Nome científico: Elaeis guineensis
Nomes populares: palma-de-guiné, demdem (Angola), palmeira dendem e coqueiro-de-dendê
Família botânica: Arecaceae (Palmae)
O dendezeiro é uma palmeira que pode chegar a 15 metros de altura. Tem como principal produto o óleo extraído industrialmente da polpa do fruto, o óleo de dendê ou de palma, chamado no mercado internacional como palm oil. A cultura do dendezeiro é, provavelmente, a de maior potencial de crescimento no mundo entre as culturas de significado econômico. O Brasil possui o maior potencial mundial para a produção do óleo de dendê, devido aos quase 75 milhões de hectares de terras aptas à dendeicultura, com destaque para os estados do Pará, da Bahia e do Amapá, principais produtores de dendê no país. O dendê foi trazido ao Brasil pelos escravos e adaptou-se bem ao clima tropical úmido das regiões Norte e Nordeste. É considerado a oleaginosa mais produtiva que existe, superando a produção do girassol, da mamona e da soja. Um hectare com dendê rende 5 toneladas de óleo por ano, enquanto a soja rende apenas 500 kg/ano e a mamona, 700 kg/ano.
Curiosidade
A cultura promissora do dendê no Brasil abriu portas para a utilização de seu óleo na obtenção do biodiesel, que pode substituir o óleo diesel derivado do petróleo ou ser misturado a este.
Autor(es): José Gilberto Jardine ; Talita Delgrossi Barros – Agência Embrapa de Informação Tecnológica (Geitec)
(N.R. – este texto foi originalmente produzido no ano 2000; por esse motivo, alguns números estão desatualizados; no entanto, as informações e recomendações técnicas continuam totalmente válidas)
O dendezeiro é uma palmeira originária da costa oriental da África (Golfo da Guiné), sendo encontrada em povoamentos subespontâneos desde o Senegal até Angola. O óleo originário desta palmeira, o azeite de dendê, consumido há mais de 5 mil anos, foi introduzido no continente americano a partir do século XVI, coincidindo com o início do tráfico de escravos entre a África e o Brasil.
No contexto atual o azeite de dendê é o óleo mais produzido e consumido no mundo, representado 27% de 140 milhões de toneladas de óleos e gorduras produzidas em 2005 e 27% do consumo mundial de 138,4 milhões de toneladas de óleos e gorduras em 2005. Segundo um historiador português, o óleo de dendê tem o cheiro das violetas, o sabor do azeite de oliva e tinge os alimentos com a cor do açafrão, sendo entretanto mais atrativo.
A região Sudeste da Bahia possui uma diversidade edafoclimática excepcional para o cultivo do dendezeiro, com uma disponibilidade de área da ordem de 752.625 hectares. Outros fatores estimulam sua cultura:
Os fatores climáticos de maior importância para o cultivo do dendezeiro são chuva, horas de brilho solar e temperatura máxima e mínima.
CHUVA– Uma adequada disponibilidade de água no solo de forma constante é condição extremamente importante para o desenvolvimento e a produção do dendezeiro. O regime pluviométrico ideal caracteriza-se por uma precipitação média anual de 1.800 a 2.000 mm, com precipitações mensais superiores a 100 mm, assegurando boa distribuição ao longo do ano.
BRILHO SOLAR – Altos níveis de radiação solar são indispensáveis para o crescimento e a produção das plantas. A insolação necessária para a expressão do potencial produtivo do dendezeiro situa-se em torno de 1.800/horas/ano, com um mínimo de 5 horas/dia em todos os meses do ano.
TEMPERATURA – É fator importante de determinação do crescimento e produção, observando-se que as maiores produções são obtidas em regiões com pequenas variações de temperatura e onde a média anual situa-se entre 25 a 27 graus centígrados sem ocorrência de temperaturas mínimas inferiores a 17°C por períodos prolongados.
Embora seja cultivado em diferentes tipos de solos, variação nas propriedades físicas e químicas causam diferenças significativas na produção. Os parâmetros mais importantes são profundidade efetiva maior de 90 cm, textura franca ou mais argilosa, estrutura forte ou moderada, permeabilidade moderada, relevo plano ou suave ondulado, não pedregoso, sem concreções de ferro, alumínio ou manganês e sem camada adensada, consistência muito friável, friável ou firme e regime de unidade úmido.
