A BUG Agentes Biológicos, única empresa brasileira a figurar entre as 40 mais inovadoras do mundo pela revista Fast Company, dos EUA, atua no segmento de controle biológico de pragas na agricultura. Sediada em Piracicaba, SP, é dirigida pelo engenheiro agrônomo Diogo Rodrigues Carvalho, formado pela UNESP/Jaboticabal com mestrado em entomologia pela ESALQ/USP, e pelo biólogo Heraldo Negri de Oliveira. Nesta entrevista à equipe de TodaFruta, liderada pelo Prof. Dr. Carlos Ruggiero, o engenheiro agrônomo Bruno Marin Arroyo, coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento da BUG, relata a trajetória da empresa e opina sobre outros temas de interesses dos agricultores em geral.
TODAFRUTA – Quando nasceu a ideia de criação da BUG?
BUG – Surgiu há 15 anos e teve início em 2001 na Incubadora de Empresas da ESALQ/USP em Piracicaba, a EsalTec, , quando os sócios-fundadores Diogo Rodrigues Carvalho e Heraldo Negri de Oliveira vislumbraram transformar em negócio a produção de insetos para controle biológico, passando de uma escala modesta no ambiente da Universidade para uma escala massiva com o objetivo de cobrir e proteger de pragas grandes áreas agrícolas, características da agricultura brasileira.
Eng. Agr. Bruno Marin Arroyo
TODAFRUTA (Prof. Carlos Ruggiero) – Tenho aconselhado meus alunos a terem dois procedimentos ao entrarem em um curso superior tão extensivo quanto o de engenharia agronômica: 1) Em qual área você gostaria de se especializar? 2) Não fique na faculdade à espera de um bom emprego ao se graduar, mas saia com o seu projeto embaixo do braço? Vocês concordam com essa recomendação?
BUG – Em parte sim. O curso de engenharia agronômica possui muitas áreas de atuação, demonstrando um pouco do potencial, principalmente do Brasil, para a agricultura e o agronegócio. Este profissional tem de estar preparado para múltiplas funções, tem que ser maleável e ter um conhecimento amplo das várias áreas de atuação dentro de sua carreira. Mas já procurar direcionar uma área realmente será importantíssimo, e isso ele pode iniciar mesmo na graduação, com desenvolvimento de trabalhos e projetos que envolvam essa área com a qual mais se identifica. Participar de cursos e eventos também contribui para criar contatos com empresas e profissionais da área.
TODAFRUTA – Comenta-se que um projeto em desenvolvimento na BUG é o de utilização da vespa Trichogramma em abacate. Comente a respeito.
BUG – Sim, iniciamos esse trabalho na região de Bauru. No abacate, há uma praga popularmente conhecida como broca-do-abacate (Stenomacatenifer), que causa danos nos frutos, acarretando um prejuízo econômico considerável ao produtor. Devido ao difícil controle desta praga em sua fase larval, os produtores descobriram no Trichogrammauma forma de controle diferenciada, pois ele parasita os ovos da broca-do-abacate. Os primeiros resultados são muito satisfatórios. Estamos muito empolgados.
TODAFRUTA – Neste projeto com Trichogramma, quais as etapas a serem observadas até sua conclusão?
BUG – Para a obtenção de um resultado satisfatório de controle biológico, é necessário partir de um estudo sobre as características da praga. É preciso saber, por exemplo, seu ciclo, sua biologia e seu comportamento. Verificamos que o ovo da broca-do-abacate poderia ser um alvo interessante de controle, e na bibliografia constavam trabalhos citando o controle com Trichogramma. A partir daí, outras etapas devem ser estabelecidas, dentre as quais algumas das principais são: monitoramento da praga, data do início das liberações, número de parasitoides liberados, quantidade de liberações, número de pontos por hectare e seu espaçamento, intervalo entre as liberações e linhagem mais eficiente. Após isso, procuramos realizar amostragens para verificar como está o controle da praga.
