Foto: Renata Silva – Embrapa Banco de Imagens
Nome científico: Helianthus annuus L.
Nomes populares: girassol, mirassol
Família botânica: Asteraceae
(autor: José Luis da Silva Nunes – Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fitotecnia)
O girassol (Helianthus annuus L.) é uma dicotiledônea anual, pertencente à ordem Asterales e família Asteraceae. O gênero deriva dos termos gregos helios, que significa sol, e anthus, que significa flor, ou “flor do sol”, que gira seguindo o movimento do sol. É um gênero complexo, compreendendo 49 espécies e 19 subespécies, sendo 12 espécies anuais e 37 perenes.
O sistema radicular é pivotante, crescendo mais rapidamente que a parte aérea da planta, no começo do desenvolvimento, sendo formado por um eixo principal e raízes secundárias abundantes, capazes de explorar um grande volume de solo e seus recursos hídricos.
No estádio cotiledonar já atinge de 4 a 8 cm de comprimento, com seis a dez raízes secundárias. Durante a fase de quatro a cinco pares de folhas, pode chegar a uma profundidade de 50 a 70 cm, atingindo o máximo do crescimento na floração, quando atinge até 4 m de profundidade em solos arenosos.
Na parte superior da raiz, cresce grande número de raízes laterais, sendo que parte delas cresce no começo paralelamente à superfície do solo até uma distância de 10 a 20 cm da raiz principal, depois se aprofundando no solo, e outra parte cresce exclusivamente no sentido horizontal, formando uma espessa rede de radicelas, a uma profundidade de 10 a 30 cm.
A profundidade explorada pelo sistema radicular do girassol depende dos atributos físicos e químicos do solo. Cerca de 65% das raízes funcionais se encontram nos primeiros 40 cm. Devido à sua capacidade de explorar grande volume de solo, o sistema radicular do girassol contribui para que esta planta seja mais resistente à seca, comparativamente a outras espécies produtoras de grãos, além de promover a ciclagem dos nutrientes que se encontram nas camadas mais inferiores do solo, normalmente não exploradas por outras espécies cultivadas. No entanto, todas essas qualidades da planta de girassol requerem a inexistência de impedimentos físicos ou químicos no solo.
O girassol cultivado é uma planta de haste única, não ramificada, ereta, pubescente e áspera, vigorosa, cilíndrica e com interior maciço. Em períodos de frio, podem aparecer ramificações laterais que terminam em inflorescências, mas essa é uma característica indesejável para a produção de óleo ou sementes. Tem cor verde até o final do florescimento, quando passa a amarelada, chegando a pardacenta no momento da colheita. Sua altura, nas variedades para produção de óleo, varia de 60 a 220 cm, e seu diâmetro, de 1,8 e 5 cm, sendo a porção mais próxima à superfície do solo mais espessa e com pouca ou nenhuma pilosidade.
Girassóis em Vilhena, RO. Foto: Renata Silva – Embrapa Banco de Imagens
Têm papel muito importante no estabelecimento da cultura, no fornecimento de nutrientes durante os estádios iniciais. Têm pecíolos curtos, são carnosos, ovalados e grandes, com aproximadamente 3 cm de comprimento e 2 cm de largura. Durante o dia permanecem em posição horizontal. Durante a noite, colocam-se em posição suavemente oblíqua (ROSSI, 1998). O hipocótilo pode apresentar-se nas seguintes cores: verde-esbranquiçado, verde-avermelhado ou vermelho-antociânico.
Ao longo do caule, distribuem-se as folhas do girassol em número e formas variáveis. Podem ser longopecioladas, alternadas, acuminadas, rombóides, dentadas, lanceoladas, apresentando pilosidade áspera em ambas as faces. Após a emergência epígea das plantas e o aparecimento dos cotilédones (inseridos de maneira oposta), surge o primeiro par de folhas (opostas) com maior desenvolvimento da lâmina foliar. Geralmente são rombóides, mas algumas vezes lanceoladas; os bordos são lisos, raramente com leve serreado. O segundo par de folhas é lanceolado, com maior desenvolvimento do pecíolo e bordos serreados. As folhas do terceiro par geralmente são triangulares, raramente condiformes e com bordos dentados. Os três primeiros pares de folhas são opostos. A partir daí, as folhas crescem alternadamente, sendo a distância entre o primeiro e segundo nó de folhas alternadas mais curto, a distância entre o segundo e o terceiro nó de folhas alternadas maior, voltando a diminuir entre o terceiro e o quarto nós, e assim sucessivamente. Essas folhas geralmente são cordiformes, longopecioladas e com limbo foliar bem desenvolvido.
