TODAFRUTA – Qual a importância econômica para o Brasil do cultivo do caqui?
AURI BRACKMANN – A produção brasileira de caqui (Diospyrus kaki L.) tem crescido nos últimos anos, tendo em vista os elevados rendimentos que a cultura proporciona, com a área plantada superior a 8.000 hectares (IBGE, 2012). Uma das principais cultivares de caquizeiro produzida é a Fuyu, que apresenta características como frutos sem sementes, polpa branco-amarelada, sabor adocicado, sem adstringência, com baixa acidez e epiderme amarelo-avermelhada. Apesar dos aumentos tanto na oferta quanto na demanda de caquis no mercado, nos últimos anos, uma maior expansão na produção não tem ocorrido devido aos problemas ocasionados pela falta de tecnologias capazes de manter a oferta do produto por um longo período. A concentração da colheita em um curto período de tempo, associada ao uso de poucas cultivares e à incidência de distúrbios fisiológicos em pós-colheita são alguns dos principais entraves na expansão desta cultura.
TODAFRUTA – Como melhorar a oferta do produto por um longo período?
AURI BRACKMANN – O uso do armazenamento, principalmente em atmosfera controlada e em temperaturas próximas a 0 °C, tem apresentado resultados promissores na conservação de caquis por um longo período. O uso do 1-MCP também apresenta bons resultados, mas, é uma técnica que deve ser utilizada de forma complementar à atmosfera controlada.
TODAFRUTA – No trabalho publicado,os autores comentam que o caqui é uma fruta climatérica, poderia explicar o que é uma fruta climatérica e uma não climatérica?
AURI BRACKMANN – Frutos climatéricos são aqueles que continuam seu processo de amadurecimento após serem destacados da planta-mãe. Além disso, a exposição desse tipo de fruto, após colhido, ao hormônio etileno causa um aumento irreversível em sua atividade respiratória, o que acelera sua perda de qualidade após a colheita. Já os frutos não climatéricos são aqueles que não continuam seu processo de amadurecimento após serem colhidos. A principal implicação disso é que eles deverão ser colhidos no ponto ideal de consumo e possuem pouca resposta aos métodos tradicionais de armazenamento, principalmente em atmosfera controlada.
TODAFRUTA – Qual a importância do caqui ter uma baixa taxa de produção de etileno, e suas consequências na conservação das frutas?
AURI BRACKMANN – O caqui tem uma baixa taxa de produção de etileno, mas também uma alta sensibilidade a este hormônio, o que quer dizer que o pouco etileno produzido pelo fruto é o suficiente para acelerar sua maturação.
TODAFRUTA – Qual a importância do AVG e do 1-MC, na maturação do caqui?
AURI BRACKMANN – O AVG é um composto que inibe a atividade de uma enzima responsável por formar o etileno, o hormônio responsável pelo amadurecimento, nas células dos frutos. Com a menor formação de etileno pelo fruto, há uma diminuição na velocidade com que ocorre o seu processo de amadurecimento, podendo, com isso, retardar-se a colheita e, em alguns casos, favorecer o armazenamento. Já o 1-MCP liga-se ao local onde ocorre a ação do etileno, impedindo que esse hormônio exerça sua função, ou seja, ele retarda o processo de amadurecimento.
TODAFRUTA – O objetivo do trabalho publicado na Revista Brasileira de Fruticultura foi “avaliar o efeito da aplicação de AVG, em pré-colheita, e do 1-MCP, em pré e pós-armazenamento, sobre a manutenção da qualidade pós-colheita e seu efeito na incidência de distúrbios em caquis Fuyu armazenados em atmosfera controlada a -0,5 ºC e transferidos à condição de ambiente.” O que é pré-colheita?
AURI BRACKMANN – Pré-colheita significa que o produto foi aplicado antes da colheita, quando os frutos ainda ligados à planta estavam em crescimento.
TODAFRUTA – O que é pré e pós-armazenamento?
