04/08/2014 – Governo de Goiás
Carmo do Rio Verde/GO
Há mais de 17 anos morando e trabalhando na zona rural, o agricultor Reginaldo Jesus de Souza, de 41 anos, encontrou na banana-maçã a oportunidade de gerar renda e diversificar o sustento de sua família em Carmo do Rio Verde. Ele integra o grupo de 3,8 mil produtores goianos que investiram na banana. Das 241.997 toneladas de banana produzidas anualmente em Goiás, 197 mil toneladas são banana-maçã. Enquanto a média nacional de produção por hectare é de 14,35 toneladas, os produtores goianos colhem até 17 toneladas no mesmo espaço.
Na região de Itaguaru (que inclui Carmo do Rio Verde) a qualidade da banana-maçã produzida e sua lucratividade estão transformando a vida dos produtores. O fruto se destaca em relação ao produzido em outros Estados por ser mais tolerante ao Mal do Panamá e tem características que o tornam mais agradável ao paladar: doce, polpa branca, casca fina e não empedra. Para fortalecer essa produção a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seagro) está traçando um Planejamento Estratégico para o setor, que inclui a criação de um Selo da Banana-Maçã de Itaguaru. Desse modo, o fruto produzido em Goiás e com qualidades diferenciadas pode ser reconhecido em qualquer outro mercado.
De acordo com o agrônomo e gerente especial da Seagro, Rômulo Rodrigues, Goiás é o maior produtor em área dessa banana no País. “A gente possui uma variedade de banana-maçã que é diferenciada no restante do País, porque ela tolera – na verdade ela não é resistente – ela tem uma tolerância a um fungo que chama fuzarium (Mal do Panamá) que mata a bananeira rapidamente, não tornando comercial”, ressalta. A chamada banana-maçã de Itaguaru não é geneticamente modificada e não é de nenhum laboratório, o que a transforma em um produto genuinamente goiano.
“Qual a diferença da banana-maçã e a prata? A banana-maçã é vendida na roça por até R$ 52 a caixa com 19 quilos, a banana-prata – que é uma banana mais consumida que a banana-maçã – é vendida hoje na propriedade a R$ 12 a caixa com 19 quilos. A diferença é muito grande”, argumenta. Segundo ele, a banana-maçã tem produtividade mais baixa. Ela produz até 15 toneladas por hectare-ano. Já a banana-prata produz 30 toneladas por hectare-ano.
A Seagro está montando um Planejamento Estratégico juntamente com todos os setores (com a Agrodefesa, Emater, iniciativa privada, cooperativas) para consolidar a cadeia produtiva da banana. Para isso algumas ações serão adotadas tais como a realização de um seminário estadual de bananicultura; montar Laboratório de Tecido de Cultura Vegetal – que produz várias mudas in vitro (clonagem) – para “limpar” as mudas; patentear a banana-maçã de Itaguaru como variedade de origem goiana; e requerer junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) um selo de indicação geográfica para essa banana-maçã de Itaguaru.
Há pouco mais de cinco anos Reginaldo mal conseguia sustentar sua família, na zona rural de Carmo do Rio Verde. Com um modelo de agricultura familiar, o que produzia em sua fazenda não cobria os custos de produção e ele chegou a cogitar sair do campo para tentar a vida na cidade. Foi aí que os técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Goiás (Emater) sugeriram a ele utilizar sua propriedade como pesquisa para a banana-maçã, banana-nanica e banana-prata.
No projeto financiado pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) plantou dois hectares com essas três variedades, mas somente uma delas se adaptou à região. Quase seis anos depois os resultados da pesquisa podem ser vistos: hoje ele tem dez hectares em produção da banana-maçã e em outros 12 onde está começando a produzir. A colheita anual já ultrapassa as 18 toneladas por hectare.
