Um levantamento em áreas de produção de banana do Estado de São Paulo, no Vale do Ribeira, principal produtora de banana do Brasil, identificou que fatores do solo podem predispor as bananeiras à fusariose. O estudo mostrou que solos mais ácidos, com menor disponibilidade de fósforo, cálcio ou de manganês e menor saturação por bases fazem com que as plantas sejam mais afetadas pela doença.
Áreas de produção na região de São Bento do Sapucaí também foram avaliadas pelos pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, Instituto Agronômico (IAC), APTA/Vale do Ribeira e Cati/São Bento do Sapucaí. Nessa região, onde os bananais são manejados com menor uso de insumos químicos (fertilizantes e defensivos), os atributos físicos do solo mostram-se mais importantes para modular a intensidade da doença.
“Em cultivos de banana em São Bento do Sapucaí,” explica o técnico da Embrapa Meio Ambiente Henrique Vieira, “solos mais compactados e que apresentam maior resistência à penetração de raízes determinam maior incidência de fusariose”.
Em todas as regiões estudadas, em cultivares de banana Prata como nas do tipo Nanica, observa-se que plantas afetadas pela doença apresentam desequilíbrios nutricionais, com teores mais baixos de cálcio e de potássio em relação aos de nitrogênio.
A identificação desta associação entre fatores edáficos, estado nutricional das plantas e a incidência de fusariose, ainda que a princípio pareça uma descoberta de interesse apenas teórico, tem grande importância tanto para o dia a dia dos produtores rurais, como para aqueles consumidores que apenas desejam dispor de uma fruta saudável e com preço acessível.
“O estabelecimento de recomendações de práticas de manejo de solo que possibilitem a produção de banana num cenário em que o fungo causador da fusariose esteja presente depende deste conhecimento básico”, enfatiza Luiz Teixeira do IAC.
Para os consumidores, o reflexo imediato de uma doença tão grave quanto a fusariose da bananeira, é a redução da oferta de frutos e o aumento do preço.
A visão de que a saúde das plantas depende da saúde do solo faz com que a pesquisa busque soluções integradas para o controle de doenças, indo além da aplicação de defensivos.
Como sequência aos resultados obtidos nesse projeto, a equipe segue estudando a relação de fatores bióticos e abióticos com a intensidade da fusariose-da-bananeira tanto em condições de campo, como em casa-de-vegetação, no âmbito de um novo projeto, também financiado pela Fapesp, com encerramento previsto para março de 2022. Neste projeto também estão sendo investigadas alternativas de manejo da doença orientadas à saúde da planta via saúde do solo, bem como à redução de fatores de predisposição, como a presença do moleque-da-bananeira.
A equipe pretende também disponibilizar um sistema multicritério de indicadores para avaliação de impactos e adoção de Boas Práticas de Manejo direcionadas à convivência com a fusariose-da-bananeira.
“Esperamos que, ao final deste segundo projeto, possamos contar com informações que permitam desenhar estratégias de manejo para reduzir as perdas provocadas pela doença e aumentar a produtividade da bananeira”, afirma a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Jeanne Marinho Prado.
Fruta importante para o País
O Brasil é um dos grandes produtores de banana mundiais, sendo colhidas anualmente em torno de sete milhões de toneladas de frutos.
Atualmente, a fusariose da bananeira ou mal-do-Panamá, causada por um fungo de solo (Fusarium oxysporum f. sp. cubense), é a principal doença desta cultura. Esta doença foi identificada pela primeira vez no Brasil em 1939 afetando a cultivar Maçã e espalhou-se rapidamente pelo País causando sempre grandes prejuízos.
A produção de banana Maçã, por exemplo, tornou-se uma atividade “migratória”, exigindo que os agricultores mudem de área em cada safra em busca de solos sem a presença do patógeno. Outra solução foi o plantio de cultivares menos suscetíveis à doença, como a Prata e bananas do tipo Nanica, as quais ocupam cerca de 90% das áreas de plantio.
Entretanto, a substituição da banana Maçã por cultivares mais resistentes à fusariose implica em menor rentabilidade para os produtores, visto que os preços da banana Prata e Nanica sempre são mais baixos do que os da banana Maçã.
Embora seja uma alternativa muito utilizada atualmente, a mudança para cultivares resistentes à fusariose é uma opção que está sendo ameaçada pela disseminação de uma nova raça do fungo causador da doença, conhecida como Raça Tropical 4 (TR4). A TR4 vem destruindo bananais de todas as cultivares na Ásia, África e Oriente Médio, e na América do Sul já foi oficialmente detectada na Colômbia e no Peru.
Como as medidas mais usuais de controle de doenças em plantas, como aplicação de fungicidas ou rotação de culturas, são ineficientes para enfrentar a fusariose e não há cultivares de bananeira resistentes à TR4, buscam-se identificar possíveis condições de solo onde as plantas sejam menos afetadas pela doença.
Tem-se observado que bananais de uma mesma cultivar podem apresentar diferentes intensidades de fusariose, sugerindo que fatores ambientais possam estar envolvidos nesta variação.
Por ser uma planta tipicamente de climas tropicais, a bananeira exige cuidados como calor constante, precipitações bem distribuídas e elevada umidade para seu bom desenvolvimento. Porém, controlar o clima vai além da capacidade do produtor, por isso, o ideal é buscar meios que reduzam o estresse da produção.
Nesse sentido, a utilização de fertilizantes com benefícios antiestressantes, como os que possuem os aminoácidos prolina e glicina-betaína, podem auxiliar o manejo em períodos ambientais extremos com menor gasto energético. Assim, as bananeiras podem redirecionar seus compostos e energia para a formação e enchimento dos frutos.
Estudo realizado durante a safra de 2019/2020 pela UNESP Registro/SP, em parceria com a Ajinomoto Fertilizantes, realizou a aplicação de fertilizante organomineral que possui em sua composição os aminoácidos prolina e glicina-betaína, em produção de bananeiras na região do Vale do Ribeira (SP). A aplicação do produto na dose de 25 ml/litro de água promoveu aumento de 1,87 kg no peso do cacho.
Esse aumento da produção, mesmo em condições adversas, está relacionado à glicina-betaína, que age como um bioestimulador e induz um efeito protetor na planta, acionando estado de alerta para possíveis eventos de estresse. “Tal condição propicia menor perda de água nas células e potencializa o crescimento dos cachos”, explica Rafael Hirano, especialista sênior da área técnica, que acompanhou a pesquisa da UNESP.
Como complemento, o aminoácido prolina reduz danos causados por condições adversas, como falta de água e temperaturas extremas, permitindo que a planta tenha melhor aproveitamento hídrico, o que aumenta sua capacidade de resistência. “Assim como a glicina-betaína, a prolina é um composto que ajuda a planta a estar mais preparada para enfrentar situações críticas. Esse aminoácido funciona como uma espécie de vacina e pode ser um grande aliado na gestão fisiológica, o que aumenta o potencial produtivo”, afirma o especialista.
Fonte: Revista Rural, 2021.