Método consiste no cruzamento em laboratório de espécies selecionadas para o potencial que se almeja, sem transgenia.
Uma alface que pode durar na geladeira por pelo menos três dias, em vez de um dia só. Uma melancia que pesa 5 quilos, ao invés de 15, para facilitar o transporte e armazenamento e, ainda, com poucas sementes. Um cacho de uva vermelha, completamente sem sementes, doce e crocante. Um pêssego plantado em Pelotas, no Rio Grande do Sul, de sabor suave, esperado por um paulista. Uma cebola que, quando picada, não faz chorar. Todos estes desejos podem e têm sido atendidos por um ramo da pesquisa agropecuária, o melhoramento genético, que consiste no cruzamento em laboratório de espécies selecionadas para o potencial que se almeja, sem vínculos com a transgenia.
Unidades da Embrapa espalhadas pelo país trabalham de 9 a 12 anos para obter cultivares melhor adaptadas às necessidades do agricultor – do ponto de vista do clima, da produtividade e da resistência às doenças – e do consumidor que quer comida melhor, com facilidades como ausência de sementes e volume adequado ao manuseio e guarda. O processo para identificar essas demandas é mais simples do que parece, afirma Fábio Akiyoshi Suinaga, pesquisador e secretário do Comitê Interno da área de Melhoramento Genético da Embrapa Hortaliças, com sede em Brasília. “Ninguém acorda pensando que aquele é o dia de criar uma alface nova”, brinca. O agrônomo diz que a identificação de uma necessidade do consumidor se dá pelo fato de que ele circula em feiras e supermercados e tem expectativas como qualquer um, que o pesquisador vai captar. Da parte do produtor, as informações vêm das visitas a campo. ” O melhorista precisa ouvir para, aí sim, estabelecer um projeto, um cronograma de pesquisa e teste de novas cultivares”, esclarece Suinaga. “É um processo longo em que temos de nos certificar do sucesso”, acrescenta.
Dedicada desde 1968 ao estudo de frutas do clima temperado, Maria do Carmo Bassol Raseira, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, reforça que a conexão permanente com cada segmento da agricultura é fundamental para que se saiba o que é necessário melhorar. “O consumidor está cada vez mais exigente. Ele acessa a Internet e vê, por exemplo, um fruto plantado na Europa, com características de tamanho, aparência e qualidade, e é aquilo que quer. Nos cabe aproximar o fruto nacional deste conceito, respeitando as diferenças climáticas que temos”, explica.
João Dimas Garcia Maia, da Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves, vem trabalhando desde 1978 no melhoramento de cultivares adaptadas à vitivinicultura de todo o país. A unidade já desenvolveu 17 tipos de uva, para utilização na elaboração de vinhos e sucos e também para o consumo in natura. “Nossa função é fazer os cruzamentos para obter as melhores variedades, que agradem ao paladar de quem compra e descompliquem a vida de quem planta, principalmente no que diz respeito à redução da incidência de doenças, que acaba beneficiando as duas pontas, o produtor que gasta menos com defensivos e consumidor que recebe produto com menos químicos”, acrescenta.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/Rural/2018