Durante o webinar sobre o controle da leprose realizado pelo Fundecitrus algumas dúvidas enviadas pelo público não puderam ser discutidas ao vivo devido à grande quantidade de mensagens, mas elas foram respondidas posteriormente pelos participantes.
Abaixo seguem algumas delas:
José Renato Melare – Gostaria de mais informações sobre o intervalo de nível de ação 3 a 15%. Como o Fundecitrus chegou a esses valores? Retirei essa informação do site do Fundecitrus.
Fagner Oliveira – Tem um percentual mínimo para iniciar a pulverização no talhão?
Não existe uma relação determinada entre a densidade populacional do ácaro e os danos causados pela leprose, uma vez que nem todo ácaro está contaminado com o vírus da leprose dos citros. Assim, o nível de ação a ser adotado é de escolha do citricultor e depende do nível de tolerância que ele estabelece em relação à ocorrência da doença, da sua confiança na amostragem, do histórico da doença e da população de ácaro na área ou região e da facilidade de realizar a aplicação imediatamente após a detecção deste nível de ação no talhão.
Níveis mais rigorosos de ação, como a simples presença do ácaro a até 3% de amostras com ácaro, são utilizados quando a tolerância à ocorrência da doença é baixa, os erros de amostragem são maiores, há histórico da doença no talhão, a região é favorável à multiplicação do ácaro e há dificuldade de fazer a aplicação rapidamente após a detecção do nível de ação escolhido.
Níveis menos rigorosos de ação, como 5 a 10% de amostras com ácaro, são usados quando a amostragem é mais segura e rigorosa, não há pressão da doença na região e há facilidade de pulverizar imediatamente após a detecção do nível de ação.
Carlos Alberto - Fazemos a rotação dos produtos de diferentes grupos químicos e modo de ação. Tivemos grandes problemas com o acaricida Envidor. O que vocês teriam para indicar?
Rotação de produtos significa usar em aplicações sequenciais produtos de modo de ação diferentes dentro da mesma safra, isto é, não repetir o mesmo produto seguidamente. A baixa eficiência de determinado acaricida não necessariamente indica que há população do ácaro resistente no talhão. A causa deve ser investigada: má aplicação do produto, dose, volume de aplicação, momento de aplicação, índice de infestação no momento da aplicação, época do ano da aplicação, se foi aplicado em mistura com outros produtos. Minha sugestão é que se faça um teste para ver se a população do ácaro na fazenda/talhão está resistente ao acaricida e investigar outras possíveis causas do insucesso de controle.
José Renato Melare – É correto afirmar que devemos concentrar o controle do ácaro no período de inverno, mesmo em populações baixas, pois em outros períodos temos maior pressão de outras pragas e doenças?
O controle do ácaro da leprose deve ser feito durante o ano todo baseado na sua população no talhão, para evitar que a população aumente muito e se perca o controle, o que levará a reaplicações de acaricidas e aos danos da doença. Normalmente, a população do ácaro começa a aumentar nos períodos secos e durante o desenvolvimento dos frutos, o que normalmente ocorre no outono e inverno. Porém, nos últimos anos temos tido veranicos durante a primavera e verão, que, associados à temperatura maior, favorecem a multiplicação dos ácaros também nessa época. Alguns citricultores têm concentrado o controle do ácaro no período de outono e inverno, pois sabem que na época de florada e brotação haverá competição por equipamentos para o controle de outras pragas e doenças e, assim, o controle do ácaro poderá atrasar e ser prejudicado, então tentam reduzir ao máximo a população do ácaro antes deste período da florada e de maior utilização de equipamentos para não correr riscos. Mesmo assim, algumas aplicações serão necessárias em outras épocas do ano, dependendo do clima.
Danilo Pereira – Quais moléculas de inseticida pode ter efeito negativo na mistura de calda com o Espirodiclofeno?
Foram estudadas na Unesp/campus de Jaboticabal a compatibilidade entre algumas moléculas inseticidas com o acaricida espirodiclofeno. Os inseticidas imidacloprido, fosmete, bifentrina e cipermetrina apresentaram incompatibilidade biológica com o espirodiclofeno, podendo reduzir em até 30% o efeito deste acaricida no controle do ácaro da leprose. Com relação ao efeito sobre o pslídeo Diaphorina citri não foram verificadas incompatibilidades entre os inseticidas e o acaricida.
Alirio FCA – Alguma novidade no controle do vírus ou mesmo plantas resistentes a ele?
Nos últimos anos houve muitos avanços com relação ao conhecimento sobre o vírus. Por exemplo, hoje sabemos que existem pelo menos duas estirpes do vírus da leprose (CiLV-C), um chamado de Cordeirópolis e o outro de São José do Rio Preto. Contudo, infelizmente, o controle da leprose continua pautado no controle do ácaro-vetor. Nós não temos novidades na prática quanto ao controle do vírus, bem como quanto ao uso de plantas resistentes à leprose.
José Renato Melare – Numa suposição que a propriedade não tem o vírus, posso conviver com o ácaro até uma possível chegada do vírus ou o risco é muito grande?
