No sul do estado, o cultivo do cacau orgânico é novidade. As fábricas de chocolate agora estão dentro das fazendas.
Produtores de cacau do sul da Bahia vivem uma nova fase. Depois de um período difícil por causa de uma doença nas lavouras, a vassoura de bruxa, eles aprenderam a produzir um cacau de melhor qualidade. E não é só isso. Hoje já tem fábrica de chocolate dentro das fazendas, na região de Ilhéus. Essas tecnologias estão chegando também para os pequenos agricultores.
O município de Ilhéus, com suas belas praias, também leva fama de ser a terra do cacau e não é por acaso. Quase todo agricultor já se aventurou na lavoura cacaueira. Em um assentamento, três Marias, Santiago, da Conceição e de Lurdes, trabalham em dia de colheita. Cada uma tem em torno de três hectares de cacau e, em mutirão, se ajudam no trabalho. Retiram os frutos do pé e ali mesmo, no meio da lavoura, separam a polpa da casca. O bom humor tem motivo. Há quatro anos, as agricultoras passaram a vender o cacau para uma cooperativa que transforma o fruto em achocolatado e o preço que recebem pelo quilo da amêndoa dobrou, passou de R$ 4 para R$ 8. Valorizar o produto também foi uma das maneiras para sobreviver do cacau depois da vassoura de bruxa. A doença causada por um fungo acabou com grande parte das lavouras da Bahia, no início da década de 90. O fungo ainda está presente nas lavouras, mas hoje dá para conviver com a doença usando variedades resistentes e boas práticas de manejo. Para o achocolatado, só vão os frutos sadios. O capricho segue na fermentação e na secagem. O cacau seco é levado para a cooperativa e 60% das amêndoas que chegam vão para a produção do chocolate em pó. A fábrica da cooperativa funciona em uma incubadora dentro da Ceplac, Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, órgão que trabalha com a pesquisa do cacau. O achocolatado é vendido para a merenda escolar de municípios da Bahia. Os resultados dessa parceria com a cooperativa já aparecem na casa de dona Maria. O banheiro foi reformado, tem sofá novo, internet e a cozinha está equipada. Assim como os associados da cooperativa de Maria, outros produtores estão melhorando a renda com a estrutura da Ceplac. Além da incubadora, a Ceplac montou uma fábrica de chocolate para beneficiar o cacau de pequenos agricultores. O agricultor paga a fábrica deixando 10% do que é produzido. O que fica é aproveitado pela Ceplac como divulgação do chocolate. A embalagem e a comercialização ficam por conta do agricultor. Da fábrica da Ceplac também sai o chocolate do produtor Luciano Sanjuan, que tem 12 hectares de cacau. Ele conseguiu valorizar ainda mais a produção: o cultivo é orgânico, sem nada de agrotóxico. Uma das principais formas para o cultivo do cacau orgânico é o sistema cabruca. O cacau é plantado debaixo da Mata Atlântica, o que garante umidade e a produção de matéria orgânica para a planta. No sistema cabruca, parte da mata dá espaço para o cacau que é plantado nos morros, em curva de nível, ou seja, em linhas horizontais, o que segura a água da chuva e por consequência a matéria orgânica. O mato que fica na lavoura e as folhas do próprio cacaueiro servem de adubo e Luciano também aproveita a casca do cacau. Luciano hoje vende o cacau orgânico para as indústrias de chocolate do Brasil e da Europa, além de atender empresas de cosméticos.
No município de Barro Preto, vizinho a Ilhéus, os 210 hectares de cacau de uma fazenda são orgânicos, plantados no sistema cabruca. O agricultor Fernando Botelho é outro que precisou se reinventar, depois da vassoura de bruxa. Ele montou uma pequena fábrica de chocolate dentro da propriedade. Além do chocolate, Botelho aposta também no mercado de outra especialidade: o chamado nibs, um produto que é a matéria-prima do chocolate, um poderoso antioxidante. Aos poucos, o chocolate fino, ou gourmet, vem ganhando espaço, mas por trás do título de gourmet, tem uma série de práticas no campo.