A vida da família mudou. Antes ele tinha 24 hectares, agora ele já comprou mais sete. Parte da produção está em área arrendada e a meta é expandir o negócio. Para auxiliar nesse processo produtivo, com a ajuda da Emater ele construiu uma câmara fria, recebeu consultoria sobre qual produto usar no amadurecimento da fruta e comprou uma caminhonete para o transporte. A banana-maçã que ele colhe é vendida diretamente a mercados dos municípios de Ceres e Rialma. Outros 200 quilos ele fornece semanalmente a sete escolas estaduais e municipais de Uruana, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
O técnico agrícola da Emater, José Wilson de Oliveira, expõe que o objetivo do projeto de pesquisa era difundir a produção de banana através de mudas certificadas e mostrar ao produtor as vantagens desse fruto que permite rentabilidade durante praticamente todo o ano. Uma bananeira sem o manejo adequado dura cerca de um ano. Com o manejo correto ela pode durar até cinco anos, permitindo ao produtor mais tempo de produção com menor replanta.
Depois do sucesso da produção de banana-maçã com a consultoria da Emater, Reginaldo avança agora em nova forma de produção: com irrigação. Com o suporte técnico da Emater e fornecimento do equipamento de irrigação pela Seagro essa tecnologia permitirá que ele colha no período da entressafra, momento em que outros produtores que não irrigam a plantação não terão o fruto. O custo médio por hectare para irrigação é de R$ 700. O custo total por alqueire de uma lavoura irrigada é de cerca de R$ 15 mil, enquanto que em uma mesma área não irrigada o custo é de R$ 8 mil. No entanto, o bananal irrigado produz 50% a mais do que a mesma área sem irrigação e é possível colher durante o ano inteiro.
Os resultados positivos da banana-maçã fizeram com que Reginaldo encorajasse seus vizinhos a investirem nesse produto. Celso Sérgio Cunha, 51 anos, há 30 anos é produtor rural, sempre investindo na produção de leite. Quando Reginaldo sugeriu que investisse em banana-maçã ele não acreditou muito nos resultados, mas a insistência do vizinho fez com que ele aceitasse ser seu sócio em uma lavoura. Pouco mais de dois anos depois ele não tem dúvidas de que fez a escolha certa. “Eu quero aumentar a área plantada”, afirma Celso. Os números demonstram os resultados: Cinco hectares de banana geram mais lucratividade do que 20 hectares de gado leiteiro.
Fiscalização – Goiás é o maior redistribuidor de banana do País. Todo esse produto que sai dos variados estados brasileiros passa pelos Ceasas goianos. O Estado é zona livre de Sigatoka-negra (tipo de fungo – doença quarentenária que afeta todas as variedades de banana e faz com que os estados onde têm essa doença não possam exportar a banana). Para manter essa condição e evitar a disseminação de pragas o Estado faz um rígido controle fitossanitário por meio da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa). De janeiro a julho de 2014 a Agência fiscalizou 6.157 veículos. Ao todo foram fiscalizadas 73.373,72 toneladas de banana no território goiano.
“O Estado de Goiás é zona livre, não tem a doença, então podemos mandar banana tanto para o Amazonas quanto para o Rio Grande do Sul. Isso nos torna o maior redistribuidor de banana do País. A banana que sai de São Paulo, Santa Catarina ou Bahia, não vai para Mato Grosso, Tocantins, sem antes passar pelo Ceasa Goiás, Ceasa Anápolis ou Ceasa Brasília”, detalha Rômulo. Goiás é o maior produtor do País da banana-maçã e exporta 60% de sua produção. Mas o maior produtor de banana, de um modo geral, é São Paulo, na variedade banana-nanica. Depois vem a Bahia com variedade prata e em seguida Minas Gerais com banana-nanica e prata.
As ações de defesa vegetal são desenvolvidas pela Agrodefesa. Os produtores devem seguir algumas medidas: Cadastramento e recadastramento das propriedades de banana na Agrodefesa; transporte de mudas e frutos sempre com Guia de Trânsito de Vegetais (GTV) interna – para trânsito dentro do Estado; transporte de mudas e frutos sempre com GTV externa – para trânsito entre estados; transporte de frutos somente em caixas plásticas higienizadas, caixas de madeira de primeiro uso ou de papelão; proibição do trânsito de bananas em cacho; proibição do trânsito de folhas de bananeira ou parte de planta no acondicionamento de qualquer produto; destruição de plantas de bananeira abandonadas e sem controle de pragas em faixas de domínio, acontecendo o mesmo para os cultivos de Helicônia (variedade de planta semelhante à bananeira) que estiverem na mesma situação; instituição da autorização para aquisição de mudas de banana provenientes de outros estados da federação e trânsito acobertado com a Guia de Trânsito Vegetal Externo, Nota Fiscal e Termo de Conformidade.
