É importante que os produtores conheçam um pouco mais os fatores que podem influir na polinização do seu maracujazeiro. Essa consideração, motivou o portal TodaFruta a entrevistar o Prof. Dr. Carlos Ruggiero sobre o assunto.
TodaFruta – A flor do maracujazeiro não possui a parte masculina e feminina na mesma flor. Isso já não é suficiente para uma boa polinização?
Ruggiero – Realmente a flor do maracujazeiro tem a parte masculina representada por 5 grandes anteras. É possível verificar, na parte inferir da flor aberta, os grãos de pólen de coloração alaranjada, e a parte feminina representada pelos estigmas tripartidos, o que é positivo para uma boa polinização. No entanto, diversos fatores podem influir na boa polinização, e é necessária atenção para com eles, a começar pelos diferentes tipos de flores.
TodaFruta – A propósito, Prof. Ruggiero, em sua tese de doutoramento defendida em 1973, o senhor enfatizava a importância dos diferentes tipos de flores. O senhor poderia comentar a respeito?
Ruggiero – O maracujazeiro amarelo, a espécie predominante nos plantios comerciais no Brasil, apresenta diferentes tipos de flores com resultados diferentes com relação à polinização. São três tipos, que resumimos a seguir:
FLOR TC- Significa flor totalmente curvada (TC), onde os estigmas estão no mesmo plano das anteras, o que facilita a polinização pelas mamangavas, o principal agente de polinização do maracujazeiro. Outra observação importante para sorte nossa, é que este tipo de flor é o predominante nas lavouras em porcentagem superior a 70%.
FLOR PC (parcialmente curvado) – significa que os estigmas (parte feminina) estão parcialmente curvados (PC), acima das anteras, em ângulo em torno de 40 graus. Isso dificulta a polinização pelas mamangavas.
FLOR SC (sem curvatura) – significa estigmas sem curvatura (SC), soldados, unidos, formando um ângulo de aproximadamente 90 graus em relação às anteras. Observamos também que este tipo de flor apresenta um problema de fêmea esterilidade, ou seja, não frutifica mesmo quando se faz a polinização manualmente.
TodaFRuta – A má polinização pode também ser resultado de um possível problema de macho esterilidade?
Ruggiero – Sim. Em nossas observações, havia a suspeita de que a deficiência na frutificação poderia estar ocorrendo devido a macho esterilidade. Então, fizemos testes de germinação dos grãos de pólen, e os resultados foram conclusivos: o maracujazeiro amarelo, nos diferentes tipos de flores, não apresenta problemas de macho esterilidade.
TODAFRUTA – Comenta-se que as mamangavas são os mais importantes polinizadores do maracujazeiro. O senhor poderia explicar por quê?
Ruggiero – Realmente, as mamangavas são os mais importantes polinizadores do maracujazeiro devido ao seu tamanho. Observa-se que, visitando uma flor TC na coleta de néctar e pólen para alimentar as formas mais jovens, a mamangava faz um giro completo na flor, devido ao foto de que o ponto mais fácil para extrair o néctar encontra-se na projeção dos estigmas, que são três. Nesse giro, ela passa com as “costas” sob as anteras, que assim ficam carregadas de pólen. Desse modo, a mamangava realiza a polinização ao visitar outras flores.
TodaFruta – Quais os resultados obtidos com os diferentes agentes polinizadores?
Ruggiero – Para essa observação, protegemos várias plantas diferentes em uma estrutura de telado. Introduzimos as mamangavas nessa estrutura, sem a presença de outros agentes, e observamos a frutificação obtida, que pode ser resumida da seguinte maneira:
TC = 80% de frutificação;
PC = 20% de frutificação;
SC = 0% de frutificação.
Verificou-se assim a diferença de frutificação em função dos diferentes tipos de flores, evidenciando-se a importância das flores tipo TC e a não frutificação das flores SC.
TodaFruta – E como se comportou a polinização com outros agentes?
Ruggiero – Observamos duas situações: com abelhas melíferas e sem agente polinizador, apenas com a possível contribuição do vento. No caso das abelhas melíferas, os resultados obtidos foram os seguintes:
TC= 5% de frutificação;
PC= 1% de frutificação;
SC= 0% de frutificação.
Sem agente polinizador, os resultados foram nulos (0% de frutificação) para os três tipos de flores. Isso demonstra a baixa eficiência das abelhas melíferas e a inoperância do vente como agente polinizador.
TodaFruta – Com base nessas observações, como um produtor pode avaliar se a polinização natural que está ocorrendo em sua propriedade é adequada?
Ruggieiro – Essa é uma observação importante. O produtor deve agir da seguinte maneira: 1) ir ao campo em dia ensolarado, com as flores abertas, portanto no período da tarde, marcando três flores por planta, repetindo a marcação em plantas diferentes; 2) marcar as flores com uma etiqueta, para possibilitar voltar à mesma planta depois; 3) marcar cem flores, ou seja, 33 plantas, cada qual com três flores selecionadas; 4) voltar ao campo quatro dias depois das marcações; 5) contar os frutinhos nas flores marcadas, que deverão estar do tamanho de uma azeitona, indicando que ocorreu a polinização e a fecundação; 6) contar também as flores sem frutos, significando que não foram fecundadas. O resultado desejável é que a frutificação tenha ocorrido em 50% das flores. Valores abaixo desse indicam que deve ser realizada polinização manual.
TodaFruta – Considerando a importâncias das mamangavas na polinização, como o produtor deve proceder para manter a população desse inseto em seu pomar?
Ruggiero – O produtor deve tomar as seguintes providências: 1) não pulverizar sua lavoura à tarde, quando as flores estiverem abertas, dando preferência para que esse serviço seja realizado no período da manhã, quando as flores ainda estão fechadas; 2) manter a cobertura florestal obrigatória por lei e a reserva legal, que poderá abrigar as mamangavas; 3) dar preferência à produção integrada, com reduzida participação do defensivos; 4) utilizar nas pulverizações produtos estritamente registrados para a cultura; 5) manter ao redor da cultura plantas apreciadas pelos insetos; 6)utilizar produtos seletivos; 7) obter sementes de produtores devidamente registrados.
TodaFruta – Que outros fatores podem influir na fecundação, levando a uma produção menor?
Ruggiero – Uma baixa frutificação também pode ocorrer devido a pelo menos outros seis fatores: 1) ocorrência de pragas e doenças, sendo neste caso recomendável que o produtor, antes de iniciar o plantio, se informe, leia informações técnicas sobre a cultura, familiarizando-se com as pragas e doenças que poderão ocorrer em sua lavoura; 2) desequilibrio nutricional, recomendando-se que faça análise do solo e veja como proceder para fazer análise de folhas ao longo do desenvolvimento da cultura; 3) incompabitilidade, observada quando o maracujazeiro apresenta problemas de auto-incompatibilidade ou de incompatibilidade cruzada; esse problema poderá ser resolvido facilmente com a compra de sementes de boa origem; 4) chuva – observções realizadas mostram que os estigmas precisam permanecer secos no mínimo duas horas após a polinização, significando que chuvas que ocorrerem até as 16:00 horas podem determinar queda na fecundação; 5) má polinização – significa frutos com poucas sementes; 6) processo de propagação utilizado, significando que, se optar por formar suas mudas coletando sementes no pomar, o produtor deve utilizar sementes de várias plantas e nunca de uma única.
O portal TodaFruta agradece a contribuição do Professor Carlos Ruggiero.