11/01/2016 – Globo Rural
Conheça a preparação do vinho e a confecção dos cestos para o fruto. Açaí inspirou até a música regional dos ribeirinhos do Baixo Tocantins.
Nas ilhas do Baixo Tocantins, os açaizeiros nativos soltam cachos o ano todo, mas o período mais forte de produção ocorre no segundo semestre, entre agosto e novembro. Nessa fase, o trabalho na mata mobiliza um exército de ribeirinhos.
Tiago Rodrigues conta que nos tempos de safra, chega a subir em 60 açaizeiros por dia. Para dar mais firmeza na subida, ele usa um apoio para os pés.
Perto dali, outra família se dedica ao mesmo serviço. Morador da Ilha Cuxipiari, Duca Maia costuma trabalhar no açaizal com ajuda dos filhos. Primeiro, Manuel, de 30 anos, e Rafael, de 29, sobem nas palmeiras em busca dos frutos. Depois, entram em cena as moças. Luciana, 19 anos, Laiana, 21, e Juliana, de 25, vão retirando o açaí dos cachos e enchendo grandes cestos de palha.
Vale notar que todos os jovens da família estudam ou já se formaram numa escola municipal, muito bem arrumada, que fica na ilha. Juliana, aliás, concilia o trabalho na floresta com um emprego na escolinha. E, como muitos jovens da região, está fazendo faculdade.
O açaí das ilhas é vendido para comerciantes locais, os regateiros. Cada cesto com 14 quilos é comprado por um preço que varia de R$ 15 a R$ 20. O pagamento é feito na hora. Na última safra, a família Maia vendeu pouco mais de 10 toneladas de açaí, o que trouxe uma renda total de R$ 10,9 mil.
Além de trabalhar com açaí, as famílias das ilhas também tomam o suco da fruta, praticamente todos os dias. Para extrair a polpa, muita gente usa batedeiras, que são comuns na Amazônia, mas ainda tem gente que faz o suco do jeito tradicional. É o caso de dona Nila Maia, a mãe de Duca. Na cozinha de casa, ela amassa os frutos num grande tacho de barro. Em seguida, ela esfrega a massa numa peneira de palha. Os caroços ficam em cima e o suco cremoso vai saindo por baixo. Dona Nila conta que esse jeito artesanal de fazer o suco, aos poucos, está desaparecendo na região.
Os ribeirinhos do Baixo Tocantins também aproveitam um outro produto do açaizeiro.
Terminada a safra, uma vez por ano, Nílson e os parentes fazem o corte do palmito, que fica na parte mais alta do caule. Para isso, eles retiram apenas uma ou duas palmeiras de cada touceira, deixando as outras para produção de frutos. Como a touceira está sempre crescendo e soltando brotos, a poda não prejudica o açaizeiro.
O palmito de Nílson segue para uma agroindústria de Cametá, que trabalha basicamente com açaí das ilhas. Lá, o produto é cortado, lavado, salgado, cozido e colocado na embalagem final, mas diferentemente dos frutos, que são adorados na Amazônia, o palmito não é muito consumido no local.
Se a produção do palmito tem uma importância secundária para região, a cadeia produtiva dos frutos envolve uma engrenagem gigantesca. Segundo um levantamento do IBGE, os municípios do Baixo Tocantins produzem anualmente cerca de 450 mil toneladas de frutos. E quase tudo vem das ilhas.
O açaí é levado para lugares como o Porto de Carapajó, em Cametá, onde dezenas de trabalhadores vão descarregando os frutos e colocando tudo em caminhões refrigerados. A produção segue por terra para a grande Belém, onde terá dois destinos. A maior parte é comprada pelas famosas batedeiras locais: empresas, normalmente pequenas, que vendem o suco feito na hora. Dois terços do açaí do Pará é consumido no próprio estado e o restante dos frutos vai para as agroindústrias, que extraem e congelam a polpa. Um produto que viaja para bem longe da Amazônia. O açaí tem uma imagem simpática no Brasil e no exterior.
Nas ilhas do Baixo Tocantins, a cadeia produtiva do açaí também engloba outra atividade importante: o artesanato de cestos, conhecidos como paneiros.
Assista ao vídeo com a reportagem completa e conheça a tradição da confecção que é passada de pai para filho e uma família que se dedica ao artesanato há quatro gerações. Veja ainda como o açaí das ilhas também é fonte de inspiração para artistas do Baixo Tocantins.
Vico Iasi – Belém, PA