Durante quatro ou cinco meses do ano, o caju é a fruta que mais dá no Nordeste. Isso porque o cajueiro resiste bem à seca e produz justamente quando mais falta água. O verde que se destaca na paisagem é o que dá sustento para o nordestino nos meses mais secos do ano.
Na área de transição entre o cerrado e o semiárido, em períodos de estiagem, a vegetação perde as folhas e fica com uma aparência morta. Esse é um mecanismo de defesa das plantas para aguentar a falta de chuva e a temperatura que gira em torno dos 40ºC. O curioso é que, justamente nessa época, o cajueiro coloca para fora todo o seu esplendor, com suas folhas verdes e frutos coloridos. Noventa por cento da produção brasileira de caju sai de áreas impróprias para o desenvolvimento de outras lavouras, segundo cálculos do agrônomo Jaime Cavalcanti, da Embrapa Agroindústria Tropical, com sede em Fortaleza. “Nessa época do verão, que vai de setembro até dezembro ou janeiro, o pessoal não tem nenhuma outra renda, não tem o que fazer no campo. Ele não deixa o nordestino na mão. Então, eu comparo à poupança: o rendimento é pouco, mas é seguro”, explicou Cavalcanti.
Nativo do Nordeste, o cajueiro foi eleito pelo governo do Piauí como a planta certa para estimular a economia nas pequenas propriedades. Em seis anos, já foram distribuídos perto de oito milhões de mudas.
A Fundação Banco do Brasil e o Sebrae também participam do fortalecimento da lavoura do caju em nove municípios na região de Picos.
É pela BR-020, que liga o sudeste do Piauí a Fortaleza, no Ceará, que se chega à maioria das pequenas propriedades rurais envolvidas com a produção de caju. São 530 agricultores ligados à Cocajupi, a Central de Cooperativas dos Cajucultores do Piauí, criada para intensificar as atividades junto aos produtores familiares.
Hoje, por exemplo, é dia de colheita no sítio da família Rodrigues, onde estão Sebastião, Socorro e o Carlos, o filho caçula do casal, que, ao contrário dos seus dois irmãos, não teve que ir para a cidade procurar uma vida melhor. “O negócio do caju na região melhorou bastante. Eu já me queixei mais da roça. Hoje, eu não tenho tanta queixa porque o caju está com um preço bom e dá para a gente ir vivendo”, disse.
“A agricultura que a gente cultivava era o feijão, a mandioca, o milho. Quando eu era pequeno, a gente pegava castanha e plantava. Meu pai brigava que ocupava espaço das outras agriculturas e arrancava. Ele não gostava. Depois, quando apareceu esse incentivo do governo, foi se expandindo e hoje em dia só se fala no caju”, lembrou Sebastião.
Como o trabalho nos 15 hectares de caju depende do esforço familiar, Socorro se desdobra para dar conta dos afazeres. ?Eu batalho bastante. Cuido da casa e da roça?, disse. Depois da colheita do dia, que acaba cedo por conta do sol quente, a família se reúne para separar a castanha do pedúnculo, como é chamada a parte que serve para suco. “O campeão para fazer esse serviço na família é o pai”, apontou Carlos. É que Sebastião tem uma técnica especial para fazer o serviço. Com uma linha de pesca, ele dá uma voltinha na base da castanha, um puxão e pronto.”A castanha e o caju ficam bem limpinhos. Não amassa o caju e ele não perde água. Quando está um pouco mole, o caju perde bastante água porque aperta para poder conseguir. A linha tira o caju sem nenhum problema”, explicou.
Os incentivos que ocorreram no campo e, consequentemente, a maior oferta de caju pela região, despertaram o interesse de empresários que transformam fruta em suco. Quatro fábricas foram instaladas. Só uma delas deve comprar algo em torno de 3,6 milhões de quilos de caju dos pequenos produtores.
“O pequeno produtor cuida bem e zela pela lavoura. Eles começam cedo a colher o caju e trazem a fruta fresquinha. Não dá tempo de a fruta deteriorar e ficar muito mole. O suco de caju tem uma ótima aceitação no mercado. Só se compara ao maracujá, que é muito bem vendido. São dos dois sucos que mais tem saída no mercado”, justificou Adailton Luís Correia, gerente da indústria. O caju que cai do pé e resseca não serve para suco. A castanha, que não estraga fácil, será separada e vendida. O pedúnculo que murchou também tem destino certo.
O trabalho com os pequenos produtores estimula o uso do caju como um todo. Enquanto, no Brasil, 90% do pedúnculo se perde no campo, os agricultores da Cocajupi conseguem aproveitar algo em torno de 60%.
Na propriedade de Sebastião Francisco de Souza, o pedúnculo entra como principal ingrediente na ração para os animais. “Hoje, quem produz caju sabe o tanto de bicho que pode criar. Se for aumentando o plantio de caju, ele pode aumentar a quantidade de animais”, disse. Duas vezes ao dia, de manhã e à tarde, basta ouvir o barulho do triturador que o gado já encosta à espera da comida.
Na composição, são colocados 20% de mandioca, seja da raiz ou da maniva, devidamente secas para evitar a intoxicação dos animais, 20% de milho, e 60% de caju, um alimento rico em ferro, cálcio e fibras. Com a ração pronta, basta seu Francisco se aproximar que as ovelhas vão em disparada. No outro piquete, as vacas também aprovam a mistura.
Seguindo o que ocorre com a produção nacional de caju, os agricultores da Cocajupi também têm na castanha sua principal fonte de renda. Neste ano, a produção deve atingir 750 mil quilos, que serão beneficiados nas oito mini-fábricas espalhadas pela região.