O livro “A cultura da goiabeira-serrana” disponibiliza um conjunto de informações técnicas para a produção da Acca sellowiana na região Sul do Brasil. Sendo uma espécie nativa, a popularmente conhecida “goiabeira-serrana” ou “feijoa”, apresenta características que facilitam o seu cultivo comercial. É cultura adequada à agricultura familiar pela sua baixa exigência em insumos quando comparada a culturas como maçã, pêssego, uva. Além disso, permite uma produção com mínimos riscos de contaminação do ambiente e da saúde dos consumidores.
Ao longo dos anos, um grupo de pesquisadores de diversas instituições de pesquisa e ensino, em parceria com a Epagri, vem trabalhando com o intuito de gerar resultados de pesquisa que embasem e possibilitem o cultivo comercial rentável e sustentável da espécie. No entanto, tais informações necessitam ser difundidas entre as regiões com potencial de produção. Assim, esta publicação é gerada do trabalho de pesquisa conjunto e abrange todos as etapas do conhecimento com a cultura, destacando sua importância, origem e disseminação, técnicas de plantio, cultivares, manejo durante o ciclo, até a colheita e pós-colheita dos frutos, incluindo as diversas possibilidades de uso.
No Brasil, a riqueza de espécies autóctones é expressiva, porém é extremamente pequena a utilização dessa biodiversidade comparativamente ao seu potencial. Esse paradoxo é, em grande parte, decorrente de uma estreita base alimentar, a qual promoveu e ainda promove o uso majoritário de espécies exóticas. A partir de 1980, principalmente em razão da erosão genética, da necessidade de atender um mercado cada vez mais exigente e de buscar alternativas para pequenos agricultores, algumas iniciativas despertaram a importância do uso das espécies nativas sob o foco da agricultura familiar resiliente. Assim, o estímulo a estratégias que visem ao aumento da diversidade biológica por meio do uso de espécies nativas é essencial, além da geração de alternativas de renda.
A região Sul do Brasil abriga diversas espécies alimentícias, entre as quais frutíferas nativas com potencial de uso, como a pitangueira (Eugenia uniflora), o araçazeiro (Psidium cattleyanum), a jabuticabeira (Myrciaria cauliflora), a guabirobeira (Campomanesia xanthocarpa), a cerejeira (Eugenia involucrata) e a goiabeira-serrana (Acca sellowiana). A goiabeira-serrana, especificamente, é uma espécie nativa do planalto meridional brasileiro e nordeste do Uruguai, com dispersões na Argentina e no Paraguai. Em virtude de seu potencial organoléptico, tem sido alvo de investigação multidisciplinar pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. (Epagri), em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), desde a década de 1980. A goiabeira serrana também é foco de trabalho em outras instituições de pesquisa e extensão em Santa Catarina, bem como nos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná. O Centro Agroecológico de Ipê, RS, por exemplo, mantém trabalhos desde 1990 com espécies nativas, com especial atenção à goiabeira-serrana. Adicionalmente, considerando seu centro de origem, pesquisas vêm sendo realizadas no Uruguai com vistas a avançar no processo de domesticação da espécie, especialmente no que se refere à caraterização genética e fenotípica, ao melhoramento genético e aos tratos culturais. O interesse no estudo dessa mirtácea está baseado também no fato de a espécie ser adaptada às condições edafoclimáticas das regiões mais frias do sul do Brasil (e nordeste do Uruguai).
Além disso, a espécie apresenta potencialidade devido: à qualidade de seus frutos, que podem ser consumidos in natura ou processados; ao fato de as pétalas das flores poderem ser destinadas ao consumo humano (ex.: decoração de pratos, saladas, doces); e, ainda, devido à beleza de sua floração, a espécie pode ser utilizada como ornamental. Também há que se considerar que a espécie apresenta ocorrência natural nos biomas Mata Atlântica (no ecossistema da Floresta Ombrófila Mista) e Pampa. Esses dois biomas brasileiros vêm sofrendo intensas pressões antrópicas que levam à perda de área e de diversidade. Esse cenário pode colocar em risco a diversidade de populações de ocorrência nesses biomas, a exemplo da goiabeira-serrana. Nesse contexto, existem hoje linhas de pesquisa que têm por objetivo avançar no conhecimento sobre a espécie, sendo objeto desta publicação o levantamento e a sistematização de informações sobre o estado da arte da A. sellowiana, de maneira a contribuir para o desenvolvimento comercial dessa espécie no seu centro de origem, em especial no Brasil.
*Leonardo Araujo – Doutor em Fitopatologia – Pesquisador – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) – Estação Experimental de São Joaquim – Rua João Araújo Lima, 102, Bairro Jardim Caiçara, CEP 88600-000 – Caixa postal: 81 – São Joaquim, SC
Telefone: (49) 3233-8438 – e-mail: araujo.leo@hotmail.com