Saborosas, cheirosas, suculentas e mais baratas. As mangas, que estão entre as frutas mais apreciadas pelos baianos, registraram queda de até 40% nos preços nas últimas semanas na região metropolitana de Salvador.
Na Central de Abastecimento de Simões Filho, a caixa da manga Palmer caiu de R$ 70 para R$ 45. A Tommy, que custava R$ 65 agora está sendo comercializada por R$ 40. E a Rosa, que chegava a ser vendida por R$ 105 nos últimos dias não passa mais dos R$ 80.
A diminuição no atacado se reflete com mais força no varejo. No Mercado da Sete Portas o quilo está sendo vendido por até R$ 2, e em alguns grandes supermercados caiu para até R$ 3,50.
E seja a Palmer, a Tommy ou as tradicionais Rosa ou Espada, elas devem continuar com as cotações reduzidas em outubro. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a tendência de queda é nacional e vários fatores estão influenciando nas reduções, principalmente o excesso de frutas no mercado.
“A oferta está mais expressiva na maior parte dos municípios produtores, as vendas mais lentas e as exportações para a Europa ainda estão abaixo do esperado. Além disso houve uma retirada maior de mangas fora do ponto ideal de maturação, o que também limitou o escoamento”, diz o relatório do Cepea.
Nesta época a colheita está em ritmo intenso em São Paulo e no norte de Minas Gerais. Na Bahia, os principais produtores estão concentrados no Vale do São Francisco e no sudoeste do estado, na região do perímetro irrigado de Brumado. Em Livramento de Nossa Senhora, o quilo da fruta que já chegou a custar até R$ 2, não tem passado de R$ 1 faz várias semanas. E já tem até agricultor adiando a colheita.
No município existem cerca de 500 produtores de manga que mantêm pomares irrigados e direcionam mais de 95% da produção para o sudeste do país.
Já no Vale do São Francisco, responsável por 90% da manga brasileira enviada para outros países, os preços chegaram a cair mais de 10% nas últimas semanas. Os produtores rurais esperam aumentar o fluxo das exportações até o fim do ano, quando os preços poderão voltar a subir. Segundo o Cepea, as exportações estão lentas devido a concorrência com outros países produtores. No ano passado, os produtores do Vale enviaram 9 milhões de caixas da fruta para os Estados Unidos, segundo maior comprador das mangas brasileiras depois da Europa.
TECNOLOGIA
Muito além das mangas colhidas nas zonas urbanas, nos quintais das casas ou em pequenas chácaras da zona rural, o cultivo da fruta evoluiu muito nas últimas décadas e hoje conta com pomares comerciais cada vez mais tecnificados e produtivos.
Enquanto a área de manga não cresce muito no Brasil, no Vale do São Francisco ela quase triplicou entre 2015 e 2018. O aumento gigantesco na oferta está sendo possível graças a um conjunto de estratégias de produção.
As técnicas envolvem, por exemplo, o uso de equipamentos com infravermelho. Ele permite medir o nível de maturação da fruta ainda no pé, para evitar a colheita tardia. O equipamento é capaz de determinar o ponto ideal de colheita para que a fruta atinja a qualidade de consumo apenas após 20 dias, quando chegar no destino final.
Outra tecnologia que fez a diferença é o tratamento hidrotérmico. A técnica foi desenvolvida há cerca de duas décadas por uma rede de pesquisa liderada pela Embrapa. Durante o tratamento, as frutas são mergulhadas em água aquecida a 46 graus por 75 ou 90 minutos. O processo mata ovos ou larvas de insetos que porventura estejam na manga, entre elas a temida mosca-das-frutas.
“Foi a solução encontrada pelo setor para entrar em mercados exigentes como o americano. O maior receio deles era que, nos oito a dez dias de transporte até lá, houvesse a possibilidade de que os frutos levassem os ovos ou as larvas da mosca”, afirma o engenheiro agrônomo José Eduardo Brandão Costa, diretor executivo da Abrafrutas.
A técnica é utilizada por todos os 40 produtores exportadores de frutas do Vale do São Francisco, instalados nos municípios de Juazeiro, Casa Nova e Petrolina. A estratégia de tratamento através da temperatura deu tão certo que se transformou em modelo de certificado fitossanitário para outros países. A solução técnica abriu mercados para as frutas brasileiras em países como Argentina, Chile, Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão e União Europeia.
Os agricultores também adensaram as plantações. No início dos cultivos, eles plantavam no máximo 100 mangueiras por hectare. Agora existem pomares com até 1.200 pés por hectare.
Foram tecnologias como esta que permitiram à Bahia se tornar uma das maiores produtoras de manga do mundo. O segmento agrícola gera mais de 200 mil empregos diretos apenas no Vale do São Francisco. A comercialização da fruta movimentou no estado mais de R$ 422 milhões em 2018, segundo o IBGE.
FONTE: Abafrutas out.2019.