TODAFRUTA – A faculdade tem que estimular o relacionamento entre o produtor rural e suas atividades acadêmicas, como demonstra esse trabalho da BUG. Você concorda com este posicionamento?
BUG – A faculdade deve ser uma estimuladora dessa relação, mostrando caminhos para sinergia entre o homem do campo, que possui sabedoria acumulada por gerações, mas que precisa estar atualizado com o conhecimento e a inovação advindos do mundo acadêmico-científico. Nesse sentido, a instituição de ensino superior é uma fomentadora de ideias e práticas.
TODAFRUTA – Como andam as pesquisas para controle da broca do fruto no abacaxizeiro?
BUG – Estão em fase inicial. Estamos estudando e analisando o comportamento da praga e, em paralelo, iniciaremos em algumas áreas liberações de Trichogramma pretiosum. Acreditamos que as chances de sucesso também serão satisfatórias, tornando-se essa uma opção muito interessante para os produtores.
TODAFRUTA – A BUG tem projetos para trabalhar com feromônios?
BUG – Diretamente em curto prazo não, mas os feromônios são importantíssimas ferramentas auxiliares no manejo biológico das pragas, principalmente para a BUG que tem como principal produto a vespinha Trichogramma. Os feromônios nos passam informações de quando chegam os adultos (mariposas) na área, demonstrando a época ideal para realizar o início das liberações da vespinha. Atualmente estamos visualizando outras frentes de expansão, como a área de serviços, realizando pesquisas de monitoramento de resistência de pragas, testes de eficácia e resíduos de produtos, além de vislumbrar nos próximos anos o aumento de nosso portfólio de produtos, investindo em microbiológicos como fungos, vírus e bactérias.
TODAFRUTA – Para uma melhor visualização dos problemas enfrentados pelos produtores, não seria desejável que os cursos de agronomia mantivessem uma central de atendimento ao produtor, com efetiva participação dos alunos devidamente orientados?
BUG – Ajudaria bastante, pois o agricultor carece às vezes de uma orientação mais próxima em que possa confiar, já que muitos dos órgãos públicos de extensão não conseguem atender a toda a demanda. A criação de grupos de atuação em áreas específicas dentro das universidades poderia contribuir para isso, funcionando quase como uma consultoria júnior, o que acrescentaria muito na vivência dos estudantes, tornando-os muito mais preparados para o mercado de trabalho, além de proporcionar novas informações e novos conceitos aos produtores.
TODAFRUTA – Quantas empresas semelhantes à BUG existem no Brasil?
BUG – Uma boa fonte para a obtenção deste dado é a ABCBio, a entidade que congrega as empresas do ramo.
TODAFRUTA – Como a empresa visualiza o potencial da fruticultura brasileira para as atividades da BUG?
BUG – Avaliamos como um potencial muito grande, tendo em vista que a fruticultura brasileira tem iniciado apenas agora e de forma mais intensiva a busca por programas de controle biológico. Com os resultados que estamos conseguindo mostrar aos produtores que trabalham com diferentes cultivos, a tendência é que cada vez mais procurem estas novas formas de controle, que visam à sustentabilidade agrícola.
TODAFRUTA – Que recomendações vocês dariam aos alunos de graduação e pós-graduação para o desenvolvimento de suas atividades acadêmicas?
BUG – Recomendamos que busquem conhecimento além das salas de aula,que participem de atividades, ampliando assim as fronteiras e os horizontes. Também são importantes atividades que complementam a formação acadêmica, que saibam trabalhar em equipe e se preparem para tomar decisões.
TODAFRUTA – Para aqueles alunos relacionados com as atividades da BUG, vocês oferecem oportunidades para estágios e, em caso positivo,quais os procedimentos adotados?
BUG – Com o crescimento da empresa, com certeza teremos oportunidades de estágio nestes próximos anos. O procedimento que o candidato deve adotar é, inicialmente, encaminhar um e-mail para rh@bugbrasil.com.br, citando os trabalhos que já desenvolveu, além de informar sua experiência.