AURI BRACKMANN – Pré-armazenamento é o período entre a colheita do fruto e seu armazenamento em câmaras frigoríficas. Pós-armazenamento é o período após o término do armazenamento em câmaras frigoríficas.
TODAFRUT – Comenta-se no trabalho que “segundo Ben-Arie (1995), a firmeza da polpa mínima recomendada para o consumo in natura de caquis Fuyu é de 20 N.” O que é 20 N? No mercado, qual é a firmeza da polpa nos caquis comercializados?
AURI BRACKMANN – N (lê-se newton) é uma unidade de medida de força. Nesse caso, é a quantidade de força necessária para que um êmbolo de 9 mm de diâmetro do penetrômetro, equipamento que mede a dureza da polpa, consiga penetrar no fruto. A firmeza de polpa dos caquis comercializados varia muito em função da condição em que os frutos se encontram. Frutos recém-colhidos possuem uma firmeza de polpa geralmente maior que 60 a 70 N, enquanto que, com o passar dos dias na prateleira, essa firmeza vai se reduzindo até chegar a valores muito baixos, em torno de 10 N, quando os caquis encontram-se totalmente moles. A maioria dos consumidores prefere frutos firmes, mas muitos gostam de frutos com polpa fundente.
TODAFRUTA – Muitos produtores recomendam para o uso doméstico colocar vinagre para acelerar a maturação, isso está correto?
AURI BRACKMANN – O vinagre contém ácido acético, que, absorvido pelo fruto, poderá ser transformado em etanol, que é um composto que serve para destanizar o caqui e ao mesmo tempo acelerar sua maturação. Como normalmente só se deseja destanizar o caqui e manter a sua firmeza da polpa, é melhor usar um tratamento de 24 horas com gás carbônico numa concentração de 70%.
TODAFRUTA – Um receio dos consumidores é o de ingerir produtos sem emprego de químicos. Como se comporta o caqui com a aplicação do AVG e do 1-MCP?
AURI BRACKMANN – O AVG é muito usado em maçãs, mas em caqui ainda está em fase de teste. Por isso, ainda não tem registro para o caqui no Brasil. Na aplicação de qualquer produto químico no pomar ou pós-colheita, é sempre importante que o fruticultor siga as recomendações, como o período de carência e a dose recomendada pelo fabricante. Essas recomendações são regulamentadas pelos Ministérios da Agricultura e da Saúde, para que não haja nenhum tipo de contaminação e o resíduo do produto esteja dentro do limite tolerável. O 1-MCP é um composto gasoso liberado para aplicação em diversas frutas, inclusive o caqui, na câmara de armazenagem e considerado de baixa toxicidade. Além disso, se ele for aplicado antes do armazenamento, ele será totalmente metabolizado pelo fruto até que esse chegue ao consumidor.
TODAFRUTA – O que falta fazer para que o AVG e o 1-MCP, venham a ser utilizados em larga escala pelos produtores de caqui?
AURI BRACKMANN – Primeiramente deve haver o entendimento, por parte dos produtores e armazenadores, de que essas técnicas realmente apresentam resultados satisfatórios, como é o caso do uso de 1-MCP no nosso trabalho. Por outro lado, a ampla divulgação dos resultados aos produtores e outros agentes envolvidos na cadeia produtiva pode auxiliar esse processo. O uso do AVG deve ser melhor estudado, pois, no nosso trabalho, seu efeito no controle da maturação do caqui foi relativamente pequeno quando comparado com o do 1-MCP.
TODAFRUTA – Que outros comentários o senhorar gostaria de fazer?
AURI BRACKMANN – Na conservação do caqui também a temperatura e a umidade relativa da câmara devem ser bem controladas, pois excesso de umidade pode aumentar o escurecimento da epiderme. Outros fatores de campo (nutrição, defensivos, clima) podem influenciar na manifestação de distúrbios, que são frequentes durante a comercialização do produto, quando este fica exposto à temperatura ambiente.
* Para ter acesso ao trabalho citado, acesse: http://www.scielo.br/pdf/rbf/v35n4/a05v35n4.pdf