As folhas terminais apresentam uma nova diferenciação. Os pecíolos ficam menores e as folhas vão ficando mais trianguladas e com menor tamanho. As últimas folhas transformam-se em brácteas do invólucro. As folhas são trinervadas, cordiformes com longo pecíolo e ásperas ao tato nas duas faces. O número de folhas varia de 12 a 40, dependendo da cultura e de cada híbrido.
Os pecíolos são compridos e elásticos, permitindo o movimento das folhas com o vento. Possuem um canal que facilita o transporte de água da chuva que cai sobre parte das folhas, sendo dirigida ao colmo e deste à raiz.
O crescimento em altura da planta se deve à atividade da gema apical vegetativa, localizada no ápice do caule. Após certo período de crescimento, ocorre uma diferenciação na gema apical, que se torna reprodutiva, repleta de primórdios florais, originando a inflorescência do girassol.
A inflorescência é do tipo capítulo e as flores são dispostas ao longo do receptáculo floral, o qual apresenta brácteas imbricadas, compridas e ovais, ásperas e pilosas. O diâmetro médio do capítulo pode variar de 17 a 22 cm, dependendo da variedade e do híbrido, e das condições ambientais a que é submetido. O capítulo é composto por: pedúnculo floral, receptáculo, flores e invólucro. O receptáculo floral pode ser plano, côncavo ou convexo.
O receptáculo floral pode ser plano, côncavo ou convexo. O diâmetro do capítulo pode variar de 6 a 40 cm, contendo de 100 a 8.000 flores bissexuadas. O ideal é que o receptáculo floral seja plano, repleto de flores e com diâmetro de 20 a 25 cm, pois esta forma favorece a secagem.
Uma característica comum do girassol é sua capacidade de girar no sentido do movimento aparente do sol (movimento heliotrópico), o que deu à planta seu nome botânico e comum. Esse movimento ocorre durante todo o período da floração plena, sendo resultado de dois movimentos complementares, um de rotação espiralada do caule, e outro de ereção das folhas e do capítulo. Ao amanhecer, o caule se encontra em posição normal, de frente para o leste; com o aparecimento do sol, começa a girar e faz uma volta de mais de 90°, para chegar, ao entardecer, de frente para o oeste.
Além disso, um segundo movimento que o capítulo e as folhas superiores realizam é a passagem de caídas no início do dia, para eretas durante o meio dia e caídas novamente durante o entardecer. O movimento contrário também ocorre durante a noite, sendo que à meia-noite os capítulos chegam a uma posição ereta. Assim que se encerra o florescimento, os capítulos permanecem virados para o leste.
As flores inseridas no receptáculo são de dois tipos: tubulosas (férteis) e liguladas (inférteis). As tubulosas são as flores propriamente ditas, sendo hermafroditas. São compostas de cálice, corola, androceu e gineceu e ocupam toda a superfície do receptáculo. Uma vez fecundadas, originam as sementes e os frutos. Dependendo da variedade, pode haver entre 1.000 a 1.800 flores férteis em cada receptáculo. Já as flores liguladas são incompletas, com um ovário, têm cálice rudimentar e uma corola transformada, parecida com uma pétala. Geralmente, encontram-se de 30 a 70 flores liguladas em um capítulo.
As flores tubulares florescem da periferia para o centro do capítulo, em círculos concêntricos e sucessivos. Normalmente, uma flor leva dois dias para se desenvolver, florescendo 3 a 4 círculos concêntricos por dia. O florecimento total do capítulo leva de 5 a 15 dias para se completar, e o ciclo vital de uma flor é de 24 a 36 horas.
