Autores: Fábio Gelape Faleiro e Nilton Tadeu Vilela Junqueira
(Pesquisadores da Embrapa Cerrados)
Os maracujás (Passiflora L.) são acometidos por várias doenças e, entre as mais sérias, estão aquelas que danificam as raízes e o sistema vascular das plantas, por não possuírem controle químico, nem outras estratégias de manejo eficientes. Os fungos Fusarium oxysporum f. sp. passiflorae e Fusarium solani causam, respectivamente, o entupimento do sistema vascular e a podridão das raízes, levando à morte prematura das plantas.
A ocorrência dessas doenças faz com que muitos produtores deixem de investir na cultura do maracujazeiro, considerando que as plantas morrem no início do seu período produtivo. Esse fato reduz drasticamente a produtividade e longevidade das plantas, fazendo com que os produtores tenham grandes prejuízos considerando o alto investimento na implantação e condução do pomar.
Há muito tempo, a busca de tecnologias para o manejo dessas doenças causadas por Fusarium tem sido trabalhada pelas equipes técnicas da Embrapa e parceiros como uma importante demanda para a pesquisa. Entre as tecnologias mais promissoras para o manejo dessas doenças, o desenvolvimento de cultivares de espécies silvestres para uso como porta-enxertos tem recebido atenção das pesquisas nos últimos anos.
Entre as atividades de pesquisa realizadas pela Embrapa e parceiros, pode-se destacar: a) identificação de espécies silvestres de maracujás resistentes à fusariose; b) realização de cruzamentos intra e interespecíficos, seleção e recombinação de genótipos promissores; c) testes de compatibilidade fisiológica com o maracujazeiro-azedo comercial (Passiflora edulis L.) para produção de mudas enxertadas; d) otimização dos métodos de produção de mudas enxertadas; e) realização de bioensaios e validação em áreas comerciais com histórico de ocorrência de fusariose; f) estabelecimento da logística de produção de sementes e mudas das cultivares desenvolvidas.
Essas atividades de pesquisa citadas acima foram realizadas ao longo das fases I, II, III, IV e V do projeto “Caracterização e uso de germoplasma e melhoramento genético do maracujazeiro (Passiflora spp.) assistidos por marcadores moleculares”.
Na fase I, foram realizados os primeiros experimentos na Embrapa Cerrados envolvendo a identificação e o uso de espécies silvestre e híbridos inter-específicos como porta-enxertos de maracujazeiro azedo. Na fase II, resultados animadores foram obtidos com a avaliação em condições comerciais de seleções de Passiflora phoenicea no Rio de Janeiro em parceria com a Pesagro-Rio e Instituto Federal Fluminense.
Na fase III, avanços importantes foram obtidos na tecnologia de produção de mudas enxertadas e na avaliação de seleções de Passiflora nitida e Passiflora alata em áreas com histórico de ocorrência de fusariose no Mato Grosso em parceria com a Cooperativa Agropecuaria Mista Terranova Ltda. Na fase IV foram realizados trabalhos de validação das cultivares selecionadas nas fases anteriores do projeto em outras regiões do Brasil.
Observou-se que as cultivares selecionadas na região de Mata Atlântica (Rio de Janeiro) e nas regiões de transição do Cerrado com a Amazônia (Mato Grosso) não tinham a mesma eficiência em áreas do Cerrado do Planalto Central e do Semiárido, possivelmente devido à ocorrência de diferentes isolados de Fusarium e de diferentes condições edafoclimáticas nas diferentes regiões. Diante desse resultado, foi selecionada uma nova cultivar da espécie Passiflora foetida para as condições do Cerrado e Semiárido em parceria com a Universidade Federal do Semiárido.
Na fase V do projeto (em andamento) foi realizada a finalização tecnológica das quatro cultivares de maracujás silvestres para uso como porta-enxertos resistentes à fusariose, as quais foram registradas no Ministério da Agricultura e Pecuária.
A realização dos primeiros ciclos de seleção e recombinação ocorreram em 1998, utilizando acessos e populações de Passiflora phoenicea Lindl. que ocorriam naturalmente em áreas com histórico de fusariose no estado do Rio de Janeiro. No início do desenvolvimento da cultivar, pensava-se que se tratavam de acessos da espécie P. alata, mas que após a revisão taxonômica, foram classificados como P. phoenicea.
As atividades de avaliação da nova cultivar foram realizadas em Bom Jesus do Itabapoana por meio de um trabalho de parceria entre Embrapa, Pesagro e Instituto Federal Fluminense (IFF). A cultivar foi registrada (RNC Nº 54880) com base nas avaliações positivas do desempenho agronômico de mudas enxertadas realizadas em áreas de produtores assistidos pela Embrapa, Pesagro e IFF com histórico de ocorrência de fusariose.
A realização dos primeiros ciclos de seleção e recombinação ocorreram em 2008, utilizando acessos e populações de Passiflora nitida Kunth. que ocorriam naturalmente em áreas com histórico de fusariose no Norte do estado de Mato Grosso. Cultivar registrada (RNC Nº 54599) com base nas avaliações positivas de desempenho agronômico de mudas enxertadas realizadas em áreas da Coopernova e de produtores associados com histórico de ocorrência de fusariose.
A realização dos primeiros ciclos de seleção e recombinação ocorreram também em 2008, utilizando acessos e populações de Passiflora alata Curtis que ocorriam naturalmente em áreas com histórico de fusariose no Norte do estado de Mato Grosso. Cultivar registrada (RNC Nº 54600) com base nas avaliações positivas de desempenho agronômico de mudas enxertadas realizadas em áreas da Coopernova e de produtores associados com histórico de ocorrência de fusariose.
A realização dos primeiros ciclos de seleção e recombinação ocorreram em 2008, utilizando acessos e populações de Passiflora foetida L. que ocorriam naturalmente em áreas com histórico de fusariose no estado do Rio Grande do Norte. Atividades de avaliação do desempenho agronômico de mudas enxertadas foram realizadas em áreas da UFERSA e Embrapa Cerrados, além de áreas de produtores de maracujá dos estados do Rio Grande do Norte, Bahia com histórico de ocorrência de fusariose. Com base nos resultados positivos, a cultivar também foi registrada no Ministério da Agricultura e Pecuária (RNC Nº 54598).
Com o registro e lançamento oficial das cultivares de maracujás silvestres para uso como porta-enxertos resistentes à fusariose, a logística de produção e comercialização e sementes e mudas enxertadas vai ser estabelecida para diferentes regiões do Brasil pela Embrapa e os respectivos parceiros no desenvolvimento de cada cultivar.
Também será trabalhado o licenciamento-credenciamento de produtores de sementes e de viveiristas produtores de mudas enxertadas com garantia de origem genética e com qualidade fitossanitária e fisiológica cujo contato poderá ser obtido na Página de Cultivares da Embrapa.
Para subsidiar a escolha da melhor cultivar de porta-enxerto, os trabalhos de validação das cultivares nas diferentes regiões, estados e áreas comerciais com histórico de ocorrência de fusariose terão continuidade e serão ampliados, na expectativa de amenizar o sofrimento dos produtores de maracujá com a fusariose.
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