A fruta, até então descartada no campo, começou a ganhar notoriedade desde que Dona Heloísa de Freitas Valle, uma produtora de banana do Vale do Ribeira, na região sul do Estado de São Paulo, começou a testar o uso da banana verde e de suas cascas na gastronomia. A descoberta aconteceu por acaso, após um assalto à sua propriedade. “Eu cheguei e não havia nada para comer. Para não voltar à cidade, pedi que buscassem na plantação um cacho de banana, mas todas estavam verdes”, conta ela, que, aos 84 anos, é uma das maiores divulgadoras dos benefícios do produto no País. Na ocasião, em 1991, Heloísa colocou a fruta picada para cozinhar e refogar, temperou e fez um caldo quente de banana verde. “O aroma invadiu a cozinha e o sabor era delicioso”, revela.
De lá para cá muitos estudos e pesquisas vem sendo feitos sobre as vantagens do uso da banana verde e da biomassa da fruta para a saúde. A própria Heloísa, junto com a amiga Márcia Camargo, mostrou a versatilidade do produto ao publicar o livro “Yes, nós temos bananas”, que conta a história da fruta e traz mais de 200 receitas doces e salgadas com o produto que é um dos símbolos do Brasil. A ex-produtora rural também levou os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos para as associações de produtores da região. “A banana verde sempre foi descartada, mas tem poder nutricional rico. Então, por que não aproveitar seus benefícios e gerar mais renda a essas famílias? “, questiona.
“A biomassa da banana verde é de fácil utilização e auxilia no melhor funcionamento do intestino, já que a fruta verde é rica em fibras e tem uma molécula de amido resistente que não é digerida e auxilia na redução de absorção de açúcar pelo organismo e no equilíbrio da glicemia”, revela Andrea Esquivel, nutricionista que conhece bem as propriedades da biomassa.
A produção da biomassa é feita pela Vale Mais Alimentos, empresa localizada em Itariri, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. Após cerca de três anos de pesquisas sobre os benefícios e a forma ideal de produzir a biomassa, a empresa tem a patente do processo e hoje comercializa o produto para restaurantes, indústrias, panificadoras e outras empresas do segmento de alimentos. A matéria-prima é adquirida de cerca de 15 produtores da região, cadastrados e acompanhados pela empresa, para verificação da qualidade do produto. A variedade comprada é a banana nanicão, que, segundo Cleonildo Xavier, diretor da companhia, se mostrou com maior índice de nutrientes e de amido resistente.
Com produção mensal de 20 toneladas de biomassa, o que equivale a cerca de 35 toneladas de banana, a companhia comercializa o produto no varejo e também tem parcerias firmadas com empresas de diversos segmentos. No litoral paulista, uma pizzaria em Santos já produz massas com a banana verde há pelo menos cinco anos, além de um bistrô que usa o produto como ingrediente. “Estamos desenvolvendo produtos como pães, bolos, cookies, sucos, almôndegas e carne de hamburger a partir da biomassa, junto com vários parceiros. Em breve eles chegarão ao varejo também”, diz Xavier.
O executivo explica que o mercado brasileiro de produtos naturais e saudáveis vem crescendo em média 20% ao ano. “Esse conceito de alimentos “faz bem” demorou a chegar no Brasil, mas agora o consumidor conhece e se preocupa com a qualidade e o impacto do que está comendo”. Por isso, a meta da Vale Mais é atingir sua capacidade total de produção, de 40 mil toneladas, até o final de 2014. “Queremos expandir nossa atuação para todo o Brasil e formar alianças com produtores de bananas em diversas regiões e instalar novas unidades próximo desses locais”, revela Xavier, que atualmente vende sua produção de biomassa para a região Sudeste e Sul, além de Goiânia, Cuiabá e Brasilia.
Parceria
Uma das empresas que apostou nos benefícios da biomassa é a La Pianezza. Com uma fábrica em Santo André, no ABC paulista, a empresa nasceu a partir da produção de antepastos e molhos naturais. “Mas sentíamos que faltava alguma coisa. Aí conhecemos os benefícios da biomassa da banana verde e resolvemos testar seu uso em nossas receitas”, conta Lourival Franchi, diretor da empresa. Ele conta que a companhia já nasceu com a proposta de oferecer produtos gourmet, mas, ao pesquisar o mercado, percebeu o potencial de negócios que os produtos naturais têm no Brasil. “Aí pensei, por quê não aliar o conceito gourmet com a questão de produtos saudáveis e naturais?”.
Ele revela que os primeiros testes levaram dois meses, até que fosse possível combinar o sabor dos produtos e a consistência com a biomassa. A partir daí, toda a linha de molhos e de antepastos da companhia tem como base a banana verde. “No caso dos molhos, o uso da biomassa ainda reduz a acidez do molho de tomate, deixando o produto ainda mais saudável”, revela o executivo.
O sucesso das novas combinações tem sido tamanho que, desde fevereiro deste ano, as vendas vêm crescendo em média 10% ao mês. Atualmente, a La Pianezza produz cerca de três toneladas de produtos mensais, mas a fábrica tem capacidade para chegar a 20 toneladas ao mês. “Nossa meta é dobrar a produção até o final deste ano e chegar a 12 toneladas no fim de 2014”, conta Franchi. Para isso, a companhia vem investindo pesado na participação em feiras e eventos e também na construção de uma rede de distribuição das linhas em todo o país.
Atualmente os produtos já estão em grandes redes varejistas da capital paulista como Mambo e Pastorinho, além dos empórios e de algumas lojas da rede Mundo Verde. Mas os produtos também já estão chegando ao Rio Grande do Sul, a Santa Catarina, Brasilia, Recife e Rio de Janeiro. “Agora, estamos negociando a nossa chegada em Curitiba e à procura de uma distribuidora para levar nossos produtos ao interior de São Paulo”, revela Franchi, que também está finalizando os trâmites para iniciar as exportações para os Estados Unidos e começa a vislumbrar oportunidades na América do Sul.
Para seguir com os planos de expansão dos negócios, a La Pianezza também se prepara para lançar mais dois sabores de antepastos e um novo molho até o final deste ano. Atualmente, a companhia comercializa os molhos de tomate nas versões tradicional, com manjericão e apimentado com pimenta jalapeño. Já os antepastos estão disponíveis nos sabores nozes, castanha-do-pará, sardela, apimentado e com alcachofras. Franchi salienta que os produtos da empresa são 100% naturais, mas não orgânicos. “Muitas pessoas confundem os conceitos e acham que tudo o que é natural é orgânico. O produto natural não tem conservantes, corantes ou qualquer composto artificial, mas o modelo de produção dos ingredientes no campo é o convencional”.