Apesar da fiscalização da rastreabilidade em frutas e vegetais ser considerada um avanço para o agronegócio brasileiro, os produtores ainda se sentem inseguros e se preocupam com a forma como o controle é feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A norma estabelece a obrigatoriedade de que todas as frutas e hortaliças deverão fornecer informações padronizadas capazes de identificar o produtor ou responsável no próprio produto ou nos envoltórios, caixas, sacarias e outras embalagens.
Segundo o Mapa, o produtor deve informar o endereço completo, nome, variedade ou cultivar, quantidade, lote, data de produção, fornecedor e identificação (CPF, CNPJ ou Inscrição Estadual). A identificação pode ser realizada por meio de etiquetas impressas com caracteres alfanuméricos, código de barras, QR Code, ou qualquer outro sistema que permita identificar os produtos vegetais frescos de forma única e inequívoca.
Para o produtor de goiaba, Henrique Losqui, de Jundiaí/SP, o problema das novas regras está em relação aos produtos já nos supermercados. A possibilidade de ter um hortifruti com resíduos ilegais em uma caixa etiquetada por outro produtor que segue as regras, é o que gera a insegurança. “Como vai garantir que o produto que vai na banca vai ser o nosso? É um impasse ainda a ser superado, se não embalar produto por produto não tem como garantir”, questiona.
A preocupação do produtor não é novidade para o Ministério de Agricultura. Segundo Hugo Caruso, coordenador geral da quailidade vegetal do Mapa, desde que a normativa foi publicada, em 7 de fevereiro de 2018, a insegurança dos agricultores é a mesma. “Isso é o que pessoal tem falado sempre, há um medo disso acontecer. É uma situação que em todos os lugares que a gente vai e fala sobre a norma, eles levantam a preocupação”, afirma.
O medo do produtor é que as multas cheguem ao agricultor que vem trabalhando dentro das regras. O coordenador explica que o prazo para que todos estejam dentro das normas da rastreabilidade vai até 2021 e que por isso, o Mapa ainda não está autuando nenhum agricultor. “Nós não autuamos nenhum produtor até o momento e quando a gente constata uma irregularidade do produto, é aberto um processo de investigação”, explica.
De acordo com Caruso, atualmente as fiscalizações do Ministério da Agricultura ainda estão sendo feitas apenas nas grandes centrais de abastecimentos como Ceagesp e Ceasa, no momento em que o produto entra nos centros. Caso a mercadoria não esteja com a informação obrigatória, ela é liberada após os dados de origem serem anotados e uma intimação é enviada ao produtor – fazendo com que ele cumpra as normas de rastreabilidade.
No primeiro momento, o Mapa tem feito apenas as intimações e posteriomente deverá ser feita uma fiscalização diretamente na propriedade. O tempo entre uma ação e outra está sendo estudado pelo Mapa, que segundo Caruso, ainda busca por parcerias com os governos estaduais para aumentar os números de fiscais. A ideia é que os estados fiquem responsáveis pelas fiscalizações nas propriedades.
Para os produtos a granel, as informações devem constar na nota fiscal feita pelo próprio produtor. Neste caso, segundo Caruso, o atacadista é o responsável por criar as etiquetas de rastreabilidade no momento em que fizer os lotes. Incluindo ainda se o mesmo tem o alimento de mais de um produtor. “Se for constatado que o produto tem alguma irregularidade, será gerada uma investigação para saber quem é o responsável”, afirma.
Nos supermercados convencionais, a ideia é que a fiscalização seja feita pela Vigilância Sanitária de cada município, firmando assim a parceria do Mapa com a Anvisa. Caruso afirma que, até o momento, não há informações de produtores que tenham sido autuados. “Nós não temos notícias de que já estejam autuando os agricultores, porque é um processo que teria que comprovar através de laudo se o agricultor utilizou um agrotóxico ou não”, afirma.
Segundo Caruso, se adequar às normas de rastreabilidade é importante para os consumidores e principalmente para a abertura de novos mercados externos. Sem a rastreabilidade, não é possível chegar ao agricultor que fazia o mau uso de resíduos. “Antes era feita uma coleta de amostra, mas nunca se conseguia chegar até o produtor porque não tinha essa obrigatoridade e ficava apenas a informação e não tinha uma ação de fiscalização posterior”, afirma.
Para o coodenador, a maioria dos agricultores brasileiros hoje fazem o uso correto de insumos e com isso a rastreabilidade só trará pontos positivos, inclusive valorizando os produtos no mercado. “Eu acredito que a grande maioria dos agricultores utiliza os produtores corretamente e esse agricultor vai ter a tranquilidade de saber que o produto dele vai ser valorizado. Porque se ele está produzindo corretamente, as empresas e supermecados vão querer comprar dele”, destacando que os supermercados também podem ser multados se comprarem um produto que não esteja rastreado.
Outro ponto importante de inserir a rastreabilidade no país, é o fato do Brasil estar tentando entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Atualmente o Brasil é membro observador do grupo nos assuntos que envolvem frutas e hortaliças. “Por ter essa posição o Brasil consegue ter a possibilidade de ajuda do OCDE para que os produtores alcancem outros mercados”, afirma Caruso.
Segundo o coordenador, a partir do momento que o Brasil aderiu a posição de observador, a OCDE exigiu que o país cumprisse algumas regras e uma delas é a rastreabilidade de alimentos. “A medida que a gente estiver com tudo rodando direitinho e a OCDE verificar que o Brasil está seguindo tudo que consideram importante, facilitarão a abertura desses mercados”, finaliza.
Fonte: Notícias Agrícolas