23/02/2011 – Jornal Entreposto
Engenheiro agrônomo M. Sc. Gabriel Vicente Bitencourt de Almeida
Centro de Qualidade em Horticultura da CEAGESP
Doutorando do Programa de Horticultura da FCA/UNESP
Os dados coletados pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) em 2008 mostram que o mundo produziu mais de 19 milhões de toneladas de abacaxi. O Brasil, primeiro produtor mundial, colheu naquele ano 2,5 milhões de toneladas, o que significa 13% de tudo que foi produzido no mundo. O Brasil é seguido bem de perto pela Tailândia e Filipinas, cada um destes países asiáticos colheu aproximadamente 2,3 milhões de toneladas.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que contabiliza a produção em número de frutos (infrutescências) e não em toneladas, registrou no ano de 2008 a produção brasileira como 1,7 bilhões de frutos de abacaxi, o que significa mais de oito abacaxis para cada brasileiro. O maior estado produtor é a Paraíba que colheu 345 milhões de frutos, seguido de Minas Gerais (265 milhões), Pará (261 milhões), Bahia (170 milhões), Ceará (100 milhões), Rio Grande do Norte (91 milhões) e São Paulo (70 milhões).
Os dados das notas fiscais recolhidas na portaria do ETSP (Entreposto Terminal São Paulo) da CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo, são a fonte de informação do SIEM (Sistema de Informação e Estatística) da SEDES (Seção de Economia e Desenvolvimento), que registrou em 2010 no ETSP (Entreposto Terminal de São Paulo) 27,6 milhões de abacaxis ?Pérola? e 9,3 milhões de abacaxis ?Smooth Caynne? que é popularmente muito mais conhecido como ?Havaí? ou ?Havaiano?. Os números do ?Pérola? foram menores que os de 2009, quando foram vendidos 30,9 milhões de frutos, uma redução de 7% no volume de um ano para o outro. O ?Havaí? teve um ligeiro crescimento de 5% em 2010 sobre a quantidade de 2009, ano em que foram comercializados 8,8 milhões de frutos no entreposto paulistano.
A comercialização no ETSP corresponde a dez ou doze por cento do total da produção brasileira, números nada desprezíveis. Se considerarmos os pesos médios dos abacaxis brasileiros levantados pelo extensionista da EMATER da Paraíba, Leôncio da Costa Vilar, a comercialização no ETSP em 2010 equivaleu, em uma aproximação grosseira, a 43 mil toneladas de ‘Pérola’ e 22 mil toneladas de ‘Smooth Caynne’ ou ‘Havaí’.
Dezessete unidades da federação e mais de duzentos municípios enviaram abacaxis em 2010, mas poucos estados e municípios foram responsáveis pela maior parte do abastecimento.
Os principais estados fornecedores de ‘Pérola’ ao ETSP da CEAGESP foram o Pará, com 6,7 milhões de abacaxis o (24,2% do total), a Bahia com 4,8 milhões de frutos (17,2%), a Paraíba com 4,1 milhões (14,8%), o Tocantins com 3,5 milhões (12,7%), Minas Gerais com 2,6 milhões (9,5%), o Rio de Janeiro com 2,1 milhões (7,7%) e o Rio Grande do Norte com 1,6 milhões (6% do total). Observando os dados de 2007, 2008, 2009 e 2010, constata-se que o Pará ultrapassou o Tocantins como principal origem do primeiro semestre. O motivo foi o avanço da Fusariose, principal doença da cultura do abacaxi sobre as lavouras tocantinenses. No entanto, diversos estudos feitos pelo Centro de Qualidade em Horticultura da CEAGESP mostram que no geral, a qualidade dos frutos tocantinenses é superior a dos produzidos no Pará, principalmente quanto ao formato, são mais cilíndricos e apresentam menor ocorrência de um distúrbio fisiológico conhecido como ?mancha chocolate?, que são áreas aquosas e de cor de chocolate na polpa, o que permite uma colheita de frutos mais maduros no Tocantins. De maneira geral os abacaxis do Pará são excessivamente cônicos e são colhidos imaturos para diminuir a ocorrência de distúrbios fisiológicos e para uma melhor resistência ao transporte a granel. Em tese, esta nova conjuntura poderá abrir novas oportunidades aos estados nordestinos que através do uso da irrigação podem esticar sua safra para o primeiro semestre do ano, o que já está acontecendo em pequena escala, sobretudo no Rio Grande do Norte. Também chama atenção também o grande crescimento da Bahia e do Rio de Janeiro na oferta de abacaxi Pérola do entreposto paulistano.
