A banana é cultivada em praticamente todos os estados brasileiros, com expressiva participação em Minas Gerais. Nesse sentido a equipe TodaFruta tem o prazer de entrevistar a Dra. Maria Geralda Vilela Rodrigues (Magê), pesquisadora da Epamig – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, que tem acompanhado a evolução da cultura desde 1995.
TodaFruta – Quando você ingressou na Epamig, quais os pontos importantes da bananicultura em Minas Gerais?
MARIA GERALDA VILELA RODRIGUES (MAGÊ) – O primeiro experimento com a cultura da banana foi instalado pela Epamig no Norte de Minas em 1979. Cheguei à região e iniciei meu trabalho na empresa 16 anos depois, em dezembro de 1995, quando a bananicultura já era pujante na região, porém não no patamar em que se encontra hoje. A bananicultura regional se desenvolveu muito nos últimos 20 anos, tanto em área cultivada quanto em produção e nível tecnológico adotado. Nos últimos 10 anos, entretanto, o aumento da produção foi mais acentuado a partir de 2009. A produção de Minas Gerais varia conforme a variação da produção da região Norte do Estado.
TodaFruta – Qual a situação da cultura atualmente? Especifique as variedades cultivadas, área plantada, produtividade e sua distribuição em Minas Gerais.
MAGÊ – Minas Gerais é o quarto produtor de banana do País, com 687,29 mil toneladas produzidas em 41,77 mil ha, o que resulta em rendimento de 16,5 t/ha, com grande variação entre as mesorregiões. Esse baixo rendimento se deve às cultivares plantadas, em sua maioria do subgrupo Prata, sendo que algumas áreas ainda cultivam a Prata Comum, e também ao nível tecnológico utilizado. O Norte de Minas responde por mais de 50% da produção do estado, onde se cultiva basicamente Prata-Anã irrigada. Aliás, Minas Gerais é um tradicional produtor de bananas do subgrupo Prata.
TodaFruta – Um dos sérios problemas que a bananicultura brasileira enfrenta são os problemas fitossanitários e, dentre estes, a presença da sigatoka negra. Como os produtores têm enfrentado esse mal?
MAGÊ – Logo após a sigatoka negra ter sido encontrada no Vale do Ribeira, em São Paulo, foi detectada também no Sul de Minas, na divisa com São Paulo. Porém nunca mais foi observada na região. Hoje o estado é considerado área livre da doença.
TodaFruta – A pesquisa tem que ser realizada para atender o que é preciso para o produtor conduzir com segurança sua atividade em fruticultura. Uma vez realizada, os trabalhos são publicados em revistas científicas, como por exemplo a REVISTA BRASILEIRA DE FRUTICULTURA – e podemos afirmar com segurança que o PRODUTOR NÃO LÊ essas informações. Preocupados com isso, queremos registrar e elogiar a importância do INFORME AGROPECUÁRIO da Epamig. Quais as publicações sobre bananicultura que a Epamig já produziu?
MAGÊ – Desde a década de 1970, a Epamig trabalha a cultura da banana, disponibilizando informações nas mais diversas formas: publicações seriadas, capítuloss de livros, software, artigos científicos, congressos nacionais e internacionais, simpósios, seminários, palestras, dias de campo, atendimento ao produtor, etc. Entre as publicações seriadas da Epamig, foram publicados, neste período, quatro números do periódico INFORME AGROPECUÁRIO e seis números do BOLETIM TÉCNICO. Além destes, foram publicados vários números da CIRCULAR TÉCNICA.
