. Procedimentos como adubação do solo (seja com produtos químicos adequados ou por meio do uso de leguminosas), desbrota e desfolha das plantas, além de capinas regulares para manter o bananal limpo, são fundamentais para garantir a eficiência do método. Sonia Nogueira explica que a sigatoka-negra é uma doença fúngica que se dissemina pelo vento, e as folhas secas podem hospedar o fungo e contaminar outras plantas. Outro fator importante é a condução das touceiras, que devem permanecer com apenas três plantas, para evitar a competição por nutrientes no solo e garantir uma produção escalonada e contínua. “Plantas bem manejadas são mais tolerantes a doenças. Por isso, manejar o bananal é essencial para manter os plantios sadios e produtivos”, esclarece a pesquisadora.
Sistema de mitigação de risco – A banana é a segunda cultura em importância econômica do Acre, superada apenas pela mandioca. De acordo com o IBGE, o estado produziu 94 mil toneladas da fruta em 2014, em uma área de sete mil hectares. A atividade envolve sete mil famílias de agricultores. Na década de 1990, a chegada da sigatoka-negra impactou a produção e influenciou as relações comerciais dos agricultores. Um dos desafios da bananicultura acriana é conquistar novos mercados e a principal condição para que isso ocorra é a implantação do sistema de mitigação de riscos da doença, mecanismo de controle sanitário instituído por portaria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a partir de 2005. Atualmente a banana acriana é comercializada apenas com Rondônia e Amazonas, estados que também convivem com a doença.
Trabalho contínuo – A sigatoka-negra é considerada a principal responsável pela queda na produtividade dos plantios e perdas na produção mundial de banana. Pesquisas pioneiras com o melhoramento genético da bananeira, realizadas pela Embrapa a partir do final da década de 1990, possibilitaram o desenvolvimento de variedades híbridas de banana mais produtivas e com alto grau de resistência à doença. Testadas em diferentes condições de clima e solo dos diversos estados, essas variedades foram adotadas por agricultores de todo o País como alternativa para controle da doença e manutenção da cultura. As variedades resistentes ajudam a diversificar a cultura e melhoram a produção, mas a sigatoka-negra ainda impõe desafios para a pesquisa científica, principalmente o desenvolvimento de variedades resistentes para a banana-comprida e a elevação do grau de resistência das variedades já disponíveis. No Acre, estão em fase de teste novos materiais genéticos de banana dos grupos prata e Terra, com essa finalidade. “Como o comportamento do agente causal da doença varia de acordo com temperatura, umidade e condições de fertilidade do solo, a busca por novas variedades e por plantas cada vez mais resistentes é um trabalho contínuo”, explica a pesquisadora Sônia Nogueira.
Autor: Diva Gonçalves