(Entrevista publicada em 23/09/2015 – TodaFruta)
A equipe TodaFruta tem a satisfação de veicular esta importante entrevista com Ismário Bauer, diretor geral da BAMAK Equipamentos, de Santa Catarina, pelo trabalho realizado principalmente em prol da melhoria da qualidade da bananicultura brasileira, por meio da tecnologia de cabos aéreos.
TodaFruta – Como nasceu a BAMAK?
Ismário Bauer – BAMAK – A BAMAK é uma empresa nacional localizada no norte de Santa Catarina, Foi fundada em 1988 pelo filho de um pedreiro que, após aposentado, começou a plantar banana de forma familiar. Aos 14 anos, esse jovem saiu da agricultura e iniciou estudos profissionalizantes no setor metal-mecânico. Passados 18 anos, decidiu abrir seu próprio negócio. Começou com a prestação de serviços e logo apareceu a primeira oportunidade de desenvolver um produto próprio. Isso ocorreu quando uma comitiva de produtores foi ao Equador e viu a banana ser transportada por cabos. Dessa viagem, trouxeram uma fita gravada, da qual iniciamos o desenvolvimento e a fabricação dos primeiros componentes de um cabo, e esticamos o primeiro cabo em Santa Catarina. Para nossa felicidade, nosso primeiro cliente era um produtor político e contemplou a inauguração do cabo com um comício, envolvendo candidatos ao governo do Estado. Nessa oportunidade, um jornalista do Estadão, de São Paulo, relatou a novidade em uma matéria, que foi lida por profissionais da área de desenvolvimento de novos produtos da Belgo Bekaert de Belo Horizonte. Daí para a frente, a união com a UNESP de Jaboticabal fez deslanchar todo o nosso desenvolvimento. Atualmente, a BAMAK detém a patente do sistema e o produz desde 1996.
TodaFruta – Poderia dar mais informações sobre a participação da UNESP de Jaboticabal nesses estudos?
BAMAK – A UNESP foi a grande interventora deste trabalho inicial. Na época, a BAMAK era uma microempresa com grande conhecimento técnico, porém não tinha acesso ao histórico desse sistema. Com a coordenação da UNESP, conseguiu-se reunir um grande fabricante de aço como a Belgo Mineira Bekaert, a BAMAK, que já estava com um protótipo montado, e a Epagri – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Como resultado, conseguimos conhecer as regiões produtoras, obter conhecimentos técnicos e fazer ensaios práticos.
TodaFruta – Comenta o prof. Carlos Ruggiero: “Temos aconselhado nossos alunos, nestes 40 anos de atividades na UNESP-Jaboticabal, a terem dois objetivos ao ingressarem no curso de agronomia: 1) definam o mais cedo possível a área em que pretendem se especializar; 2)não fiquem esperando um bom emprego ao se formarem, mas sim em montar a sua empresa”. Qual sua opinião a respeito deste assunto?
BAMAK – Sou aluno do Senai. Depois de formado em técnico mecânico, busquei uma empresa para trabalhar e trabalhei nessa empresa por 17 anos. Mesmo com a minha empresa montada, permaneci no emprego por mais 2 anos. Hoje as oportunidades são muito maiores e o suporte dp Sebrae, etc., para se montar o negocio próprio é bem maio . Em minha opinião, o aluno deve sim estudar com um propósito; sabemos que todo individuo tem uma personalidade que o ajuda a definir o caminho que provavelmente seguirá, mas esta historia de ESTUDAR E ARRUMAR UM BOM EMPREGO, ou seja, querer ganhar um bom salário e trabalhar pouco está cada vez mais difícil de alcançar. É PRECISO ESTUDAR E COMPLEMENTAR SEU CONHECIMENTO, este complemento certamente será mais produtivo com bons profissionais que já estão atuando na área. Portanto, antes de montar seu próprio negocio é necessário obter o máximo de conhecimento naquilo que você se propuser a oferecer para o seu cliente, não esquecendo que, a partir do momento em que se monta um próprio negócio, cria-se a necessidade de fazer a gestão deste negocio, e aí começa o aprendizado da segunda etapa.
TodaFruta – A tecnologia para implantação de cabos aéreos já esta bem definida?
BAMAK – A BAMAK está constantemente investindo nesta tecnologia. Possuímos toda tecnologia para instalar todo o sistema de pós-colheita. Em 2014, finalizamos o projeto para atender produtores que possuem sua produção em áreas com declividades e em pivôs de irrigação em forma de circunferência. Nesse ano, foram instalados 85.000 metros de cabo aéreo, totalizando cerca de 850 ha, espalhados nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Espirito Santo, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Goiás.
TodaFruta – Sua firma se especializou em cabos aéreos. Como se dá a atualização destas informações publicadas em boas revistas?