TODAFRUTA – Quais outros aspectos vocês gostariam de comentar?
BUG – O controle biológico representa de imediato uma necessidade para a agricultura mundial e carece ainda de mão de obra qualificada em vários setores de sua cadeia de negócios, desde pesquisadores até técnicos para o manejo. É um segmento promissor e com amplas possibilidades para aqueles estudantes que queiram se especializar nessa área, que cresce 30% ao ano no Brasil. Pode-se acompanhar o que a BUG desenvolve e faz pelo produtor rural e a agricultura pela imprensa, nossas redes sociais (Facebook, Twitter, Google+, Canal BUG TV no YouTube eInstagram), além de nosso website (www.bugbrasil.com.br).
TODAFRUTA- A equipe Toda Fruta agradece as valiosas informações prestadas pela BUG, que sem dúvida serão importantes para o desenvolvimento da agricultura e, em particular, da fruticultura no Brasil. Estendemos nossos agradecimentos ao Dr. Aloisio Costa Sampaio, da UNESP/Bauru, pela indicação desta reportagem.
Conheça a BUG
A BUG Agentes Biológico, sediada em Piracicaba, SP, e com outra unidade em Charqueada, SP, atua no setor de controle biológico e é a única do país classificada entre as 40 mais inovadoras do mundo pela revista norte-americana FastCompany. Esse reconhecimento surpreendeu os diretores da empresa, acostumados ao ambiente das plantações e laboratórios: “Muito mais do que o orgulho de sermos a primeira empresa nacional na lista daFastCompany, esta indicação é um marco para o setor de controle biológico natural. É o reconhecimento definitivo da importância desse braço de apoio da agricultura mundial”, comemora Heraldo Negri, biólogo e diretor de produção da BUG.
A empresa produz e comercializa desde 2001 agentes de controle biológico com alta tecnologia. Esses agentes são em sua maioria vespas que parasitam ovos das principais pragas que destroem as grandes culturas. A BUG também produz outros insetos predadores empregados no controle biológico.
Segundo Diogo Carvalho, agrônomo e diretor comercial da BUG, as vespas e outros insetos produzidos nos laboratórios da empresa conseguem atingir um índice de até 90% de eliminação de pragas. “Com isso, os produtores precisam investir menos recursos em agrotóxicos, cuja composição química pode ser muito danosa à saúde da população”, explica Carvalho.
A BUG defende institucionalmente uma mudança na cultura de controle biológico, muito focada ainda hoje no uso de agentes químicos, cujo mercado brasileiro gira em torno de US$ 11,4 bilhões/ano. “Mais do que uma alternativa eficaz no que tange à proteção das plantações e diferentes culturas, e cujos desdobramentos podem ser comprovados na melhoria da saúde pública, queremos que a ordem se inverta em termos de prioridade de uso. Acreditamos que o melhor pontapé inicial seja por meio do uso de agentes biológicos naturais. Já sentimos uma mudança no mercado e a nossa expansão em todo o território nacional comprova isso. Também exportamos para vários países da União Europeia, onde a opção pelo controle biológico, em cultivos protegidos, já está consolidada há mais de 50 anos”, analisa Diogo Carvalho.
A empresa tem na carteira de clientes pesos-pesados da agricultura nacional, principalmente indústrias ligadas ao setor sucroalcooleiro. Embora a indicação da Fast Company encha de entusiasmo os 70 funcionários da BUG, a simplicidade das ações estratégicas, aliada à eficiência de gestão, são o segredo desta pequena empresa “caipira”. Tanto Carvalho como o sócio Heraldo Negri fazem coro e creditam esse sucesso ao fato de trabalharem com inovação, tendo a tecnologia a favor da natureza e da sustentabilidade. “Esse diferencial representa o futuro do planeta, na verdade. Mas é um futuro que já começou”, finalizam.
Entrevista realizada em 07/07/2016 pela equipe do portal Toda Fruta