Pensado na produção de laranja-doce (mais suscetível à leprose), considero um risco muito alto conviver com o ácaro, uma vez que ácaros contaminados pelo vírus podem chegar facilmente na propriedade. O ideal é não “baixar a guarda” no controle do ácaro, pois evitar os primeiros sintomas de leprose é o melhor dos cenários. O vírus, uma vez presente na propriedade geralmente dissemina-se muito rápido entre as plantas e pode comprometer a produtividade do pomar. Com a população do ácaro sempre baixa é possível evitar uma disseminação muito rápida da leprose na área.
José Renato Melare – O que pode acontecer a médio/longo prazo com o uso de subdoses para controle do ácaro da Leprose.
O uso de subdoses de acaricidas acelera o processo de seleção de populações resistentes. Isso é muito grave, pois o acaricida pode perder ou diminuir a eficiência em curto espaço de tempo. Além disso, até o mesmo o comportamento do ácaro pode ser alterado por subdoses, por exemplo, aumentando o número de ovos colocados.
Edson Rigotto – Podemos esperar um impacto positivo na redução da população dos ácaros devido às geadas e baixas temperaturas ocorridas hoje?
De maneira geral sim. Geadas e baixas temperaturas podem causar redução a curto prazo da população do ácaro. Entretanto, em termos de manejo, isso não deve considerado. Por ser um ácaro-vetor, apenas alguns indivíduos podem transmitir o vírus e causar prejuízos. Dificilmente, geadas e baixas temperaturas conseguirão eliminar totalmente a população do ácaro. Os ovos e mesmo os ácaros adultos são bem tolerantes as baixas temperaturas e a condições adversas. Enfim, penso que geadas e as baixas temperaturas podem contribuir para redução da população, porém os métodos tradicionais de controle da leprose devem continuar a ser empregados rotineiramente.
Danilo Yamane – Professor Daniel, tem algum resultado referente a mistura de enxofre com acaricidas, em termos de eficiência de controle do ácaro da leprose?
Sim, nós verificamos recentemente que o uso de enxofre liquido (SC) em misturas com os acaricidas Envidor, Oberon e Okay não trouxe melhorias no controle do ácaro comparado ao uso do acaricida sozinho. Pelo contrário, nós verificamos redução do período de controle do acaricida quando em mistura com o enxofre SC.
Danilo Yamane – Alguma perspectiva do registro de novos produtos para controle do ácaro da leprose?
Marcos Paulo – Pensando em produtos para ácaro da leprose, tendo em vista o Espirodiclofeno como carro chefe, mas com uma molécula saturada, o que tem de novidade no mercado para um futuro próximo?
Eu tenho notado grande interesse das empresas no desenvolvimento de produtos para controle do ácaro da leprose. É possível que nos próximos anos sejam lançados novos produtos (químicos e biológicos) para controle do ácaro da leprose. Porém, isso ainda pode demorar alguns anos dada a dificuldade de obtenção de registros junto ao MAPA e demais processos necessários.
Jaqueline Della Vechia – Como vocês enxergam o controle biológico para manejo do ácaro da leprose? Como orientar o pessoal para uma associação entre métodos de controle?
Certamente o controle biológico é um dos pilares mais importantes no manejo de pragas. No caso do ácaro da leprose, vejo que o controle biológico conservativo e o aplicado devem ser priorizados. O uso de acaricidas e inseticidas mais seletivos contribuem para o controle biológico conservativo. O controle biológico aplicado com fungos entomopatogênicos tem crescido bastante e hoje em dia tornou-se uma ferramenta importante no controle do ácaro.
Pedro Estefano – Já foi identificado presença de infecção por leprose nas tangerinas cravo ou outras variedades de citros?
Sim, o vírus da leprose pode causar infecção em diversos tipos de tangerinas, incluindo a tangerineiras Cravo e a Ponkan. Por outro lado, alguns tipos de citros, como a lima ácida Tahiti e o limão Cravo são resistentes ao vírus da leprose.
Danilo Yamane – Em áreas problemáticas, o que acham da pulverização preventiva após a colheita/poda, iniciando o novo ciclo com população baixa?
A pulverização após a colheita traz alguns benefícios como a redução da população do ácaro na planta, pois parte deles são retirados juntamente com os frutos e com a pulverização é possível reduzir a população do ácaro a níveis muito baixos, e a redução da barreira vegetal possibilitando uma melhor cobertura e deposição de calda nos alvos.
Vitor Lacorte – O rendimento operacional do controle muitas vezes pode ser um entrave. Existem trabalhos avaliando as pulverizações via drone e pulverizações de ultrabaixo volume?
Estamos estudando atualmente a pulverização aérea com drones, mas considerando as peculiaridades no controle da leprose dificilmente esta tecnologia seria uma alternativa, pois os volumes de calda praticados são relativamente baixos e consequentemente a cobertura da pulverização também, além do fato desta tecnologia proporcionar uma cobertura basicamente na parte externa da planta, não conseguindo atingir os alvos mais internos que é onde o ácaro da leprose se encontra.
Fonte: Fundecitrus.