Um líder pode ser descrito como uma figura à frente de um grupo, que, a partir de motivações nobres ou de antevisões, ele conduz para determinados objetivos comuns, modificando o estado de algo e deixando legados como obra e inspiração. É sempre alguém capaz de exercer influência.
A humanidade teve seus líderes, como Winston Churchill, o primeiro-ministro do Reino Unido que liderou os Aliados contra
o Eixo, livrando o Ocidente do fascismo e do nazismo. A democracia liberal deve muito a ele. A América também teve seus líderes. O Brasil teve seus líderes. O Fundecitrus teve seus líderes.
Repare a opção pelo tempo verbal, “teve”, no pretérito. Por quê? Porque só o tempo chancela a liderança. Nem todo primeiro-ministro é líder. Nem todo presidente é líder no sentido exato de impactar positivamente. Não se pode confundir líder com chefe, nem com
gênio. Líderes têm a capacidade de quebrar paradigmas, de mudar o rumo da história.
Roberto Rodrigues, tanto por avanços agronômicos quanto pelo trabalho de fomento e organização de cooperativas, e Alysson Paolinelli, pelo seu papel fundamental na estruturação da Embrapa, são lideranças marcantes do agronegócio brasileiro. A citricultura brasileira teve três líderes incontestes, que romperam com o modelo tradicional: Edmond van Parys, José Cutrale Júnior e Carl Fischer. O primeiro inovou na forma de produzir. Os outros dois inovaram principalmente ao operarem plantas industriais, eles
alavancaram o setor e fizeram o Brasil se tornar referência em suco de laranja. Em tempo: é impossível falar em planta industrial sem citar o engenheiro Jacques Benchetrit, que as projetou. O empreendedorismo é muito, mas não é tudo em uma citricultura tropical, repleta de desafios fitossanitários. Como faríamos sem líderes na pesquisa e transferência de tecnologia como Sylvio Moreira, Álvaro Santos Costa, Victoria Rossetti, Ody Rodrigues, Eurípedes Malavolta, Antônio Violante Neto, Santin Gravena, Walkmar Pinto Brasil, Joaquim Teofilo Sobrinho, Luiz Carlos Donadio e José Roberto Postali Parra? E como faríamos sem um líder do quilate
de Joseph Marie Bové, que acertou todas as suas previsões em relação ao greening antes que a doença sequer tivesse sido identificada no Brasil? Bové estabeleceu o tripé de manejo do greening (plantio de mudas sadias, eliminação de plantas doentes e controle do inseto vetor), que depois evoluiria para os dez mandamentos, convocou o setor para o controle conjunto, era aficionado pelo compartilhamento do conhecimento. No Fundecitrus, lutou pela capacitação dos profissionais e pela ampliação dos laboratórios, criou a área de biotecnologia, a mais promissora para o desenvolvimento de soluções duradouras contra o greening. Mas nada disso seria possível sem o entendimento dos líderes da instituição. Ademerval Garcia, Osmar Bergamaschi e Lourival Carmo Monaco, dentre outras, foram lideranças importantes para o Fundecitrus, que, por sua vez, é fundamental para a citricultura. Não é autoelogio. É um reconhecimento da cadeia produtiva e da comunidade científica internacional.
Falecido em 29 de novembro de 2024, aos 90 anos, Monaco tem de ser lembrado pelo legado vasto e variado: o fortalecimento dos
departamentos de pesquisa e de educação profissional, a implementação da Pesquisa de Estimativa de Safra (PES) e do Inventário de Árvores, a constituição e o aprimoramento do Alerta Fitossanitário, hoje Alerta Psilídeo, a elaboração do programa Citricultura Sustentável. Entusiasta da tecnologia, incentivou todas as ferramentas digitais que ajudam a orientar o citricultor. Era um homem simples e íntegro, à frente de seu tempo em muitas questões, como sustentabilidade e tecnologia, que ele entendia como complementares, a segunda favorecendo a primeira. Era apaixonado pela ciência e pelo agronegócio, sempre com visão social,
buscando compreender o citricultor dentro de suas condições geográficas, históricas e culturais. É daquelas pessoas que deixam saudade. Sorte a nossa que, junto dela, deixa também uma herança muito valiosa: a melhoria da instituição, cujo propósito único é servir ao setor. Ainda bem que pudemos homenageá–lo em vida por toda a contribuição, voluntária, concedida à citricultura brasileira.
Fonte: Revista do Citricultor.