“Esse trabalho com a cultura da banana já tem mais de dez anos e é focado em algumas pragas, que são pragas quarentenárias. Essas pragas são de importância econômica e que ameaçam a economia do País, geralmente são organismos exóticos que foram introduzidos no País”, informa a fiscal estadual agropecuária da Agrodefesa, Fernanda de Sillos Faganello. Praticamente todos os municípios possuem fiscais agrônomos da Agrodefesa. “A maior importância é manter o status fitossanitário do Estado para que a atividade econômica de uma cultura e de um produto regulamentado mantenha-se sustentável”.
Controle – Para consolidar essa produção, esses agricultores investem agora no controle de pragas. Em uma das áreas que Reginaldo planta houve incidência da Sigatoka-amarela. O fungo “queima” as folhas da bananeira e desidrata a planta. Isso diminui a produção e a qualidade do fruto produzido. Ele também identificou na sua propriedade o Mal do Panamá, que destrói toda a planta – do caule até o cacho. A ocorrência dessas doenças prejudica a produtividade e gera um alerta. Nos locais onde foram encontrados esses fungos somente após 40 anos pode ser reiniciada a plantação. Uma vez que o ciclo da bananeira (com o manejo adequado) pode durar até 5 anos resta ao produtor continuar o controle dessas doenças na área já infectada para prolongar o máximo que puder essa produção. E quando essa lavoura não mais produzir, outro tipo de cultura deve ser plantada no local.
A grande preocupação da Seagro é que essas pragas, cuja incidência foi registrada em várias propriedades, sejam transmitidas para outras lavouras por meio do uso de mudas contaminadas. “Falta manejo correto com essa variedade. O produtor vem utilizando uma metodologia ou prática cultural antiga que facilita a infestação dessas pragas nessa variedade. Por ela ser tolerante a uma doença de solo, que é o Mal do Panamá, o pessoal parou de preocupar com a Broca da Bananeira e, principalmente, o nematóide. E isso vem causando prejuízos, o pessoal não sabe cultivar. Esses bananais vêm perdendo produtividade, vêm morrendo…”, explica Rômulo Rodrigues. Levantamento da Seagro aponta redução de 5 mil hectares na produção de banana devido a incidência de pragas nos últimos anos.
Para conscientizar os produtores sobre a importância desse manejo adequado (espaçamento entre as plantas, uso de mudas “limpas”, entre outros), a Seagro têm realizado reuniões com esse público-alvo. Levando especialistas para mostrar aos agricultores sobre a necessidade de tomar as medidas necessárias para evitar a transmissão da doença a outros bananais. Reginaldo foi um desses produtores que participou de uma dessas reuniões. “Ficou claro que temos que estar atentos a essas pragas e ao manejo”, expõe. Além disso, uma série de ações conjuntas entre Seagro, Emater, Agrodefesa, Embrapa e produtores rurais estão sendo viabilizadas.
“A Agrodefesa vai tratar com mais rigor trânsito de mudas, o complexo de transporte de bananas e toda a documentação que tem que ter. A Emater, na parte de pesquisa – nós vamos tentar limpar essa banana – vamos fazer o que: o laboratório já existe, nós vamos melhorar ele. Nós vamos reproduzir essa banana in vitro, que é limpar ela dessas doenças e fornecer pros produtores de mudas base. E a Emater Assistência Técnica vai dar assessoria aos agricultores familiares. Então o que a gente quer é um boom de informações para esse setor se consolidar”, pontua Rômulo. Ele complementa afirmando que o problema hoje está na muda. “A muda hoje está contaminada. E o produtor erroneamente acha que jogando um produto químico vai acabar e na verdade não acaba com essa praga. Ele já começa o plantio com problema. Então a gente quer o seguinte: Já que ele vai começar, que ele comece com a muda limpa”, conclui Rômulo.