Em 2010, cento e noventa atacadistas do ETSP comercializaram abacaxis, mas apenas dez foram responsáveis por mais de cinquenta por cento do volume. A maior parte das cargas ainda chega a granel, com capim entre as camadas de frutos e cobertos por uma lona. A descarga de abacaxi é das mais demoradas, o caminhão ocupa o espaço por várias horas e o capim descartado e os frutos amassados contribuem bastante para o total do lixo produzido no entreposto.
A oferta de abacaxi nos estados que fornecem ?Pérola? ao ETSP da CEAGESP é concentrada em poucos municípios ou regiões. No Pará os municípios de Floresta e Conceição do Araguaia são os dois fornecedores. No Tocantins a maior parte das lavouras está ao redor de Miracema do Tocantins. A produção paraibana esta próxima ao município de Sapé e da região do litoral. Os abacaxis baianos chegam à maior parte de Itaberaba, os potiguares de municípios próximos a Touros, os mineiros ao redor de Frutal e os fluminenses da região de Campos dos Goytacazes.
A oferta durante o ano flutua com a origem. No primeiro semestre, principalmente a partir de fevereiro, há um grande domínio de dois estados da Região Norte, Pará e Tocantins. Na virada do primeiro para o segundo semestre é a região de Itaberaba na Bahia a principal fornecedora e de setembro em diante a maior força são os nordestinos Paraíba e Rio Grande do Norte e os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.
O ‘Smooth Caynne’ possui duas origens principais, São Paulo com 64% do volume e Minas Gerais com 36%. Guaraçaí, no extremo noroeste de São Paulo e seus municípios vizinhos Mirandópolis e Murutinga do Sul, no extremo noroeste de São Paulo são a principal origem dos abacaxis paulistas. Os frutos mineiros chegam da região de região de Canápolis no Triângulo Mineiro. Nos últimos anos tem sido constante a diminuição dos volumes do abacaxi havaiano no ETSP da CEAGESP, todavia com ligeiro acréscimo em 2010. Embora esta variedade tenha a capacidade de produzir frutos deliciosos e com ótimo equilíbrio entre açúcares e acidez quanto colhidos no verão, os frutos costumam ser muito ácidos no inverno. A equivocada prática de colher estes abacaxis no inverno para se aproveitar momentos de bons preços, acabou criando uma imagem muito negativa do cultivar na mente dos consumidores que atualmente preferem o ‘Pérola ‘, que embora tenha menos açúcar que o ‘Smooth Caynne’, produz frutos de baixa acidez.
A busca pelo consumidor, que quer produtos saborosos está trazendo uma grande mudança na comercialização de abacaxis: o embalamento na origem. São inúmeras as vantagens,o frutos podem ser colhidos mais maduros e mais saborosos, porque não precisam resistir ao transporte a granel, a carga e a descarga são muito mais rápidas ajudando a desafogar o tumultuado entreposto de São Paulo e o produtor pode fixar sua marca na cabeça dos varejistas e consumidores finais. Numa estimativa, pode-se dizer que mais de dez por cento do abacaxi comercializado na CEAGESP já vem embalado na origem e as mudanças costumam ser rápidas, quando iniciadas no setor de frutas e hortaliças.
A comercialização no entreposto paulistano é um ótimo retrato da produção brasileira de abacaxi, pois ela concentra mais de 10% da produção brasileira, abriga uma grande diversidade de origens, atende a uma das populações mais exigentes do país e é aqui que as mudanças importantes começam.