A variedade é resistente à sigatoka-amarela e à murcha de Fusarium
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Os agricultores brasileiros têm agora mais uma opção de bananeira do tipo Terra, também conhecida – a depender da região – como banana-da-terra ou plátano. Desenvolvida pelo Programa de Melhoramento Genético de Banana e Plátano da Embrapa, a BRS Terra-Anã vem se somar às variedades Terra Maranhão, Terrinha e D’Angola, registradas oficialmente pela Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) em 2018.
Em relação à cultivar D´Angola, sua competidora direta, a BRS Terra-Anã possui como diferenciais o porte anão, maior número de pencas e de frutos e maior produtividade, além de qualidades sensoriais e alimentares superiores. “Havia uma demanda forte da parte dos produtores por novas opções de cultivares desse tipo de banana, uma vez que as três cultivares comerciais mais utilizadas têm como principais desvantagens o porte muito alto, o ciclo produtivo muito longo, a baixa produtividade ou mesmo a pouca qualidade dos frutos”, afirma o pesquisador Edson Perito Amorim, coordenador do programa de melhoramento.
A variedade é resistente à sigatoka-amarela e à murcha de Fusarium e suscetível à sigatoka-negra, principais doenças da bananeira; à broca do rizoma (praga também conhecida como moleque-da-bananeira) e a nematoides (parasitas que afetam diversos aspectos relativos à produção). Inicialmente, a BRS Terra-Anã é recomendada para plantio no Mato Grosso e no Vale do Ribeira (SP), mas já existem trabalhos em andamento no norte de Minas Gerais e nos estados do Rio de Janeiro e Ceará visando validar a cultivar para futura extensão de recomendação a outras regiões.
Em paralelo a essa atividade e, considerando os resultados atuais, nos próximos anos a Embrapa deverá lançar, ao menos, dois plátanos com potencial agronômico e qualidade de frutos que vêm ao encontro das demandas do mercado.
A menor altura da planta da BRS Terra-Anã – 2,83 m, enquanto as concorrentes têm, em média, 3,50 m – permite melhor condução do bananal e considerável redução de quedas prematuras de plantas, sendo indicada para áreas de maior incidência de ventos fortes. A possibilidade de adensamento de plantio também é uma vantagem, uma vez que plantas mais compactas permitem maior quantidade no campo.
“Toda a dedicação do agricultor tem que ser revertida em lucro para que sua qualidade de vida seja satisfatória e ele conquiste os seus anseios. A BRS Terra-Anã, além de todas as características agronômicas vantajosas, converte essas vantagens em lucro líquido”, salienta Amorim.
Confira no podcast abaixo a opinião de três especialistas sobre a nova cultivar de banana-da-terra desenvolvida pela Embrapa.
“A banana-da-terra é uma fruta importante na cadeia produtiva da agricultura familiar, possibilitando retorno rápido do investimento, e faz parte da culinária tradicional dos mato-grossenses em quase todas as refeições. A produção é bem distribuída por todo o estado, diferentemente das regiões produtoras do Espírito Santo e da Bahia, onde entra a banana Terra Maranhão, que tem dedos menores e cachos mais produtivos. Aqui a preferência do mercado são frutos grandes, poucos dedos, e essa cultivar veio atender a essa demanda. A alta produção, o vigor, a resistência ao vento, o sabor, tudo isso se encaixou nas perspectivas dos produtores daqui”, afirma Humberto de Carvalho Marcilio, pesquisador da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer-MT). “A nossa recomendação é que seja feita a tecnificação porque o estado de Mato Grosso tem um período de forte seca. Então, quem quer produzir com qualidade, tanto a BRS Terra-Anã quanto a Farta Velhaca, tem que irrigar”, complementa.
A Empaer-MT é parceira da Embrapa desde 2000, quando passou a participar da Rede Nacional de Avaliação de Bananas e Plátanos. Em 2016, 12 materiais de plátano foram enviados à instituição para avaliações em campo e análise estatística para determinar os melhores genótipos.
