12/06/2013 – Globo Rural
Em Paudalho, família mantém tradição de várias gerações. Nesta época, eles se reúnem para fazer o doce de guabiraba.
Elas são catadas uma a uma, como num garimpo, e não é pra menos: as guabirabas viraram raridade. É cada vez mais difícil encontrar uma árvore com frutos em Paudalho, na Zona da Mata de Pernambuco. As guabirobeiras são comuns no cerrado e podem atingir até 15 metros de altura. O tronco é cheio de lascas que vão se soltando com o tempo. Ninguém sabe ao certo como elas chegaram à região. Este ano, a falta de chuva atrasou a colheita, mas mesmo com atraso, a tradição foi mantida. No fundo do quintal da casa de Rita Pereira, ela e as irmãs fazem questão de levar a guabiraba para o tacho como faziam seus pais, avós e agora, os filhos. Uma receita que atravessa quatro gerações. As doceiras trabalham em mutirão, cada uma cuida de uma tarefa. É preciso extrair a polpa da guabiraba espremendo um pouquinho. A casca é bem fininha e a polpa suculenta, cheia de sementes que são retiradas com a ajuda de uma tela ou peneira. O nome guabiraba vem do tupi guarani e significa fruto de casca amarga, por isso é tão importante retirar a casca e as sementes antes de se preparar o doce. Dois ingredientes são necessários para preparar o doce, a polpa da guabiraba e açúcar. E na mesma quantidade, para cinco quilos de polpa, cinco quilos de açúcar são colocados no tacho. Aí começa a maratona de três horas mexendo em fogo baixo. Elas preferem usar um fogão a lenha improvisado. Dalva e Dilene Pereira se revezam na missão mais cansativa de mexer, sem parar, sempre driblando a fumaça, mas não reclamam. O doce é despejado em potes e quando esfria fica bem consistente, dá para cortar as fatias. O sabor raro não é para todos. Só os clientes mais antigos têm o privilégio de comer o doce de guabiraba. Os apreciadores garantem que o sabor é único. Uma delícia rara, preparada apenas uma vez por ano.