O Engo Agro Vitor Carvalho, da Fazenda Jaguacy, situada em Bauru, SP, fez recentemente uma viagem à África do Sul, onde visitou várias propriedades dedicadas à cultura do abacate. Ele é um especialista no assunto e tem contribuído para o progresso da abacaticultura brasileira, uma vez que a Jaguacy, fundada em 1975, acumula mais de 40 anos no cultivo de diferentes variedades da fruta e é hoje dedicada à produção e à venda de avocado. Na entrevista a seguir – valiosa sugestão do Prof. Dr. Aloisio Costa Sampaio, da UNESP/Bauru – ele relata suas impressões sobre a cultura do abacate sul-africana.
TODAFRUTA – Qual a área cultivada com abacate na África do Sul, quais as regiões produtoras e as variedades cultivadas?
Vitor – A África do Sul é um país muito seco, com recursos hídricos limitados. Algumas áreas com microclima diferenciado, por questão de chuvas orográficas, conseguem reter água em represas, onde fazem os projetos de irrigação. As chuvas acontecem predominantemente no verão. As regiões para cultivo de frutas ocorrem do norte ao sul do país, em áreas muito limitadas. Em função de haver no país quatro a cinco regiões para cultivo do abacate espalhadas em diferentes latitudes e altitudes, consegue-se produzir de março a outubro. As variedades predominantes são respectivamente Hass, Fuerte, Pinkerton e Ryan.
TODAFRUTA – Dê uma breve descrição das variedades utilizadas na África do Sul, como copa e porta-enxertos.
VITOR – Os porta-enxertos, em sua maioria, são clonados, com o objetivo de que carreguem características de maior tolerância à Phythophtora cinamommi, causadora da podridão radicular. A maioria dos solos é de latossolo vermelho com alto teor de argila, o que favorece o aparecimento dessa doença. As variedades produzidas são diferentes das largamente cultivadas no Brasil, por serem menores e com maior aceitação nos mercados internacionais. No Brasil, essas variedades são chamadas de avocado em vez de abacate. São variedades mais ecléticas quanto à culinária (consumo tanto doce como salgado), além de terem maior vida de prateleira.
TODAFRUTA – O abacate se caracteriza pela dicogamia, apresentando maturação dos órgãos sexuais em períodos diferentes, sendo por isso aconselhável o plantio de variedades do grupo A e do grupo B, para garantir uma boa polinização. Como é esse comportamento nas lavouras visitadas?
VITOR – Eles não levam a sério a questão de intercalar variedades. O que recomendam é o uso de abelhas para aumentar o pegamento de frutos.
TODAFRUTA – Quais os porta-enxertos utilizados, para fins específicos como controle de nematoides e podridões de raiz, e qual o tipo de enxertia predominante?
VITOR – Os porta-enxertos utilizados são Dusa e Bounti. A enxertia é a de garfagem cheia.
TODAFRUTA – Poderia listar alguns viveiros sul-africanos que produzem as variedades Fuerte e Hass e que utilizam uma excelente seleção de matrizes para esse fim?
VITOR – Acho que a empresa Westfalia é a líder desde a produção de mudas até a produção e comercialização no país, seguida por Univeg, Halls e ZZ2, além de outras.
TODAFRUTA – Qual a vida econômica de um pomar e suas respectivas produtividades?
VITOR – Isso depende um pouco do país (clima) em que está sendo produzido, além dos tratos culturais que a planta recebe durante a vida, mas em geral é de 25 a 40 anos. A produtividade satisfatória para os produtores é de 15 toneladas por hectare.
TODAFRUTA – A Fazenda Jaguacy desenvolve um projeto de parceria com pequenos produtores. Estes recebem orientação técnica para produzir e assinam um contrato garantindo a comercialização pela Jaguacy, que cobra um percentual por caixa comercializada. Como é esse procedimento na África do Sul?
VITOR – Eles têm um modelo muito parecido ao exercido pela Jaguacy, representando a fruta do produtor nos diferentes mercados.