Quatro se destacaram – entre eles, o que viria a se tornar a BRS Terra-Anã. “Todas as características agronômicas importantes foram avaliadas: peso dos cachos, produtividade e resistência a doenças. Muitos materiais com característica de resistência à sigatoka-negra não atendem à demanda do mercado consumidor do estado, onde a banana-da-terra tem grande importância, principalmente para a agricultura familiar. O trabalho foi feito também para ver a aceitação do mercado porque, afinal, não adianta lançar uma variedade que não agrade ao consumidor”, explica Marcilio.
Unidades demonstrativas foram implantadas nos municípios de Cuiabá, Acorizal, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio do Leverger, Poconé, Cáceres, São Domingos, Campo Verde, Nova Brasilândia, Nobres, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Tangará da Serra e Guarantã do Norte.
O produtor e engenheiro-agrônomo Eduardo Teixeira (foto à esquerda), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT) é um adepto da nova variedade, que foi testada na propriedade da família. “Enquanto a Farta Velhaca tem uma produção média de 10 a 12 quilos por cacho, eu obtive aqui na minha propriedade uma produção de 23 a 24 quilos em média com a BRS Terra-Anã. É uma alta produtividade, que traz um lucro muito grande para o produtor, já que os custos com plantação, manejo e condução do bananal com ela e a Farta Velhaca são iguais. No entanto, a renda líquida dela é 200% superior, avaliada na primeira e na segunda colheita. Outro ponto muito interessante é o embuchamento (distúrbio fisiológico caracterizado pela deformação do cacho, emitido fora da sua posição usual) que o frio acarreta nas plantas. A BRS Terra-Anã tem certa tolerância a baixas temperaturas como as daqui, de 10 a 11 graus, e praticamente foi zero embuchamento”, destaca Teixeira.
“Outro ponto positivo é que a broca (praga que frequentemente causa o tombamento de plantas infestadas, principalmente naquelas que apresentam cacho) tem menos apreciação por ela”, afirma o engenheiro-agrônomo, que também destaca a altura da planta: “Se você tem uma planta mais baixa, tudo fica mais fácil, como colher o cacho, desfolhar, pulverizar fungicida e inseticida, e ensacar o cacho”, acrescenta.
Edson Shigueaki Nomura, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, liderou as avaliações em experimento instalado na Apta Regional de Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira, por pouco mais de dois anos. Para ele, os destaques da cultivar são a qualidade do fruto, o menor porte e o manejo. “O manejo em si é melhor, principalmente no que se refere ao ensacamento, desbaste, colheita e pós-colheita. Além disso, em relação aos outros materiais, ela tem uma quantidade bem maior de amido, o que confere ao fruto maior firmeza, importante para quem trabalha com processamento e para o consumidor”, explica.
De acordo com ele, já existem produtores interessados na cultivar, em especial por conta da altura da planta. “Aqui eles só conhecem a Terra Maranhão e têm muita dificuldade em manusear esse material devido ao porte”, diz.
Sistema de produçãoEm setembro de 2021, a Empaer-MT disponibilizou para produtores e técnicos o “Sistema de produção para o Estado de Mato Grosso – Cultivares Farta Velhaca e BRS Terra-Anã” (foto à direita), que oferece informações técnicas sobre as boas práticas agrícolas no cultivo. Preparo do terreno, espaçamentos, adubação e tratos culturais, irrigação, pragas e doenças, colheita, pós-colheita e custo de produção são alguns dos temas abordados. “A falta de informações técnicas sobre a cultura tem sido um dos grandes gargalos para a expansão dessa atividade no estado. Esse documento visa contribuir para o aprimoramento dos produtores e técnicos”, ressalta Marcilio. Além de Marcílio, participaram também como autores do trabalho: os engenheiros-agrônomos Elder Cassimiro da Silva e Maria José Mota Ramos (Empaer-MT), Eduardo Teixeira (Senar-MT) e Milton Rodrigues, também professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT). O sistema pode ser consultado aqui. Foto: Humberto Marcílio |
Seis biofábricas inscritas no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estão autorizadas a produzir mudas da BRS Terra-Anã seguindo protocolos definidos pela Embrapa. Em 2021, elas concorreram a um edital de oferta pública e foram classificadas. Responsáveis por implantar jardins clonais de mudas, cada empresa recebeu um lote com 10 explantes – porções de tecido vegetal capazes de reproduzir uma planta sob condições controladas e artificiais – da variedade, para que pudessem estabelecer a produção em larga escala.
