No cinturão citrícola paulista, as infecções dos frutos por pinta preta costumam ocorrer desde a queda de pétalas, em setembro/outubro, e podem se estender até o fim do período chuvoso, normalmente em abril. Esse período exige atenção à proteção dos pomares, pois as laranjas estão suscetíveis a essa importante doença da citricultura que atinge as diferentes espécies e variedades comerciais de citros, e é responsável por elevada queda prematura de frutos.
A pinta preta, além de deixar a fruta com aparência manchada, o que prejudica a sua comercialização no mercado in natura e também exportação para áreas livres da doença, pode reduzir em até 85% a produção das plantas.
Alguns estudos apontaram que a quantidade de aplicações de fungicidas para o controle de pinta preta pode ser estabelecida de acordo com a variedade da laranja. As mais precoces, como a Hamlin, necessitam de menos aplicações e, as mais tardias, como Valência e Natal, requerem a proteção dos frutos até o fim do período chuvoso. O mesmo pode ser observado para a idade dos pomares, sendo os mais velhos (geralmente com mais de 12 anos) aqueles que requerem a proteção durante todo o período de chuvas.
Na safra atual, os meses de novembro e dezembro de 2022 e janeiro de 2023 foram marcados por uma grande ocorrência de chuvas intensas e acima da média histórica dos últimos anos no cinturão citrícola. Nesse período muito crítico para a ocorrência da pinta preta, todos os pomares deveriam estar protegidos seguindo a recomendação de uso de estrobilurina em associação com óleo mineral.
A partir de fevereiro, geralmente as condições se tornam menos críticas para a ocorrência da doença em variedades precoces e pomares mais novos. Com isso, o foco agora passa a ser o manejo dos pomares mais velhos e de variedades de maturação tardia, nos quais a pinta preta tende a causar queda acentuada de frutos se o controle não for realizado corretamente.
Nesses pomares, é importante que o citricultor continue com o controle até abril, quando geralmente se encerra o período chuvoso.
Recomendações de manejo
As plantas ficam mais suscetíveis em época com altas frequências de chuvas e períodos prolongados, por conta da produção e disseminação do fungo causador da pinta preta e também por conta de os frutos estarem verdes. Por isso, a atenção deve ser redobrada nesse período.
De acordo com o pesquisador do Fundecitrus Geraldo Silva Jr, a recomendação para os pomares mais velhos e de laranja Pera, Valência, Natal e outras variedades tardias, é que o controle seja feito da queda de pétalas até abril, que totalizará entre 180 a 220 dias de proteção. Por outro lado, os pomares mais novos de laranja Hamlin e outras precoces que não tem histórico de ocorrência de pinta preta, não vão requerer proteção após fevereiro, uma vez que são colhidos de junho a agosto. Com isso, infecções que venham a ocorrer em frutos dessas variedades precoces de março em diante, não resultarão em altos índices de sintomas e de queda de frutos, pois o período para a expressão das lesões de pinta preta é muito longo.
“À medida que o pomar envelhece, o fungo causador da pinta preta acumula nas plantas e não há ações de controle que eliminem esse fungo. Dessa forma, o mais importante é se atentar ao monitoramento da doença e ao manejo correto nas diferentes variedades de citros, com foco nos pomares mais velhos e com histórico da doença”, alerta Silva Jr.
Esse ajuste do número de aplicações em função da variedade e da idade do pomar também contribui para reduzir a quantidade de estrobilurina usada ao longo da safra nas fazendas e a evitar a seleção de fungos resistentes. As estrobilurinas geralmente são associadas com óleo mineral ou vegetal na dose de 0,25% – porém, para as variedades precoces e em pomares jovens, mostraram-se eficientes mesmo sem adição de óleo ou com doses mais baixas de até 0,15%. Portanto, é possível ajustar o número de aplicações e a dose de óleo por perfil de pomar, mantendo a eficiência de controle e a redução dos custos.
O produtor deve ficar atento ao intervalo das aplicações de estrobilurina, que não deve passar de 35 a 42 dias, principalmente de novembro a fevereiro, e a dose de estrobilurina deve ser de pelo menos 2,8 mg de ativo/m3 de copa.
Outro fator importante é observar a incidência de cancro cítrico nos pomares e fazer o manejo conjunto de pinta preta e cancro com uso de cobres fixos, na dose de pelo menos 30 mg/m3 de copa, a cada 21 dias, até os frutos atingirem 5 cm.
Para bons resultados, é fundamental que a tecnologia de aplicação usada seja a recomendada. Os pulverizadores devem estar conservados, regulados e calibrados com volume acima de 75 mL de calda/m3 de copa para controlar eficientemente a pinta preta. Os pomares devem ser podados para que os equipamentos possam transitar pelas ruas de plantio sem que as pontas de pulverização toquem nos ramos das plantas.
Saiba mais sobre a doença e recomendações de manejo: Manual de pinta preta: https://www.fundecitrus.com.br/comunicacao/manual_detalhes/pinta-preta/83