As variedades são classificadas de acordo com a espessura dos frutos (endocarpo) em:
DURA – Apresenta casca com mais de 2 mm de espessura e fibras na polpa; esta variedade é usada como planta feminina na produção de híbridos comerciais.
PISIFERA – Os frutos desta variedade não possuem casca separando a polpa da amêndoa. Ela é usada como fornecedora de pólen na produção de híbridos comerciais.
TENERA – Apresenta espessura na casca inferior a 2 mm e um anel fibroso ao seu redor. É obtida pelo cruzamento entre as variedades Dura e Pisifera, sendo recomendada para plantios comerciais.
O sucesso de um plantio comercial de dendezeiros depende do material genético utilizado do processo de formação de mudas, que compreende as seguintes etapas:
PRÉ-VIVEIRO – Tem início com a repicagem da semente pré-germinada para sacos semelhantes aos utilizados para mudas de cacau, e tem normalmente a duração de 4 meses, obtendo-se no final uma muda com quatro folhas lanceoladas.
VIVEIRO – Feito a céu aberto, localizado preferencialmente próximo a uma fonte abundante de água, a fim de facilitar a irrigação. Os sacos plásticos utilizados no viveiro medem 40 x 40 cm com 0,002 mm de espessura e capacidade para 20 a 25 kg de solo. O período de permanência no viveiro varia de 8 a 10 meses e as mudas a serem levadas a campo apresentam uma altura de 80 cm com 8 a 12 folhas funcionais.
TRATOS CULTURAIS NO VIVEIRO – Durante o período de formação das mudas, são importantes os tratos culturais: irrigação, adubação, eliminação de ervas daninhas e controle de pragas e doenças.
ESCOLHA DA ÁREA – A área para o plantio de dendê deve ser plana ou suave ondulada, com declividade inferior a 8%, que não apresente dificuldade para o uso de máquinas agrícolas.
PREPARO DA ÁREA – Em função das características da vegetação (mata virgem, mata raleada, área degradada, plantação velha de dendê ou cultivo anual), da disponibilidade de equipamentos e do sistema de exploração, o preparo da área pode ser manual (broca, derruba, queima, abertura de linhas e pontos de plantio), mecanizado (derruba, queima e enleiramento) ou misto.
PLANTIO DE LEGUMINOSAS – Com o objetivo de proteger o solo, controlar ervas daninhas e fixar nitrogênio, recomenda-se uma cobertura verde que se estabeleça rapidamente, tenha pouca altura, não afete o sistema radicular do dendezeiro, ciclo vegetativo curto e baixo custo de implantação, nesse caso a mais recomendável é o kudzu (Pueraria phaseoloides).
ESPAÇAMENTO, COVEAMENTO E PLANTIO – Tradicionalmente o dendezeiro é implantado no espaçamento de 9 x 9 x 9 m em triângulo equilátero, o que implica espaçamento de 7,8 m entre as linhas e 9 m entre plantas na linha, sendo que esta deve estar orientada no sentido norte-sul, para evitar sombreamento entre plantas. Desse modo, é possível colocar 143 plantas por hectare.
ABERTURA DE COVAS – Deve ser feita manual ou mecanicamente, nas dimensões de 40 x 40cm, separando-se a camada superficial de solo rica, para colocar no fundo quando do enchimento da cova.
PLANTIO DE MUDAS – Deve ser feito em período chuvoso. O coleto (região entre a parte aérea e as raízes) deve ficar no nível do solo; após o plantio é importante comprimir a terra em volta da planta.
COROAMENTO – Consiste em eliminar as plantas daninhas que crescem em volta do dendezeiro, mantendo limpa a área ao seu redor, evitando competição e proporcionado condições favoráveis ao desenvolvimento.
ROÇAGEM– Nos primeiros anos, é necessário eliminar, periodicamente, a vegetação existente nas entrelinhas, visando facilitar o estabelecimento da leguminosa.