TODAFRUTA – Quais os principais problemas enfrentados pelos produtores na África do Sul?
VITOR – O maior problema é o da reforma agrária. Antigos proprietários de terras reclamam direito sobre propriedades que hoje estão em produção, as quais pouco a pouco estão sendo recompradas pelo governo e disponibilizadas aos reclamantes.
TODAFRUTA – Qual o destino da produção de abacate da África do Sul?
VITOR – A maior parte é destinada ao mercado europeu, seguido pelo mercado local e, mais recentemente, pelos Emirados Árabes.
TODAFRUTA – Quais as principais diferenças entre a tecnologia utilizada na Fazenda Jaguacy e as utilizadas na África do Sul?
VITOR – Atualmente, pode-se dizer que, em termos técnicos de produção, o Brasil e a África do Sul se assemelham bastante.
TODAFRUTA – A comercialização se restringe a frutas in natura ou também se estende a produtos industrializados?
VITOR – O grande negócio é o de fruta fresca. Porém, o azeite obtido da fruta e a produção de polpa congelada também estão presentes no grupo de produtos comercializados.
TODAFRUTA – Como é prestada orientação técnica aos produtores comparada com o sistema utilizado na Fazenda Jaguacy?
VITOR – Lá a associação de produtores (a SAAGA – South African Avocado Growers’ Association) é muito forte, e toda informação técnica e de mercado provém dessa entidade.
TODAFRUTA – Agora, falando da nossa realidade, quais as principais dificuldades enfrentadas pela Jaguacy em termos de produção? Houve avanços no controle da praga-chave, Stenoma catenifer (broca-do-abacate)? Qual o manejo preventivo adotado em relação à podridão de raiz causada por Phytophthora cinamoni?
VITOR – No caso da Stenoma, tivemos um importante sucesso com a liberação sistemática de Trichogramma. Já o controle da Phythophtora ainda é bastante delicado e complexo. A adição de matéria orgânica, o aumento da drenagem do terreno e a aplicação de fosfito via foliar, injeção no tronco e via ferti, são corriqueiramente usados na tentativa de minimizar essa doença.
TODAFRUTA – Quantos produtores parceiros a Jaguacy tem atualmente e como funciona essa parceria comercial?
VITOR – Atualmente são 29. A parceria funciona da seguinte maneira:
A grande vantagem que acreditamos ofertar ao parceiro é que, por sermos verticalizados em produção, orientação técnica, comercialização e industrialização (fabricamos polpa congelada e azeite), conseguimos fazer com que o produtor se concentre em cultivar de forma segura e sem medo de ter que comercializar por intermédio de atravessadores.
TODAFRUTA – Quais as suas recomendações para um aluno egresso de um curso de graduação e que pretenda ser um bom produtor?
VITOR – Só faça aquilo que realmente lhe desperte paixão. A vida é muito curta para trabalhar com algo que não goste. Se fizer com amor, o resultado virá.
Mais sobre a Jaguacy Brasil
A Jaguacy Brasil atualmente comercializa cerca de 4 mil toneladas de avocado por ano, de produção própria e também de parceiros. Distribui em 20 estados brasileiros e exporta para mais de 20 países. A empresa Iniciou suas atividades em 1975, quando o Engo Agro Paulo Roberto Leite de Carvalho começou a cultivar diversas variedades de abacate, entre elas, o avocado.
O modelo de negócio da Jaguacy é baseado em parcerias com pequenos fruticultores de diferentes localidades paulistas, possibilitando que cultivem a fruta com padrão técnico mais elevado e a comercializem de forma mais vantajosa.
A empresa é detentora do selo GLOBALGAP (inicialmente chamado EUREPGAP), criado em 1997 pela Comunidade Europeia para certificar os agricultores que produzem de acordo com as normas laborais, de segurança alimentar e de proteção ao meio ambiente. A sigla GAP é formada pelas iniciais da expressão good agricultural practices (boas práticas agrícolas).
Outras informações podem ser obtidas no site www.jaguacy.com.br.