O INFORME AGROPECUÁRIO é uma publicação seriada, periódica, bimestral, de caráter técnico-científico. Tem como objetivo principal difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela Epamig, seus parceiros e outras instituições, para o desenvolvimento do agronegócio em Minas Gerais. Esta revista técnica é apresentada na forma de capítulos, por tema, escritos por especialistas, numa abordagem voltada para técnicos, produtores e estudantes. Nos quatro números dedicados à cultura da banana, foram resumidos os resultados de pesquisa já disponíveis no estado, enriquecidos pela experiência de pesquisadores de outras instituições e estados, e tratados os temas: aspectos socioeconômicos, mercado, cultivares, os principais componentes do sistema de cultivo (mudas, plantio, condução, fitossanidade, nutrição, irrigação), colheita, pós-colheita e processamento. Foram eles:
Número 63 – A Cultura da Bananeira (Alvarenga, 1980);
Número 133 – A Cultura da Bananeira (Godinho e Marciani-Bendezú, 1986);
Número 196 – Banana: Produção, Colheita e Pós-Colheita (Menegucci et al., 1999); e
Número 245 – Bananicultura Irrigada: Inovações Tecnológicas (Rodrigues et al., 2008).
No final de 2014, saiu um número comemorativo de 40 anos da Epamig, no qual o primeiro capítulo foi dedicado à cultura da banana. Em 2015, foi publicado um número exclusivamente sobre a cultura da banana.
O BOLETIM TÉCNICO é uma publicação seriada, não-periódica, editada pela Epamig. Veicula tecnologias da Empresa e de seus parceiros, com foco no produtor. Os seis números dedicados à cultura da banana abordaram diferentes temas:
Número 14 – Efeito de Diferentes Níveis de Umidade do Solo na Produção do 1º e 2º Cacho de Bananeira (Marciani-Bendezú, 1985). Este Boletim resultou do primeiro experimento feito com a cultura da banana no Norte de Minas, pela EPAMIG, implantado em 1979, a exatos 35 anos. Assinaram este primeiro trabalho: Juan Marciani-Bendezú, Roque Marinato, Carlos Alberto de Souza Lima e Lutero Rios de Alvarenga. Este Boletim resultou do primeiro experimento feito com a cultura da banana no Norte de Minas, pela EPAMIG, implantado em 1979, a exatos 35 anos. Assinaram este primeiro trabalho: Juan Marciani-Bendezú, Roque Marinato, Carlos Alberto de Souza Lima e Lutero Rios de Alvarenga.
Número 36 – Recomendações Fitossanitárias para a Cultura da Bananeira no Perímetro Irrigado do Gorutuba (Godinho e Chalfoun, 1993);
Número 44 – Mudas de Bananeira: Tecnologia de Produção (Godinho, 1994);
Número 46 – Adubação e Nutrição da Bananeira para o Norte de Minas (Silva, 1995);
Número 48 – Sistema de Produção da Banana ‘Prata-Anã’ em Minas Gerais (Souto et al., 1997);
Número 70 – Diagnóstico Nutricional da Bananeira ‘Prata-Anã’ para o Norte de Minas (Silva, 2002).
A Epamig tem também publicações não seriadas, como as circulares técnicas disponíveis no site (www.epamig.br), inúmeros artigos científicos e capítulos de livros. A difusão das pesquisas também é realizada pelos trabalhos apresentados em congressos regionais, nacionais e internacionais, simpósios, seminários, cursos, palestras, dias de campo, visitas técnicas, contato direto com técnicos e produtores, etc.
Ressalta-se a realização de duas edições do Simpósio Norte Mineiro Sobre a Cultura da Banana (Simbanana I e II), com publicação de anais dos eventos: o primeiro, realizado em 2001, foi constituído por 19 palestras e contou com um público de 240 pessoas (vagas foram limitadas), entre produtores, técnicos e pesquisadores, provenientes de Minas Gerais e de outros sete estados; o segundo, realizado em 2008, foi constituído por 20 palestras e contou com 407 participantes, de 13 estado. Também trabalhou na organização do VIII Simpósio Brasileiro Sobre Bananicultura, realizado em Montes Claros, em 2015. Em 2008, no Simbanana II, foi lançado o software DRIS para a cultura da banana. Desenvolvido para auxiliar a diagnose nutricional da bananeira ‘Prata-Anã’ cultivada no Norte de Minas, foi distribuído a todos os participantes do evento e ainda se encontra disponível para aquisição dos interessados.
