Custos elevados da fruta, a mais popular do País, compõem um cenário desafiador para a cultura ao longo deste ano nas principais regiões produtoras, como São Paulo e Bahia
Problemas climáticos e a retração dos preços devem diminuir a produção da fruta mais popular do Brasil, a banana. A queda da safra pode chegar a 2,7% ante 2017, totalizando 7 milhões de toneladas neste ano. Somente na Bahia, segundo maior produtor do País, a queda estimada é de aproximadamente 17% para 2018.
“A estiagem que ocorreu no ano passado no Nordeste e no norte de Minas Gerais é a principal responsável por esta queda, levando não só à redução do rendimento por hectare, mas à diminuição da área destinada à cultura”, afirma a pesquisadora do Núcleo de Ações Estratégicas da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Áurea Gerum. As variedades nanica e prata são as mais consumidas, embora cada região tenha uma preferência. Em São Paulo, por exemplo, o maior consumo é da banana nanica, enquanto no Rio de Janeiro a preferência é pela prata.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área de produção no País deve atingir 478 mil hectares em 2018, recuo de 1,8% sobre o ano passado.
Em Bom Jesus da Lapa (BA) – principal município produtor da fruta no País –, os preços em baixa têm sido um fator de desestímulo ao agricultor, mais até do que o clima. Embora a estiagem tenha sido mais severa no ano passado, as chuvas voltaram a se regularizar na região.
“Estamos há quatro meses trabalhando no negativo”, afirma o produtor e presidente da Associação Banana da Bahia, Ervino Kogler. Ele possui 100 hectares dedicados à atividade e participa do projeto Formoso, desenvolvido pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), no qual toda a área de produção da fruta, de 12 mil hectares, é irrigada.
Segundo ele, o custo de produção da banana nanica é de R$ 0,70 por quilo e os produtores vêm recebendo em torno de R$ 0,40 pelo quilo. Ele aponta o combustível e a energia elétrica como principais gastos em elevação. “Com isso, o produtor deve gastar menos com adubação e com tratos culturais, o que deve resultar em uma queda de produtividade, ainda que o clima, agora, esteja favorável”, estima o produtor.
Para Kogler, a greve dos caminhoneiros veio para agravar o cenário. “Estamos tendo um prejuízo de R$ 500 mil por dia e os funcionários estão parados. A situação não está fácil” , afirma, referindo-se aos 40 caminhões de banana que deixam as propriedades do projeto por dia. Cada caminhão comporta 12 toneladas da fruta, que é embarcada verde e vai amadurecendo ao longo do trajeto até o ponto de venda. Se leva mais tempo que o programado para chegar ao destino, a fruta passa do ponto para consumo.
Conforme o gerente de modernização do Mercado Hortigranjeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Erick Farias, a maior oferta da fruta levou à queda dos preços também nas Centrais Estaduais de Abastecimento (Ceasas), tanto para a banana nanica quanto no caso da prata.
“A demanda não acompanhou o aumento da oferta com a safra em algumas regiões”, destaca. Segundo ele, os preços tendem a se manter estáveis ou em queda até julho. “No segundo semestre, como a produção é menor, a perspectiva é de uma acomodação dos valores”, avalia.
Recuperação
Entre os produtores do Vale do Ribeira, distante 200 quilômetros de São Paulo, contudo, a perspectiva é de um ano melhor que o de 2017. “Esperamos uma produção boa, com clima mais regular e um inverno não tão rigoroso”, projeta o diretor da Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira (Abavar), Sílvio Romão. Como o calor é fundamental para o desenvolvimento da fruta, climas mais frios tendem a retardar o momento da colheita da fruta.
A entidade reúne 400 produtores de um total de aproximadamente mil que atuam na região, principal produtora da fruta no Estado. “Apostamos em uma recuperação depois de dois anos que foram muito difíceis para a atividade”, salienta.
Para o engenheiro agrônomo da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) do governo do Estado de São Paulo, Agnaldo José de Oliveira, a perspectiva é de um ano muito difícil para a comercialização das frutas do estado de São Paulo.
“A liberação da importação da banana equatoriana neste ano certamente irá causar um impacto negativo na produção”, avalia. O ingresso da fruta do Equador é considerado prejudicial pelos produtores brasileiros, uma vez que a produção naquele país é subsidiada e tem condições de competir com o produto brasileiro com preços abaixo dos praticados no Brasil.
Assim como ocorre na Bahia, Oliveira também destaca os preços menores que os custos de produção como uma dificuldade para o produtor. O preço médio pago ao bananicultor em São Paulo é de R$ 0,50 o quilo da banana, enquanto o custo de produção gira em torno de R$ 1,00 por quilo.
A produção brasileira tem como principal destino o consumo interno. No ano passado, o Brasil embarcou 41,3 mil toneladas da fruta, a US$ 11,6 milhões. Os principais mercados compradores são Uruguai, Argentina e Polônia, segundo dados da Embrapa.
Fonte: DCI