Por que a participação do Brasil ainda se mostra tímida nessa cultura?
Simone Rodrigues da Silva – A participação brasileira no mercado mundial ainda é muito restrita principalmente pela baixa produtividade e baixa qualidade dos frutos, decorrentes da falta de condições adequadas de manejo, assistência técnica especializada, desenvolvimento de pesquisa local, além de problemas de logística ao longo da cadeia de comercialização e ausência de uma política nacional para a expansão da cultura.
Quem mais produz abacate no país?
SRS – O estado de São Paulo é o principal produtor, com 82.014 toneladas anuais, que representam 53,9% da produção nacional, seguido de Minas Gerais, com participação de 18,7%, Paraná (10,4%) e a região Nordeste (6,2%). Os pomares de abacateiros estão distribuídos por todo o estado de São Paulo, mas 75% da área total plantada concentra-se em 39 municípios, sendo os principais Mogi-Mirim, Jardinópolis, Bauru, Santo Antônio da Posse, Araras e Tupã.
Mas a produção mostra uma tendência de ascensão?
SRS – Historicamente, o cultivo de abacate no Brasil é descrito como uma cultura de interesse crescente e alto potencial produtivo; no entanto, a produção nacional diminuiu no tempo de 474.538 t em 1990 para 139.089 t em 2009 (-70%).
A que podemos atribuir essa queda?
SRS – Podemos atribuí-la ao interesse dos produtores por culturas de maior rentabilidade, por ser erroneamente considerada uma fruta gordurosa e pelo hábito do brasileiro em consumi-la como sobremesa, batida com açúcar e leite, o que limita sua expansão.
Mas suas características nutritivas podem reverter esse quadro?
SRS – Pesquisas recentes confirmam a alta qualidade nutritiva e nutracêutica do abacate, comprovando seu efeito na redução dos níveis sanguíneos de colesterol ruim (LDL), colesterol total e triglicérides, além de seu efeito no controle da glicemia em pacientes diabéticos. Outros estudos têm sido conduzidos sobre o aproveitamento industrial do abacate para a extração de óleo e álcool utilizados na geração de biocombustível e na fabricação de tintas, cosméticos, medicamentos e alimentos.
Temos potencial para exportar abacate?
SRS – O aumento no preço pago pela fruta nos últimos anos, principalmente as tardias, vem estimulando o plantio de novos pomares em São Paulo e Minas Gerais. O cultivo da variedade de exportação Hass, também conhecida como avocado tem se expandido no estado de São Paulo, permitindo o crescimento expressivo das exportações brasileiras, gerando divisas, emprego e renda por ser ofertada na entressafra do Hemisfério Norte, o que garante bons preços pagos pelo mercado europeu.
Mas esta ainda não é uma realidade?
SRS – Com a intensificação das pesquisas desde 2009, podemos afirmar que o Brasil tem grande potencial de expansão do abacate tanto no mercado interno como no externo, mas para que isso se concretize em médio prazo, é preciso desenvolver campanhas internas de marketing para divulgação de novos modos de consumo da fruta como o uso em saladas, pratos salgados, sanduíches, patês e guacamole.
Como a ESALQ pode contribuir para a expansão dessa cultura?
SRS – Atualmente, no Departamento de Produção Vegetal, desenvolvemos vários estudos direcionados à cultura do abacate. Entre outros, pesquisamos o ciclo fenológico e manejo de Phytophthora em pomares de abacateiro no estado de São Paulo; o uso de vegetação intercalar para obtenção de cobertura morta na cultura do abacateiro visando minimizar os danos causados por Phytophthora cinnamomi; fazemos a avaliação horticultural de porta-enxertos para abacateiro Hass; observamos o uso de reguladores de crescimento vegetal para aumento da produção e o controle do vigor em abacateiros; a aplicação de paclobutrazol (cultar) em primavera para aumento da produção em abacateiro Hass; o efeito de distintos substratos e agentes de controle biológico no desenvolvimento inicial e na sanidade de porta-enxertos de abacateiro em condições de viveiro; e a interferência de espécies de Brachiaria no desenvolvimento inicial de abacateiro.