TodaFruta – O cooperativismo é fundamental para viabilizar principalmente o pequeno produtor. Qual a situação do cooperativismo em MG?
MAGÊ – Minas Gerais não é um estado com tradição de cooperativas, principalmente na produção vegetal, porém há um grande número de pequenas e grandes associações. Estas auxiliam o produtor tanto com a parte técnica, quanto colocando-o mais facilmente no mercado.
TodaFruta – Um dos pontos de estrangulamento da cultura são as práticas de colheita e pós-colheita praticadas pelos produtores. Comente a respeito, por favor.
MAGÊ – Este é um dos pontos fracos da bananicultura nacional, e não é diferente em Minas Gerais. Entretanto, percebe-se uma sensível melhora na última década, com a presença de algumas propriedades com importante estrutura tanto de colheita, com cabos aéreos, quanto de preparo da fruta na pós-colheita, com estruturadas casas de embalagem. Boa parte da produção já é transportada em caminhões fechados e frigorificados. Vários produtores de frutas do estado são exportadores para países com alto grau de exigência em qualidade, o que acaba por criar uma cultura de cuidados com a fruta que se estende também para aquelas voltadas principalmente para o mercado interno. Além disso, os vários anos de trabalho da Produção Integrada, mesmo não levando à finalização com a certificação por falta de interesse do mercado, criaram uma cultura de boas práticas agrícolas favorecendo toda a cadeia.
TodaFrut – Ao longo de sua atuação na cultura, poderia destacar TRÊS PONTOS QUE MAIS CONTRIBUÍRAM para o desenvolvimento da bananicultura em MG?
MAGÊ – A presença dos perímetros de irrigação do Norte do Estado, onde o custo de produção é alto, exigindo profissionalização do setor. Esta profissionalização aliada à resposta da cultura às condições edafoclimáticas favoráveis (exceto pelo déficit hídrico que tem que ser corrigido pela irrigação) resultou em quantidade e qualidade da fruta, tornando a região uma referência na produção de Prata-Anã. Outro ponto foi o investimento em pesquisa feito pelas diversas instituições do estado e federais, disponibilizando informações adaptadas às condições locais, o que também contribuiu para a melhoria dos cultivos e dos frutos, aumentando o retorno financeiro do produtor. Um terceiro ponto foi o aumento da demanda e da produção de informação, aliado à melhoria dos meios de difusão da informação, resultando na profissionalização da bananicultura mineira. Esta profissionalização se traduz em ganho para toda a cadeia, inclusive para o consumidor.
TF – Quais outros fatores gostaria de enfatizar?
MAGÊ – A bananicultura está inserida no contexto mundial, cada vez mais voltado para as boas práticas agrícolas, produção com respeito ao ambiente e ao trabalhador rural, uso racional dos recursos naturais, produto final de qualidade e, preferencialmente, rastreável. A pesquisa não pode parar, tem que buscar soluções cada vez mais justas a este anseio da sociedade. O setor produtivo deve acompanhar estes estudos, sempre buscando se adaptar. Além disto, a entrada de novas pragas que ocorreu na última década, uma possível abertura do mercado nacional (mesmo que parcial), a concorrência com outras frutas que surgiram ou que tiveram seu custo reduzido, a redução da margem de lucro, possíveis mudanças climáticas exigindo adaptações nos sistemas de produção, são componentes de um novo cenário que se desenha. O bananicultor, assim como os técnicos da assistência e da pesquisa, devem ficar atentos a este novo cenário.
A Equipe Todafruta, agradece a valiosa contribuição à bananicultura brasileira, que a Dra. Maria Vilela Rodrigues, (MAGÊ), oferece com esta reportagem, destacando o bonito trabalho de extensão realizado pela EPAMIG um exemplo a ser seguido.