BAMAK – Adotamos como estratégia os contatos com os engenheiros agrônomos que têm contato direto com o produtor. Também montamos uma estrutura de representantes por região. Usamos muito os correios eletrônicos e participamos de eventos. Para divulgar este produto e fazer as vendas, é necessário o corpo a corpo.
TodaFruta – Um dos problemas que sentimos é o de que precisamos importar máquinas, produtos etc., para proporcionar um bom trabalho. Para sua empresa essas importações ocorrem?
BAMAK – A BAMAK, além de fabricante de cabo aéreo, também produz máquinas. Todas as máquinas necessárias para atender o nosso processo de produção são compradas e/ou fabricadas internamente e não temos dificuldades neste sentido.
TodaFruta – A qualidade das frutas deve começar por boas práticas no campo. Quais as recomendações a um produtor sobre os procedimentos adotados no campo, antes de pensar em implantar linhas de cabos aéreos? O que a empresa oferece aos produtores nesta área?
BAMAK – Para se iniciar qualquer projeto, é preciso ter solo e água , mas não é só isso. É preciso pensar primeiramente em qual categoria de cliente se pretende trabalhar e aí planejar seu investimento. Propomos sempre unir o conhecimento do engenheiro que vai projetar a irrigação com o conhecimento da empresa que vai tratar da colheita. A qualidade final da fruta já estará garantida na questão de aspecto visual se estes dois tópicos estiverem bem alinhados. Temos todo o suporte técnico para elaborar os projetos.
TodaFruta – Quais os projetos marcantes da sua empresa nestes anos de atuação?
BAMAK – Além dos projetos tradicionais, ofertamos soluções para pequenos produtores, para os quais desenvolvemos estruturas circulares que substituem a famosa trave de madeira. Neste equipamento, o produtor pendura os cachos (em média de 40) e o despencamento da furta é feito em um ponto específico, evitando que a fruta seja apoiada no solo. Outro avanço foi o desenvolvimento da tecnologia para retirar frutas em áreas com declividade.
TodaFruta – O Brasil é o maior produtor de mamão, mas importamos papaína. Somos um grande produtor de abacaxi, mas importamos bromelina. Resumindo, quanto importamos para produzir cada fruta? Qual o pensamento da BAMAK, sobre esta questão?
BAMAK – Paralelamente ao segmento do cabo aéreo e da fabricação de máquinas, também possuímos uma fábrica de desidratação de banana e neste aspecto acompanhamos a produção de frutas. Apesar de já termos avançado na questão de evitar perdas de fruta no campo, ainda desperdiçamos muito, como é o caso do mamão, da banana e da manga. Estamos trabalhando para desenvolver mais produtos desidratados. A meu ver, não temos como produzir sem importar os insumos básicos, mas temos como industrializar nossa produção, primeiramente deixando de jogar no lixo aquilo que foi produzido e em segundo agregando valor. Também podemos exportar e buscar recursos de volta. Infelizmente o Brasil ainda é produtor de matéria-prima e não industrializa.
TodaFruta – Qual a recomendação a um estudante que deseja se aprofundar tecnicamente nesta área, o que você recomendaria?
BAMAK – O conhecimento mecânico é necessário, porém a parte técnica construtiva é totalmente fornecida pela fabrica. Na elaboração dos projetos é que deve ser aplicado o conhecimento maior e isso tem muito a ver com o conhecimento pratico da utilização no campo. A formação de um profissional nesta área leva aproximadamente 2 anos.
TodaFruta – Como se dá o aprimoramento profissional dos funcionários da sua empresa, para atender este crescente e exigente mercado?
BAMAK – Possuímos nossa empresa há 26 anos e temos uma equipe bem fidelizada. Possuímos programas internos de treinamento. Não temos problemas de rotatividade de pessoal.
TodaFruta – Quais as possibilidades de estágio na empresa, e como o aluno deve proceder?
BAMAK – Temos convênio com a IEL e as tratativas deverão ser feitas diretamente com a nossa empresa.
TodaFruta – Quais outros pontos gostaria de destacar?
BAMAK – Estou trabalhando desde 1996 neste segmento e acompanho o sofrimento do agricultor brasileiro. Tenho muitos clientes em todas as regiões e sou testemunha da falta de atenção que esta classe esta tendo por parte dos órgãos do governo e dos bancos. O nosso produto está cadastrado no FINAME, no cartão BNDES, no programa Mais Alimentos, etc. Mesmo assim, as nossas vendas são feitas 90% sem financiamento. E quando o financiamento é liberado, o produtor já não precisa mais. Criamos uma nova empresa no município de Janaúba, MG, com objetivo de estar mais perto do produtor. Em breve lançaremos mais um trabalho aliado a um produto que também beneficiará diretamente o produtor na pós-colheita.