As flores de girassol apresentam o fenômeno da protandria, isto é, as anteras amadurecem antes do estigma. Assim, trata-se de uma planta alógama, ou seja, de polinização cruzada, na qual a autofecundação é praticamente inexistente. Em função de ser relativamente pesado, o pólen movimenta-se muito pouco pelo vento, e a entomofilia constitui-se no mecanismo básico de polinização do girassol, pricipalmente pela ação de abelhas. Contornando o capítulo, há uma série de folhas transformadas (invólucro), denominadas brácteas, que impedem a queda natural dos frutos. Essas folhas nascem diretamente do receptáculo floral e, antes da floração, separam-se, deixando primeiro aparecer as flores liguladas e depois as tubulosas (férteis).
O órgão da planta de maior importância econômica é o fruto, impropriamente chamado semente. É um fruto seco, do tipo aquênio, oblongo, geralmente achatado, composto pelo pericarpo (casca) e pela semente propriamente dita (polpa ou amêndoa). Conforme o cultivar, o fruto é variável quanto a tamanho, cor e teor de óleo (PEIXOTO, 2004). No Brasil, dentro da rede do Agronegócio do Girassol, aplicam-se os seguintes termos técnicos, de cunho comercial, para o aquênio do girassol:
a) “semente”, quando o fruto é utilizado para a propagação (semeadura) da cultura;
b) “grão”, quando o aquênio é colhido, transportado e entregue aos armazéns e indústrias moageiras, para posterior moagem e obtenção do óleo bruto e do farelo fibrosoproteico do girassol. A casca do fruto (pericarpo) é fibrosa, podendo ser da cor branco-estriada, parda, negra, ou negroestriada. A espessura do aquênio varia de acordo com o cultivar ou híbrido. Geralmente, os frutos pretos ou pretos-estriados possuem pericarpos mais finos que os branco-estriados. Os melhores híbridos ou variedades de girassol têm 75% do peso do aquênio composto pela semente botânica (amêndoa) e 25% pela casca (pericarpo). Os aquênios têm seu tamanho reduzido à medida que se avança da periferia para o centro do capítulo (ROSSI, 1998). Aquênios com casca grossa e desgrudada da semente (amêndoa) produzem menor teor de óleo que aqueles com casca fina e aderida à amêndoa. A relação casca/amêndoa é uma característica do genótipo e influenciada pelas condições edafoclimáticas.
Existem dois tipos de “sementes” (frutos) de girassol, classificadas segundo sua utilização:
– Sementes oleosas;
– Sementes não oleosas.
As sementes não oleosas são maiores e possuem casca (pericarpo) mais fibrosa facilmente removível, sendo usadas para consumo humano como amêndoas ou como ração para pássaros; enquanto que as “sementes” oleosas apresentam casca bem aderida, sendo usadas para produção de farelo e para extração de óleo. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, o fruto do girassol tem 24% de proteínas e 47,3% de óleo, sendo rico em ácido linoleico. O ácido linoléico é o mais conhecido tipo de ácido graxo, substância que não é produzida pelo organismo humano, mas é essencial à vida. A composição química dos frutos de qualquer genótipo de girassol varia com o local de produção, clima, fertilizantes e até mesmo com a posição do aquênio no capítulo
Botanicamente, a semente (amêndoa) é constituída por dois cotilédones carnosos. Na extremidade mais afilada da amêndoa encontra-se a plúmula ou gêmula, que da mesma forma que os cotilédones contêm óleo e grânulos de aleurona. O teor de óleo na semente de girassol varia de 26 a 72%. A amêndoa, como a parte mais importante do fruto de girassol, é constituída pelo endosperma, com tecido de reserva classificado como oleaginoso, e pelo embrião, formado por um eixo embrionário dividido em duas partes: radícula e caulículo.
Fonte: BORTOLINI, E.; PAIAO, M.S.; D’ANDRÉA, M.S.C. A cultura do girassol. In.: PRIMIANO, I.V. (Editor). Piracicaba: Editora da USP. 2012. 69 p.
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O girassol é a flor nacional da Ucrânia.
A flor foi usada como símbolo do esteticismo, movimento artístico do século XIX que enfatizou os valores estéticos em detrimento de temas sociais na literatura, nas belas artes como a pintura e no design de interiores.
Lenda do Girassol (cultura Ianomâmi) – CLIQUE AQUI para ler
As flores foram tema de uma série de pinturas de Van Gogh, da qual faz parte a célebre “Três Girassóis” (imagem abaixo)