ADUBAÇÃO – A obtenção de altos rendimentos só é possível com a utilização racional de fertilizantes, já que cada hectare plantado com dendezeiros requer anualmente, para a produção de 25 toneladas de cachos: 192,5 kg de nitrogênio, 26 kg de fósforo, 251 kg de potássio, 61,31 kg de magnésio e 99,3 de cálcio. Os métodos usados como guias para recomendação de adubação baseiam-se em: análise do solo, que dá uma ideia da disponibilidade de nutrientes disponíveis; análise foliar, que indica o estado nutricional da planta naquele momento e estabelece níveis críticos para cada nutriente; e experimentos de adubação, por meio dos quais é possível determinar as necessidades exatas de um determinado tipo de solo sob certas condições ambientais.
CONTROLE DE PRAGAS – A principal praga do dendezeiro de importância econômica na Bahia é o Rhynchophorus palmarum, cujas larvas alimentam-se dos tecidos do estipe, fazendo galerias que podem provocar uma podridão interna; quando atinge o meristema provoca a morte da planta. O Rhynchophorus palmarum é o principal vetor do nematoide causador da doença “anel vermelho”. O controle desta praga é feito com iscas armadilhas (pedaços de estipe do dendezeiro ou toletes de cana-de-açúcar) envenenadas com Furadan 350 SL, ou com o uso de feromônio. Outras pragas ocorrem de forma esporádica como a broca das raízes causada pela Saglassa valida e lagartas desfoliadoras como Sibine fusca e Brassolis sophoraea.
CONTROLE DE DOENÇAS – O anel vermelho, causado pelo nematoide Rhadinaphelencus cocophilus, é a única doença de importância econômica para o dendezeiro, no Estado da Bahia; um inseto transmissor do nematoide é o Rhynchophorus palmarum, que conduz o nematoide no intestino, traqueia e nas cavidades do corpo. As medidas de controle do inseto são a única forma de se evitar a incidência da doença. O dendezeiro é suscetível ao ataque de outras doenças de importância econômica, especialmente na região amazônica, onde ocorrem: fusariose, causada pelo fungo Fusarium oxysporun; marchitez, causada pelo protozoário Phytomonas sp; e o amarelecimento fatal cujo agente causal é desconhecido.
A colheita é um trabalho muito importante, porque é nesta etapa que se obtêm os resultados de todos os esforços e investimentos com o cultivo. Na execução do trabalho de colheita, duas etapas importantes devem ser observadas:
Um plantio corretamente conduzido inicia a produção ao final do terceiro ano após o plantio, com uma produção entre 6 a 8 toneladas de cacho por hectare, atingindo o pique máximo de produção no oitavo ano, podendo atingir 25 toneladas de cacho por hectare, produção que permanece nesse nível até o décimo sétimo ano, declinando ligeiramente até o final de sua vida útil produtiva, que ocorre por volta dos 25 anos. Dos frutos do dendezeiro, podem ser extraídos dois tipos de óleo: óleo de polpa, conhecido no Brasil como azeite de dendê, e óleo de palmiste. O rendimento em óleo representa 22% do peso dos cachos para o óleo de polpa e 2% para o óleo de palmiste.
O beneficiamento da produção deve ser iniciado imediatamente após a colheita, e consta das seguintes etapas:
Após a secagem, as sementes são encaminhadas para os quebradores e, em seguida, são separadas as cascas e amêndoas que, após triturados, deles se extrai por prensagem o óleo de palmiste; o resíduo restante representa a torta que contém 14% a 18% de proteína e pode ser utilizada como componente de ração animal.
O azeite de dendê contém proporções iguais de ácidos graxos saturados – palmítico (44%) e esteárico (5%) – e não saturados – oléico (40%) e linoléico (10%). É uma forte natural de vitamina E, tecoferóis e tecotrienóis, que atuam como antioxidantes. É rico também em betacaroteno, fonte importante de vitamina A. É o óleo mais apropriado para fabricação de margarina pela sua consistência e por não rancificar, excelente como óleo de cozinha e frituras, sendo também utilizado na produção de manteiga vegetal (shortening), apropriada para fabricação de pães, bolos, tortas, biscoitos finos, cremes etc. O maior uso não comestível do óleo de dendê é como matéria-prima para a fabricação de produtos biodegradáveis como sabões, sabonetes, sabão em pó, detergentes e amaciantes de roupas, podendo ainda ser utilizado como combustível em motores diesel.
Jonas de Souza, Engenheiro Agrônomo, MS – SUBES/CEPEC – extraído do Jornal CEPLAC Notícias – outubro/2000