Uvaia, cambuci, araçá, entre outras frutas da Mata Atlântica, estão servindo de matéria-prima para a Albero dei Gelati, sorveteria com sede na Itália e trazida pela administradora Fernanda Pamplona ao Brasil. Apelidado de gelato agrícola, o sorvete segue os princípios da criação italiana, mas tem receitas tropicalizadas pela administradora, a fim de valorizar os frutos nativos.
Fernanda Pamplona, administradora da Alberto dei Gelati em São Paulo, teve a ideia de aproveitar as frutas da Mata Atlântica para novos sabores de sorvetes (Foto: Divulgação/Bruno Geraldi)
Ela conta que trabalhou por um período em uma Casa de Agricultura em São Paulo e sempre gostou de manter o contato próximo com produtores rurais. Anos se passaram e, após ser funcionária na Albero dei Gelati em Milão, ela conseguiu unir as duas ideias: tornar-se uma artesã de gelatos valorizando o trabalho de pequenos agricultores.
Ao voltar para a capital paulista, decidiu variar o cardápio de sorvetes entre os sabores italianos e brasileiros, mediante à safra das frutas da Mata Atlântica. Por isso, os clientes devem estar cientes de que há uma rotatividade dos gelatos oferecidos – tudo depende da sazonalidade.
Aos poucos, a carteira de fornecedores das matérias-primas vai se ampliando, a maioria espalhada pelo interior de São Paulo. O curioso, ela diz, é que muitos produtores não enxergam as frutas como fonte de renda, pois a atividade principal está concentrada em outro cultivo ou até na pecuária. Um simples pé de uvaia, no canto de um sítio, pode ser de grande serventia para os gelatos e aumentar o orçamento familiar de quem comercializa.
“Em época de uvaia, por exemplo, já chegamos a receber 300 quilos dos produtores parceiros. São frutas que, às vezes, caem do pé e ficam por ali. Ao conversar com os agricultores, mostramos que aquilo pode virar dinheiro. Quando acaba a safra, explicamos aos clientes que isso acontece por conta da sazonalidade, mas logo conseguimos substituir por outra fruta da época”, diz.
O modelo de negócio pensado por Fernanda tem dado tão certo, que o abastecimento direto do produtor se expandiu para além das frutas. A fazenda Terra Límpida é fornecedora do leite utilizado nas receitas, e um sabor que cai bem no gosto do consumidor é de queijo da Serra da Canastra com mel de abelha jataí e castanha de caju, 100% nacional.
“Uma vez por semana, eu vou até o interior para buscar o leite, conversar com o produtor, mostrar que o leite virou sorvete. Isso contribui para o nosso relacionamento, atribui valor à produção e também aproxima o cliente do campo”, relata. Para quem tem dúvida entre a diferença de gelato e sorvete, Fernanda esclarece que há uma diferenciação no nível de gordura. Enquanto gelatos possuem até 6% de gordura, os sorvetes chegam a ter até 30%.
Outros detalhes também dão o tom de sustentabilidade da gelateria. Copos feitos de mandioca, composteira para os dejetos de frutas e pazinhas biodegradáveis de milho chamam a atenção dos clientes. “Moro fora do País e toda vez que venho para São Paulo passo na Albero. São sorvetes com experiência, que trazem o gostinho do campo”, relata um consumidor acompanhado da família na filiam no bairro de Pinheiros.
Fonte: Globo Rural – MARIANA GRILLI –