(Entrevista realizada em 17/12/2015)
A EQUIPE TODAFRUTA, depois de conhecer a bananicultura nas Ilhas Canárias, na Espanha, fez esta entrevista com o Dr. Víctor Gálan Saúco. Ao final da entrevista, são apresentadas mais informações sobre este pesquisador, que foi um dos responsáveis pelo crescimento da bananicultura naquela região e tem estimulado pesquisas com outras frutas nas quais a cobertura com plástico é um dos requisitos fundamentais.
TodaFruta – Relate como foi a realização do primeiro trabalho cultivando banana em ambiente protegido.
Víctor Galán Saúco – O cultivo da banana em ambiente protegido começou nas Ilhas Canárias em plantações situadas próximas ao mar, visando à proteção contra os ventos.
TodaFruta – Em uma análise retrospectiva como ocorreu a evolução em produtividade em área utilizando esta tecnologia?
Víctor Galán Saúco – No início, observou-se que, apesar da obtenção de maiores cachos, o ciclo da planta ficava mais comprido, devido ao sombreamento excessivo resultante da presença de grande número de folhas inteiras que impediam uma boa fotossíntese. Isso foi corrigido com a retirada de folhas após a emissão do cacho (mantendo-se apenas 8 folhas por planta) e alterando o distanciamento tradicional entre plantas, adotando-se maiores distâncias entre linhas e menores na linha.
TodaFruta – Certa ocasião, o produtor João Manoel Fernandes, pretendendo utilizar esta tecnologia em toda a sua propriedade, em Avaré, SP, ensacou um enorme número de cachos de banana, o que resultou em severas queimaduras dos frutos pela ação do sol. Quais as justificativas para essa ocorrência?
Víctor Galán Saúco – Provavelmente isso foi devido ao uso de sacolas de material inadequado e não por ter protegido os cachos da exposição ao sol.
TodaFruta – Quais as características de uma sacola para ser utilizada na bananicultura? E quando deve ser colocada na planta?
Víctor Galán Saúco – As sacolas mais comuns nos trópicos são as de polietileno translúcidas, com espessura de 20 a 50 μm, com perfurações de diâmetro entre 5 e 12 mm, espaçadas de 75 a 100 mm em todas as direções (Soto, 1995; Moreira, 1999). Podem-se colocar folhas de proteção de papel tanto dentro como fora da sacola, mas sempre cobrindo a mão superior para reduzir a queimadura solar direta. Nas regiões subtropicais, são utilizadas sacolas azuis com espessura de 35 a 50 μm para proteção contra granizo e vento, e podem ser usadas por dois ou três ciclos. Elas normalmente são impregnadas com uma proteção UV para prolongar sua vida útil. É mais comum o uso de sacolas azuis translúcidas que permitem a transferência de calor e reduzem os danos das queimaduras solares. Para fins práticos, os sacos são colocados logo após o surgimento do cacho para uma melhor proteção contra as pragas antes que as brácteas caiam, os frutos comecem a enrolar-se ou que restos de flores sequem.
TodaFruta – Algumas firmas no Brasil utilizam o saco impregnado com defensivos. Esse procedimento é utilizado nas Canárias?
Víctor Galán Saúco – Sim.
TodaFruta – Na evolução apresentada durante esse período de utilização, quais as características do plástico para uma boa cobertura?
Víctor Galán Saúco – As coberturas utilizadas nas Canárias são de plástico ou malha (sombrite), a primeira para as zonas mais frias e a segunda para as mais quentes. Temos avaliado diferentes coberturas, e cada vez surgem novos materiais que também devem ser estudados para cada zona. No entanto, deve notar-se que o polietileno de 190 μm oferece as condições mais favoráveis para o crescimento e o desenvolvimento da banana, reduzindo a duração do ciclo e aumentando o peso do cacho. Em Israel, tem-se usado o uso de malha ou sombrite e tem sido feitos testes com materiais de cores diferentes, mas nenhum deles tem sido melhor do que as coberturas transparentes usadas normalmente.
TodaFruta – Quantos ciclos da cultura da banana são possíveis obter em ambientes protegidos?
Víctor Galán Saúco – Teoricamente, os mesmos que ao ar livre. Porém, o cultivo protegido oferece benefícios adicionais como: nos trópicos, a ausência de Sigatoka, permitindo para produzir por um maior número de ciclos; nas Canárias, a incidência de Fusarium é baixa e não há Radopholus e Sigatoka, havendo plantações com mais de 10 anos sem reposição de plantas, a qual deveria ser feita aos 7 anos. No entanto, é necessário substituir o plástico de polietileno. Os novos materiais, como o Celloclim®, são especialmente interessantes, porque combinam as melhores características do polietileno com uma maior duração no tempo (pelo menos 4-5 anos vs. 2-3 anos dos normais de polietileno). As coberturas de malha ou sombrite podem durar mais de 10 anos
TodaFruta – É recomendável a abertura da cobertura, para proporcionar um melhor ambiente térmico?
