O marmelo (Cydonia oblonga Mill), usado num dos doces mais antigos do Brasil, está escasso no sul de Minas Gerais. Justamente em municípios que já tiveram sua economia movida pela produção da marmelada. Por isso, agricultores, pesquisadores e a comunidade se mobilizaram para tentar retomar o cultivo da fruta. É um resgate também da história e da cultura da região.
A fruta do marmelo tem aparência que lembra a maçã e a pêra, mas não é muito consumida ao natural porque o sabor é bastante ácido. Por isso, seu principal destino é a produção de doces.
A fabricação de marmeladas foi a principal da atividade econômica da região da Serra da Mantiqueira, sul de Minas Gerais, no século passado. Hoje está difícil encontrar produtores. César Lourenço é um dos poucos. No município de Marmelópolis, que ganhou o nome justamente por causa da fruta, ele mantém a plantação que era do pai. Ela conta porque nunca desistiu: “meus avós tanto paternos quanto maternos eram produtores de marmelo. Meu pai deu continuidade nesse trabalho e eu mantenho a tradição. Isso que é mais importante.”
A decadência do marmelo começou entre os anos 70 e 80, principalmente pela concorrência com outros produtos, como explica o agrônomo Rafael Pio, da Universidade Federal de Lavras, em Minas. “A entrada da goiabada que falam que é um doce um pouco mais atrativo do que a marmelada. Mas na verdade o marmelo é um fruto totalmente dependente da indústria. O preço começa a ficar muito baixo, e o produtor começa a desanimar e começa a partir pra outra atividade econômica. Em 1990 existiam 1500 hectares de marmelo cultivados aqui nessa região e hoje algo em torno de 100 hectares. Foi realmente uma queda muito grande.”
Em toda a região, havia mais de 20 indústrias de doce. Daquela época, todas fecharam. Da antiga fábrica da Cica, o que sobrou do prédio hoje é a sede da prefeitura do município de Delfim Moreira.
Para não deixar a lavoura acabar, Cesar conseguiu trazer pra roça o filho Juninho, que trabalhava em tecnologia de informação numa multinacional. Em três anos, a plantação passou de 400 para 700 pés. Juninho e o pai participam de um trabalho que o agrônomo Rafael faz junto com outros pesquisadores para recuperar a cultura do marmelo no sul de Minas.
O marmeleiro é originário da região do Mediterrâneo e foi trazido pelos colonizadores portugueses. Por isso a variedade mais comum no Brasil é chamada de Portugal. A árvore dá frutos uma vez por ano. A altitude e o clima ameno da Serra da Mantiqueira são ideais para o cultivo. As matas preservadas também protegem as plantas e garantem a umidade. O recomendado é que elas não passem de dois metros e meio de altura, e não tenham excesso de brotações.
O trabalho de pesquisa é para oferecer aos agricultores plantas com maior produtividade e resistência a doenças. Uma que já está bem adaptada é a argentina Mendoza Inta 37. Ela dá frutos maiores e sofre menos com os fungos. Sete variedades estão sendo testadas em diferentes lugares de Minas Gerais.
Fonte: Globo Rural – Edição do dia 16/04/2017.