De acordo com o engenheiro-agrônomo Herminio Souza Rocha, analista do Setor de Gestão de Transferência de Tecnologia da Embrapa, o edital é uma das etapas do processo de inovação da Embrapa, o qual preconiza que, aproximadamente um ano antes do lançamento, biofábricas participem de comunicados como esse. “O objetivo é que, ao ser lançada uma cultivar, haja disponibilidade de mudas com garantia da identidade genética e de sanidade para o público interessado; no caso, o bananicultor”, detalha Rocha. Em contrapartida, ao se tornar um produtor oficial de mudas, a biofábrica recebe a licença não-exclusiva, intransferível e onerosa do direito de utilizar a marca “Tecnologia Embrapa”.
Segundo Márcio de Assis, engenheiro-agrônomo e sócio-administrativo da Multiplanta, uma das biofábricas licenciadas pela Embrapa para produzir mudas da BRS Terra-Anã, sempre houve uma demanda na empresa por mudas de bananeiras tipo Terra. “O projeto de produção de mudas da BRS Terra-Anã é considerado bastante promissor. As bananas do grupo Terra têm um mercado consumidor muito grande em todo o País e as características agronômicas da BRS Terra-Anã geraram um grande interesse na aquisição de mudas por produtores das diversas regiões, visando avaliar o seu comportamento, a aceitação das frutas no mercado e eventualmente promover os ajustes no seu sistema de produção”, observa.
Para o lançamento, a Multiplanta tem em torno de 50 mil mudas disponíveis para comercialização nos próximos meses – número que deve ser ampliado significativamente em função das expectativas e demandas favoráveis do mercado. “Não existe pedido mínimo de mudas. Entretanto, a orientação tem sido fornecer nessa primeira etapa quantidades limitadas que permitam aos produtores conhecer as características do material genético, ajustar o manejo e, assim, decidir com segurança a ampliação dos plantios”, esclarece. A Multiplanta produz e comercializa mudas micropropagadas de bananeiras desde 1992 e, em 2009, passou a ser licenciada pela Embrapa para a produção de mudas de cultivares protegidas, como a BRS Conquista e a BRS Platina.
Alinhamento aos ODSA bananeira BRS Terra-Anã está alinhada ao compromisso da Embrapa com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015, com a missão de construir e implementar políticas públicas que visam guiar a humanidade até 2030 (Agenda 2030). Atende, inicialmente, aos objetivos número 2 “Fome zero e agricultura sustentável”, que consiste em erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável, e número 3 “Saúde de qualidade”, que busca assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. Em 2017, foi criada a Rede ODS Embrapa, que visa gerenciar a inteligência distribuída nas Unidades de Pesquisa e responder a demandas sobre a Agenda 2030. |
Plátano x bananaBananas e plátanos estão entre as mais importantes culturas alimentares mundiais. Internacionalmente, na classificação botânica, banana e plátano são frutas distintas. A banana normalmente é utilizada para o consumo in natura e o plátano, para consumo frito, cozido, assado e em outras formas processadas. Tecnicamente, a diferença está na conversão de amido em açúcares ao longo do processo de maturação, como explica Edson Perito Amorim, melhorista da Embrapa : “Nas bananas, a conversão de amido em açúcar é mais acelerada e, por isso, elas têm uma palatabilidade maior. Já os plátanos têm como característica a baixa conversão de amido em açúcar, ou seja, à medida que o plátano vai amadurecendo, ele não fica tão palatável para o consumo in natura como a banana”, conclui. |