Víctor Galán Saúco – O cultivo da banana usando cobertura de polietileno requer uma gestão adequada em termos de ventilação, para evitar temperaturas superiores a 30°C, já que as folhas das plantas podem queimar-se. É por isso que muitos agricultores preferem usar cobertura de malha ou sombrite, em vez de polietileno, para o cultivo de banana em áreas mais quentes. Por conseguinte, não é adequado, em Israel, usar polietileno para o cultivo da banana devido às altas temperaturas durante o verão. Nas Canárias, no caso de utilização de polietileno aproximadamente a cada 6 m, deve-se colocar sombrite mesmo com a abertura de ventilação de verão.
TodaFruta – Para difundir as técnicas utilizadas, bem como para estimular a entrada de novos grupos pesquisando o assunto, o senhor poderia enumerar os últimos testes realizados nas Canárias?
Víctor Galán Saúco – Infelizmente os experimentos e testes nas Canárias com novos materiais estão paralisados em razão da crise económica que afetou fortemente a pesquisa.
TodaFruta – A cobertura plástica abre possibilidades de se voltar a plantar mamão na região de Monte Alto, SP, devendo merecer dos pesquisadores a máxima atenção. O que falta fazer para que esse comportamento seja em breve uma realidade?
Víctor Galán Saúco – Eu não conheço as condições da região de Monte Alto, em SP. O mais interessante para a produção de mamão sob cobertura plástica é que permite a exclusão de insetos vetores de vírus da mancha anelar (Papaya Ring Sopt Virus) sem recorrer a cultivares geneticamente modificadas, o que é de grande interesse para o mercado europeu, que não aceita mamoeiros transgênicos. Nas ilhas Canárias, todos os plantios comerciais de mamão são realizadas sob estufa.
TodaFruta – Como está esta linha de investigação de coberturas plásticas para a bananicultura e também para outras frutas em outros países?
Víctor Galán Saúco – Embora tenha sido aumentada a área plantada de mamão sob estufa, em especial nas regiões subtropicais (em Israel, por exemplo, todas as novas plantações são feitas sob estufa), esta linha de investigação está atualmente paralisada.
TodaFruta – Quais os fatores que justificam a obtenção de maiores produtividades na bananicultura, cultivadas nestas condições?
Víctor Galán Saúco – As razões para a obtenção de maior produtividade sob cobertura de plástico são as seguintes:
TodaFruta – A cobertura plástica, utilizada em larga escala, não prejudica o visual?
Víctor Galán Saúco – Obviamente sim, especialmente em locais de interesse paisagístico ou turístico. Outra desvantagem importante é o fato de que as coberturas não são totalmente biodegradáveis.
TodaFruta – Quais as recomendações para as revistas que publicam trabalhos originais de pesquisas, para estimularem trabalhos nesta área?
Víctor Galán Saúco – Acredito que não são necessárias medidas especiais
TodaFruta – Que outros comentários o senhor que gostaria de deixar registrados?
Víctor Galán Saúco – Há necessidade de realizar estudos nos trópicos para avaliar as vantagens e desvantagens identificadas para o cultivo de bananas no âmbito do uso de coberturas e também procurar materiais de cobertura que sejam biodegradáveis.
CURRÍCULO RESUMIDO
Dados pessoais: Dr. Víctor Galán Saúco, nascido em Cádiz, Espanha, em 5 de dezembro de 1946, reside em Tenerife, Ilhas Canárias.
Formação: Engenheiro agrônomo graduado pela Universidade de Madri, Espanha; Mestre pela Universidade do Havaí, EUA; Doutor pela Universidade de Córdoba, Espanha.
Área de trabalho: pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização de frutíferas tropicais e subtropicais, com destaque para manga, banana, lichia, abacate, mamão, pitaya e carambola. Foi presidente da Sociedade Espanhola de Horticultura, de 1995 a 2003; presidente e coordenador de vários simpósios internacionais sobre horticultura e frutas tropicais e subtropicais; e tem sido conferencista convidado em vários simpósios internacionais sobre manga. Tem organizado cursos de fruticultura para diferentes universidades e instituições governamentais da Europa e América Latina. E é editor associado e membro do comitê editorial de várias revistas especializadas.
Trabalhos de consultoria sobre frutíferas tropicais: tem atendido instituições como FAO, Embrapa e Agência Espanhola para Cooperação Internacional, além de órgãos de governo de países da Europa, Ásia, África e Américas, com destaque para Portugal, México, Peru, Ilhas Comoro, Bangladesh, Tailândia, Malásia, Vanuatu, Samoa Nova Guiné, Ilhas Maurício, Brasil, Turquia, Tunísia, Índia, Oman, República Dominicana e Filipinas.
Publicações (até 2015): tem mais de 100 artigos científicos e técnicos (18 artigos científicos sobre manga no período de 2000-2015), 8 livros (3 sobre manga, o último de 2009) e 20 capítulos em livros (13 sobre manga) em inglês, espanhol e português.